Para baixar o livro, clique na imagem e selecione-o em:
↓
http://www.projetolivrolivre.com/
---
Disponível também em "GoogleDrive", no link abaixo:
↓
----
MANIFESTO ANTROPÓFAGO E CLAN DO JABUTÍ: O DISCURSO IDENTITÁRIO
BRASILEIRO NO MODERNISMO
[...]
Em Clan do Jabutí, de Mário de
Andrade, o projeto nacionalista é mais explícito se visto em comparação com
Manifesto Antropófago. Utilizando-se do folclore e das matrizes africanas,
indígenas e sertanejas, Mário de Andrade apresenta a idéia de uma identidade
brasileira plural, composta de múltiplas origens e elementos. Para tanto, Mário
de Andrade empreendeu um estudo profundo sobre a cultura popular brasileira e
seu folclore, marginalizados pela elite intelectual do país desde os tempos do
descobrimento. O autor de Macunaíma escolhe essa vertente de pesquisa com o
objetivo de definir as particularidades do que é ser brasileiro e, dessa
maneira, estabelecer as bases de uma corrente estética comprometida com os
valores nacionais. Dentro de um contexto histórico atribulado, sua meta era
instaurar uma discussão profícua sobre o conceito de arte nacional
O próprio título da obra revela a
concepção de variedade na unidade, uma vez que a palavra “clan” traz a idéia do
grupo. Por sua vez, o “Jabutí”, animal que é parente da tartaruga, simboliza a
“brasilidade”.
Que importa que uns falem mole
descansado
Que os cariocas arranhem os erres
na garganta
Que os capixabas e paraoaras
escancarem as vogais?
Que tem si o quinhentos réis
meridional Vira cinco tostões do rio pro Norte?
Juntos formamos este assombro de
misérias e grandezas.
Brasil, nome de vegetal!...
(Mário de Andrade, Noturno de
Belo Horizonte)
Os homens do povo e os hábitos de
diferentes pontos do Brasil são constantemente enfocados na série de poemas que
constitui o livro. Para descrevê-los, Mário de Andrade opta por uma linguagem e
uma musicalidade consideradas típicas da ginga brasileira, sem se esquecer dos
traços que predominam em cada região. Nesse esforço, assonâncias e aliterações
são comuns na tentativa de redefinir o sentido da cultura brasileira popular.
Clan do Jabuti pode ser compreendido, dessa maneira, como uma tentativa de
despertar a nação para os traços da identidade brasileira, enraizada na
tradição popular, ou seja, para a low cult. Antes do Modernismo, os artistas
desejavam acompanhar a produção artística européia, a considerada high cult,
repetindo em suas obras os valores, as realizações estéticas e a modernidade
estrangeira. Os elementos da “brasilidade” eram vistos pejorativamente se
comparados àqueles pertinentes à civilização européia, uma vez que a Europa era
considerada um exemplo a ser seguido pela elite cultural nacional.
Mário de Andrade tenta romper com
este estigma sem descaracterizar o imaginário popular e suas construções
discursivas naquilo que lhe é mais inerente. Para tanto, ele não cria um novo
modelo de identidade nacional, como propõe Oswald de Andrade, mas o readapta a
um modelo nacionalista.. A preguiça, a sensualidade, a etnia do povo brasileiro
são vistos como valores positivos, contrariando o conceito elitista high cult
em vigor. Clan do Jabutí já indica o caminho posteriormente traçado por esse
escritor em Macunaíma, quando sua teoria sobre a identidade brasileira já
estava amadurecida:
Brasil...
Mastigado na gostosura quente de
amendoim...
Falado numa língua curumim
De palavras incertas num
remeleixo melado melancólico...
Saem lentas frescas trituradas
pelos meus dentes bons...
Molham meus beiços que dão beijos
alastrados
E depois remurmuram sem malícia
as rezas bem nascidas...
(...)
Brasil que eu amo porque é o
ritmo de meu braço
aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas
amores e danças.
Brasil que eu sou porque é a
minha expressão muito
engraçada,
Porque é o meu sentimento
pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar
dinheiro, de comer e de
dormir.
(Mário de Andrade, O poeta come
amendoim)
Assim, segundo Guarilha, o estudo
do conceito de arte nacional continua ainda relevante na atualidade.
Primeiramente, pela importância dele no entendimento da passagem do século XIX
para o século XX e é claro, na construção do discurso identitário brasileiro
enquanto povo feliz, imaginativo e auto-sustentável. Entretanto, o projeto de
uma arte estritamente formada de elementos nacionais nunca foi concretizado.
Nossos artistas modernistas continuaram valendo-se de recursos estéticos também
desenvolvidos por outros estrangeiros, embora de maneira diferenciada e
independente. Posteriormente, com o advento da pós-modernidade e da
globalização, a definição de arte nacional perde sua razão de ser e dá lugar à
produção contemporânea, em que as influências tornam-se múltiplas e muitas
vezes indefiníveis.
Podemos, ainda, encontrar
diferenças formais comparando as duas obras de nosso estudo. Enquanto Mário de
Andrade apresenta seu projeto em um livro de poesias, Oswald de Andrade escolhe
o gênero manifesto . A escolha dos escritores acaba por ressaltar o aspecto
político do Manifesto Antropófago e atenuá-lo em Clan do Jabutí.
[...]
---
Fonte:
Maria Luiza Scher Pereira e Mariana
Moreira Fernandes Barata: “Manifesto Antropófago e Clan do Jabutí: o discurso
identitário brasileiro no modernismo”. Revista Gatilho. Ano III - Volume 5 -
julho 2007. Disponível em: http://www.ufjf.br/revistagatilho
Nenhum comentário:
Postar um comentário