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A saudação do peregrino
Jason Carneiro
Poeta,
eu vim para buscar-te
à
lápide invisível que te oculta
sem
te conter – o inútil monumento
à
humana pretensão de atar o vento.
Em
pessoa compareço ao teu espírito
e
nele vejo a noite, dentro dela um curral,
ali
um último boi, uma cidade ao longe
e
um Ford fordejando na descalça rua,
na
alegria da manhã seguinte.
A
mim, Poeta, dói-me o que sou.
Doem-me
as coisas deste mundo, dói-me saber
da
negra solidão que avança sobre os prados
e
sobre as casa, e sobre as almas,
e
sobre mim. Dói-me o tempo
de
estar sem ti num mundo que te esquece
quando
eras, mais que necessário, visceral.
Dói
não seres mais. Onde a tua voz
no
alvoroço deste mundo (e a estrela,
quem
louvará?) perdido? Ó azáfama infecundo,
a
pressa de buscar e ser não sei o quê,
não
sei aonde.
Dói-me
o que fez de si o mundo. Dói-me dormires
em
Sofotulafai, em Tunis, Barbacena,
a
tua gráfica velhice, dói-me o medo
conspurcado
de certeza que cantaste
de
uma morte que, se enfim chegou, pouco pôde contra ti.
Repetir
os versos e as lágrimas e os versos:
eis
o que te posso dar, Poeta, eis o que faço,
humildemente,
a mão buscando a tua,
nos
bergantins dos teus velhos sapatos,
no
teu chapéu sonhador,
no
desvairo, no goivo, no alaúde.
Si
je pouvais à peine prendre ta main,
serias
hoje centenário, e nenhuma neve
ferveria
neste coração que trago e deixo.
(15/04/2001 – Centenário de Abgar
Renault)
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