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Cantilena do velho
Oi
gente, que nem parece,
coisa
que nunca se esquece:
andei
de bonde outra vez,
amei,
fumei charuto e bebi.
Quando
nasci disseram: – Ai!
Parti
pelas vidas zoneando,
trupicando
perna em botequim,
qu’esqueci
do boníssimo Pai.
Voltei
para ver o que perdi:
rede
carunchada na varanda,
uns
traços à Salvador Dalí
desenha
os seios de Amanda.
Amigos
vão pouco reclamar,
pois
vão me achar leve, leve.
Quem
passa a vida de triscado,
eis
onde Deus não pode tocar.
Boiando
em águas claras bebi,
largando
o lombo ao castigo,
apanhando
quiném cão danado:
cago
solenemente ao inimigo.
E
se deixar o peso tal-e-qual
as
almas sem pecados mantêm,
levando
de carona as putinhas,
levíssimo
dou à porta celestial.
Chora.
Outros filhos hão de vir,
muitos
perecerão nas guerras,
entretanto
morrerão nas camas,
os
filhos que as mães vão parir.
Digo
aos padres e médicos tais,
salvadores
de corpos e almas:
Fodam-se,
fodam-se, fodam-se!
Não
fiz morada em hospitais.
Vou
todo o peso aqui deixar,
amores
inválidos por amar...
Quem
muitos filhos perderá,
mil
outras cruzes herdarão.
Delitos
jamais confessados:
cem
mil retratos amarelados.
Plantei
gozos e desenganos
na
estrada dos setent’anos.
Nenhum
prazer dei a esmo,
talqualmente
a safra do milho,
só
trambolho ao meu mesmo,
Deus
chora a perda do filho.
Se
não contabilizo inimigo,
também
dei trabalho a amigos.
Toneladas
de erros e pecados
morrem
na memória grudados.
[Extraído do livro]
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