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Influências de
Causas da decadência dos povos peninsulares de Antero de Quental na
historiografia sobre poderes locais em Portugal e no Brasil no século XX
Escrito o discurso de Quental em um contexto turbulento é
marcado pela situação de instabilidade político-partidária. Segundo Oliveira
Marques, “de Julho de 1860 a Setembro de 1871 puderam contar-se nove governos,
com a agravante de que o primeiro, teoricamente o mais longo, passou por várias
remodelações” (2006:483).
Assim, de acordo com Oliveira Marques, as “chamadas
«conferências do Casino», realizadas em Lisboa, no Casino Lisbonense, de 22 de
Maio a 26 de Junho de 1871, representaram a primeira grande contestação ao
establishment” (2006:500).
Segundo Sérgio Campos Matos, “o texto da conferência de
Antero de Quental, concebido aos 29 anos, quando o seu autor era simpatizante
de uma República Social ideal” (1998:363) constituiu
uma síntese a partir
da qual se devem compreender alguns aspectos da consciência histórica do
republicanismo – o anticlericalismo, o anti-absolutismo e a valorização do povo
na história – [...] e os prolongamentos do debate já no século XX, no seio do
grupo da Renascença Portuguesa: Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, António
Sérgio e outros” (1998:364).
A Inquisição foi apontada como principal fator do “atraso”
cultural e científico, mas destacou o papel da Igreja católica como instituição
repreensora de novas ideias e como promotora do atraso no qual Portugal se
encontrava em fins do século XIX.
Ainda de acordo com Campos Matos, “nas Causas da
decadência... de Antero de Quental, a lógica dedutiva é levada às últimas
consequências, chegando a aludir-se uma ‘lei da evolução histórica’, que não
passa afinal do encadear de um conjunto de conceitos abstractos numa inexorável
sequência de causa-efeito” (1998:362-363).
Apesar de essa formulação ser a base do pensamento de
Quental, focaremos em um aspecto aparentemente secundário, mas que tornar-se-ia
central no debate historiográfico no século XX: o poder municipal frente à
centralização monárquica.
Antero de Quental apontou que a descentralização
político-administrativa é uma das características basilares dos povos ibéricos,
mesmo antes da sua criação enquanto Estado. Afirmou que
logo na época romana
aparecem os caracteres essenciais da raça peninsular: espírito de independência
local e originalidade de génio inventivo. Em parte alguma custou tanto à
dominação romana o estabelecer-se, nem chegou nunca a ser completo esse
estabelecimento (2010:9).
Dessa forma,
o instituto político
de descentralização e federalismo patenteia-se na multiplicidade de reinos e
condados soberanos, em que se divide a Península, como um protesto e uma
vitória dos interesses e energias locais, contra a unidade uniforme, esmagadora
e artificial. Dentro de cada uma dessas divisões as comunas, os forais,
localizam ainda mais os direitos, e manifestam e firmam, com um sem-número de
instituições, o espírito independente: é, quanto à época o comportava,
singularmente democrático (QUENTAL, 2010:10).
Sobre Portugal e Espanha definiu que “a liberdade era então
estado natural da península” (QUENTAL, 2010:32).
Essa autonomia seria responsável pelo desenvolvimento das
artes e da ciência, que culminariam no destaque que Portugal e Espanha tiveram
no século XV e XVI com as Navegações e descobertas de novos continentes.
Para Quental, as navegações e a atenção dada às Conquistas
foram as razões pelas quais a monarquia, fortalecida pelas riquezas do Oriente
e, posteriormente, com o ouro das Minas Gerais, possibilitou o enfraquecimento
dos poderes municipais.
No entanto o desejo pela de novas terras levou a perda da
independência de Portugal, causada pela crise dinástica gerada pela morte de D.
Sebastião quando da tentativa de conquista do Marrocos.
Assim,
deste mundo
brilhante, criado pelo génio peninsular na sua livre expansão, passamos quase
sem transição para um mundo escuro, inerte, pobre, ininteligente e meio
desconhecido. Dir-se-á que entre um e outro se meteram dez séculos de
decadência: pois bastaram para essa total transformação 50 ou 60 anos! Em tão
curto período era impossível caminhar mais rapidamente no caminho da
perdição (QUENTAL, 2010:15).
O responsável por essa mudança, que levaria à decadência
dos peninsulares, notadamente Portugal, teria sido a União Ibérica. Nem tanto
pela supressão nacional lusitana, mas pelo fato de um monarca, em especial,
Felipe II, sob a Contrarreforma católica, pudesse influenciar toda a península
com sua ideia de fanatismo religioso e, principalmente, de centralização
absolutista.
Por isso, segundo Antero de Quental,
no princípio do
século XVII, quando Portugal deixa de ser contado entre as nações, e se
desmorona por todos os lados a monarquia anómala, inconsistente e desnatural de
Filipe II; quando a glória passada já não pode encobrir o ruinoso do edifício
presente, e se afunda a Península sob o peso de muitos erros acumulados, então
aparece franca e patente por todos os lados a nossa improcrastinável
decadência. Aparece em tudo, na política, na influência, nos trabalhos da
inteligência, na economia social e na indústria, e como consequência de tudo
isto, nos costumes (QUENTAL, 2010:15).
A centralização política e o controle religioso culminariam
com a decadência de Portugal e Espanha. Anuncia que
vamos de século para
século minguando em extensão e importância, até não sermos mais que duas sombras,
dois espectros, no meio dos povos que nos rodeiam!... E que tristíssimo quadro
o da nossa política interior! As liberdades municipais, à iniciativa local das
comunas, aos forais, que davam a cada população uma fisionomia e vida próprias,
sucede à centralização, uniforme e esterilizadora (QUENTAL, 2010:15).
Assim, notadamente em relação aos poderes municipais, “a
centralização monárquica, pesada, uniforme, caiu sobre a Península como a pedra
dum túmulo” (QUENTAL, 2010:33)
Concluiu Antero de Quental, portanto, que “esta causa
[Concílio de Trento e catolicismo] actuou principalmente sobre a vida moral: a
segunda, o absolutismo, apesar de reflectir no estado de espíritos, actuou
principalmente na vida política e social” (2010:31).
[...]
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Fonte:
Fernando V. Aguiar Ribeiro (Doutorando em História Econômica pela Universidade de São Paulo e mestre em História Econômica pela mesma instituição. Bolsista CNPq. Artigo resultante de etapa de doutoradosanduíche realizado em Portugal no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) e financiado pela CAPES - fvribeiro@gmail.com): " Influências de Causas da decadência dos povos peninsulares de Antero de Quental na historiografia sobre poderes locais em Portugal e no Brasil no século XX". Revista Eletrônica Cadernos de História, ano 8, n.° 1, julho de 2013: http://www.ichs.ufop.br/cadernosdehistoria/
Fonte:
Fernando V. Aguiar Ribeiro (Doutorando em História Econômica pela Universidade de São Paulo e mestre em História Econômica pela mesma instituição. Bolsista CNPq. Artigo resultante de etapa de doutoradosanduíche realizado em Portugal no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) e financiado pela CAPES - fvribeiro@gmail.com): " Influências de Causas da decadência dos povos peninsulares de Antero de Quental na historiografia sobre poderes locais em Portugal e no Brasil no século XX". Revista Eletrônica Cadernos de História, ano 8, n.° 1, julho de 2013: http://www.ichs.ufop.br/cadernosdehistoria/
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