Coracao de mulher - Horacio Nunes - Iba Mendes
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Junqueira Freire: um poeta rebelde
Antes de iniciarmos os
comentários sobre os poemas selecionados como corpus na poética de Junqueira
Freire , optamos por fazer uma breve apresentação do poeta. Vamos a ela.
Junqueira faz o percurso pela sátira, pela exposição de uma realidade
desfigurada e noturna. Na visão de Freire a vida é mais tediosa e as convenções
burguesas são questionadas. As figuras humanas vão sendo manipuladas pelo
eu-lírico, quase sempre, consciente da fragilidade da visão positiva e propenso
a estabelecer um ponto de vista crítico diante da bondade humana e, em muitos
momentos, a fragilidade das convenções religiosas. Poeta da segunda geração
romântica Junqueira Freire tem uma obra marcada pelo sentimento religioso, a
obsessão pela morte e um sensualismo exacerbado que, em alguns momentos, toco o
erotismo. Publicou uma única obra em vida, pouco antes de morrer aos 23 anos
intitulada Inspirações do Claustro.
Nasceu em Salvador, no ano de
1832, em virtude de sua saúde precária (problemas cardíacos), fez estudos
primários e de latim com dificuldade. Em 1849 entrou para o Licel Provincial e
cursou Humanidades, destacou-se como grande aluno e dois anos mais tarde entrou
para a Ordem dos Beneditinos. Freire mostrou não ter a menor vocação monástica
e se estava no Mosteiro de São Bento de Salvador era apenas para fugir da
pressão familiar. Em 1853, pediu a secularização e, no ano seguinte, conseguiu
se libertar das disciplinas monásticas, mas seria sacerdote pelo resto de sua
vida por causa dos votos eternos. Ao sair do mosteiro, foi viver na casa da
mãe, onde fez uma breve autobiografia e reuniu seus poemas no que seria as
Inspirações do Claustro. Morreu em 1855, vitima de problemas cardíacos. Em sua
obra vemos uma forte critica à religiosidade em uma atitude puramente
romântica, mas podemos dizer que na obra de Freire apresenta traços da tradição
clássica, como o próprio poeta aponta no prefacio de Inspirações do Claustro:
“Pelo lado da arte, meus versos segundo me parece, aspiram casar-se com a prosa
dos antigos”. (p.4, 1867).
Freire chegou a publicar um
tratado de retórica em 1852, no qual aplicava as convenções tradicionais com
exemplos aos autores nacionais. Embora poeta romântico, preferiu que a razão
prevalecesse em sua poesia:
A hora da inspiração é
um mistério de luz que passa inapercebível. Contudo
eu tenho consciência de que, por mais etéreo que seja aquele momento,
cantei tão somente o que o imperativo da razão inspirou-me como justo.
(FREIRE, 1867, p. 4)
eu tenho consciência de que, por mais etéreo que seja aquele momento,
cantei tão somente o que o imperativo da razão inspirou-me como justo.
(FREIRE, 1867, p. 4)
Em seguida comentaremos três
poemas de poemas de Freire: “O Jesuíta”, “A Freira”. Entendemos que nesses
poemas e em tantos outros, caso por exemplo, de “Meu filho no claustro”, o
poeta apresenta uma visão inquietada diante do tema religioso, fato que conduz
a presença da ironia em sua obra.
Em “O Jesuíta” a temática central
é a referência à chegada dos padres jesuítas ao espaço brasileiro. No poema
podemos encontrar uma descrição emocionada do eu-lírico diante da ordem
religiosa. O caráter de louvação, no entanto, vai sendo redimensionado pela
visão mais lúcida diante da precariedade do sentido de liberdade conseguido
pela colonização do nativo.
O eu-lírico narra sua chegada ao
espaço brasileiro e o encontro com o indígena. O indígena mira a flecha em sua
direção. Este vê que os indígenas possuíam inúmeras riquezas, tais como ouro e
prata, mas faltava-lhes a riqueza maior: a crença em Deus. O eu-lírico acredita
inicialmente que pode salvar os indígenas convertendo-os à fé cristã mas o
olhar do eu-lírico aponta para a desvalorização da cultura indígena, fato que
redimensiona a poesia rumo ao caráter ambíguo da ação catequizadora. O poema,
nesse nível de leitura, parte da visão religiosa para a deflagração da
precariedade dos valores cristãos quando pensados sob a ótica da libertação das
nações. É uma inversão da consciência ideal na figura religiosa. O percurso
temático em “O Jesuíta” inocenta o nativo e, na medida que apresenta o declínio
da crença cristã, aponta para a precariedade das convenções humanas em um bem
pleno e divino. O sujeito poético, nesse sentido, contamina a pureza do nativo
pelo contato com o jesuíta. Tanto o nativo quanto o jesuíta são absorvidos pela
inércia da ação social que endossa a fragilidade do índio, ma não o salva.
Essa atitude temática entra em
consonância com a consciência crítica da visão irônica no romantismo, pois é
por meio da descrição da bondade inata do nativo que as ações de conversão do
gentil em cristão são enfocadas. Nela não há a preservação do sentido de
cultura indígena, nem a manutenção dos valores tribais, antes é apresentada a
desfigurativização dessa cultura, fato que reorganiza a aparente bondade do
jesuíta e, por conseguinte, do homem branco rumo ao viés irônico aqui
comentado.
Em “A Freira”, temos um eu-lírico
feminino que critica sua vida no convento. Ela não se sente feliz. Queria uma
vida diferente em que o sentido de liberdade seja aproximado ao ideal religioso
de plenitude espiritual. A brevidade da vida e os lamentos induzem o eu-lirico
a uma visão sensual do ambiente eclesiástico. Esta visão carnal e humanizada,
na voz do eu-lírico feminino, conduz a uma fragmentação da fé religiosa. A fé,
porém, está contida na crença ao aspecto mítico do divino. O que é questionado,
nesse sentido, é a vivência individual do sujeito, sua compleição humana leva a
imperfeição e a degradação dos ideais puros. Em seu lugar surgem as implicações
humanas e a condição humana leva o eu-lírico aos constantes questionamentos
observáveis ao longo do poema.
Em “Meu filho no Claustro”, temos
um eu-lírico feminino, aproximado à figura de uma mãe que sofre pela escolha
infeliz do filho pelo celibato. Podemos ver que esse poema se assemelha
tematicamente aos dois poemas comentados, embora deixe entrever questões
sociais que motivam a escolha do celibato. Ao associar o poema á Parábola do
Filho Prodígio da Bíblia identificamos a ironia contida no percurso temático de
Freire, pois o poeta opta por expor a fragmentação da bondade inata sempre
associada, em grande parte do romantismo, à figura humana. É preciso sofrer
para converter a consciência da fragilidade em pureza individual e isso entra
em choque com a visão individualizada do eu-lírico feminino em “Meu filho no
claustro”. São as convenções sociais que impelem o jovem a vida eclesiástica,
não um percurso vocacional puro. Essa idéia traz à cena a constatação das
implicações econômicas e sociais associadas à família burguesa, fato que
explica o chora da mãe e, posteriormente, a acomodação, como na parábola
bíblica aos desígnios divinos, aqui brevemente questionados pelo tom inquisitivo
da voz feminina que chora seu filho no claustro.
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Fonte:
Patrícia Martins Ribeiro de Oliveira (PIBIC/UEMS- UUC - patricinhaletras@hotmail.com) e Danglei de Castro Pereira (UEMS/UUNA - danglei@uems.br): “A ironia na poesia romântica: Junqueira Freire e Gonçalves Dias”. Disponível em : PPGH – UFBA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – UFBA - http://www.ppgh.ufba.br/
Fonte:
Patrícia Martins Ribeiro de Oliveira (PIBIC/UEMS- UUC - patricinhaletras@hotmail.com) e Danglei de Castro Pereira (UEMS/UUNA - danglei@uems.br): “A ironia na poesia romântica: Junqueira Freire e Gonçalves Dias”. Disponível em : PPGH – UFBA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – UFBA - http://www.ppgh.ufba.br/
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