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INTRODUÇÃO
É o romance entre nós de tão moderna
data que se não deve esperar por ora senão débeis ensaios, mormente daqueles
que nem um interesse ou glória colhem de suas lucubrações, pois toda a pena que
entre nós se não prostitui às paixões políticas tem de mendigar, como o
desditoso Savage, um pedaço de papel em que eternize os pensamentos de uma
imaginação que Deus iluminou como os raios cheios de luz de sua inteligência:
E a pátria
por quem tanto hão feito os filhos
Que digno prêmio lhes ha dado? A fome!
Que digno prêmio lhes ha dado? A fome!
Empreendendo a publicação de uma coleção
de romances e novelas, contos e legendas, comecei por aqueles que, escritos de
há muito, se achavam dispersos por vários jornais de efêmera existência e
limitada circulação; circunstâncias, porém, inopinadamente sobrevindas, obstam
que por enquanto realize de todo em todo o meu desígnio: satisfazer-me-ei sobre
melhores auspícios? — Deus o sabe!
Só para esta pequena explicação, que não
para outra coisa, lanço estas palavras às primeiras páginas deste livro, que
lhe sirvam de prólogo; não repetirei pois o hino dos mártires da imprensa
literária não subvencionada pelos ídolos da política de hoje e de ontem.
Baldado é mostrar ainda uma vez o desapreço em que tem vegetado na nossa terra
os que se dão às letras — vocação irrisória! De nossos antepassados não só
partilhamos a glória e o gênio, como ainda nos veio por herança a indiferença
da pátria. “Ninguém, diz o eloqüente escritor português, jovem de brilhante
talento, aprecia o que se consome de coragem e de esforço para resistir às lutas
que assaltam qualquer vocação literária; é um longo poema de sofrimento: o
mundo só se lembra das agonias de um escritor quando elas se terminam por uma
sanguinolenta catástrofe”.
Aqui, como lá também, a posteridade admirará
tanta resignação a par e passo de onerosos sacrifícios, de árduas fadigas e de
tanto tempo desperdiçado em pura perda de interesses mais reais senão menos
honrosos.
Mostrava-se D. João de Castro tão
desinteressado em todas as suas ações que até cortava na sua quinta de Sintra
as árvores úteis para plantar e deixar vingar as de nem um préstimo; — quem o
fizesse hoje dir-se-ia que oferecia uma sátira aos homens do tempo de agora; —
eu, se o imitasse, não escreveria para a imprensa não política.
Niterói, maio de 1852.
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