03/10/2015

A imprensa e o dever da verdade (Discurso), de Rui Barbosa

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A questão da escravidão 

"A medida que a pressão externa e o descontentamento interno iam crescendo, tomava impulso o movimento abolicionista brasileiro, defendendo que o trabalho escravo precisava ser superado, porque se tornara demasiado custoso economicamente, somado a argumentos que brandiam pela liberdade total dos homens modernos. Nas primeiras fileiras da batalha travada contra a escravidão, esteve Rui Barbosa.11 Desde seus primeiros trabalhos como jornalista, opôs-se a escravidão por conta das conseqüências morais e sociais que, segundo ele, justificavam-se, em grande parte, pela presença do elemento servil na sociedade. A este respeito teceu considerações no texto Elogio de Castro Alves, publicado no ano de 1869 no Radical Paulistano.

Ora, o elemento servil e o cunho negro de toda a nossa historia, e a extinção do elemento servil será a fimbria luminosa de todo o nosso futuro. A ignomínia que barbariza e desumaniza o escravo, conspurca a família livre, escandaliza no lar domestico a pureza das virgens e a castidade das mães; perverte irreparavelmente a educação de nossos filhos; atrofia nossa riqueza; explica todos os defeitos do caráter nacional, toda a indolência do nosso progresso, todas as lepras da nossa política, todas as decepções das nossas reformas, todas as sombras do nosso horizonte. O abolicionismo e a expressão da mais inflexível das necessidades sociais (BARBOSA, 1956, p. 38).

E, em 1875, Rui Barbosa publicou, no Diário de Notícias as “Senhoras da Bahia”, o texto Pelos Escravos, no qual os comparou com as plantas, tendo o poder de fertilizar o globo quando banhado nas ondas luminosas da liberdade, ou encher de morte a atmosfera empobrecida quando reduzido na opressão. E ainda, com formosidade poética, ele comparou a situação do escravo na senzala a de um vegetal deixado na escuridão que, enfim, encontraria a claridade quando liberto.

Vereis o pobre vegetal supliciado, exausto e desbotado de saudades do sol, crescer no meio da sua tristeza, estender dia a dia o colo filiforme, despido e pálido; serpear; retrair-se diante dos obstáculos, e margina-los; sumir-se pelo chão, e ressurgir; dilatar-se persistente, incessante, infatigável; subir, estirando-se pela parede negra da galeria; apalpar-lhe as saliências; enfiar-se por algum interstício inexplorado, longo, tortuoso, estreito; atirar-se, onde ninguém pensara, por alguma fisga imperceptível do solo; evadiar-se, afinal, através do relvado, a prisão subterrânea; e, saudando, no seu verdor mal corado ainda, as florinhas do campo, receber avidamente o primeiro beijo dos esplendores do dia (BARBOSA, 1956, p. 13).

A escuridão da senzala em que viviam os escravos, para Rui Barbosa, expandia a escuridão da sociedade brasileira; nesse sentido, devolver a luz aos escravos significava libertar seus corpos da situação de exploração em que viviam, para que pudessem desenvolver cada um as suas capacidades e coloca-las a serviço da nação. No processo de modernização social, política e econômica, a abolição representaria a disseminação da luminosidade irradiada pelos princípios liberais burgueses, bem como um passo fundamental para a retirada do pais da penumbra subterrânea, conduzindo ao vislumbre do arrebol.

Apesar do combate em prol do abolicionismo e do reconhecimento das vantagens do trabalho livre, a produção com base no trabalho compulsório se reproduziu no pais, especialmente em setores econômicos como a cafeicultura, no qual, mesmo com a alta do preço dos escravos, a lucratividade da produção permitia a continuidade do processo, dado que a extração da mais valia era integral. Contudo, ja no ano de 1880, havia, no pais, novos indivíduos livres da escravidão, como exemplo, a “Lei do Ventre Livre” libertara os filhos das escravas nascidos pos 1871; e, ainda, destacou-se a atuação das sociedades abolicionistas que utilizavam de fundos para libertar os escravos, ou mesmo a liberdade fornecida pelos patrões individualmente. A presença destes novos libertos, em conjunto com outras alterações, passou a exigir da sociedade brasileira e da elite dirigente atitudes de enfrentamento ante a nova situação social. A reorganização do espaço social, em decorrência destas mudanças, exigia que se buscasse um ordenamento, ainda que confuso.”

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Fonte:
Sérgio Henrique Gerelus: “RUI BARBOSA E A EDUCAÇÃO DO CORPO NA REFORMA DO ENSINO PRIMÁRIO”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Área de Concentração: Fundamentos da Educação, da Universidade Estadual de Maringá, para a obtenção do título de Mestre em Educação. Orientadora: Profa. Dra.: Maria Cristina Gomes Machado). Maringá, 2007.

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