14/07/2014

As Religiões no Rio, de João do Rio

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João do Rio: uma novidade do século xx
           
A concepção da imprensa como uma empresa visando ao lucro chegou ao Brasil na medida em que o próprio sistema capitalista começava a se compor no país. Muito por isso, o jornal brasileiro vai demorar mais de cem anos para consolidar a técnica da pirâmide invertida nos textos (década de 1950), em comparação com o jornal produzido nos Estados Unidos.

Essa mudança começou a dar-se, substancialmente, na virada do século XIX para o século XX, como atesta Nelson Werneck Sodré:

Nos fins do século XIX, estava se tornando evidente, assim, a mudança na imprensa brasileira: a imprensa artesanal estava sendo substituída pela imprensa industrial. A imprensa brasileira se aproximava, pouco a pouco, dos padrões e das características peculiares a uma sociedade burguesa (SODRÉ, 1983, p. 281).

A transição do modelo de jornal partidário para uma empresa de comunicação começa já nas últimas décadas do século XIX. No entanto, trata-se de uma lenta passagem, muito devido ao momento turbulento em que se vivia. Com a ainda incipiente República que fora instaurada em 1889, os jornais de cunho político, com a predominância do artigo de fundo e da opinião, ainda tinham a sua função, uma vez que serviam como arma aos defensores do regime que fora combalido, o monárquico.

A imprensa se consolida como uma grande estrutura quando o regime republicano começa a se legitimar, pelos menos nas aparências. Como afirma Nelson Werneck Sodré, era uma República consolidada “em suas exterioridades formais”, pois o país passava por uma estagnação econômica, uma elevada carga tributária, além da estagnação política, com oligarquias absolutas gerindo o Estado como se fossem “fazendas particulares” (SODRÉ, 1983).

A imprensa de caráter artesanal, neste momento, predominava somente no interior, nas pequenas cidades, apenas circundando os jornais mais prósperos. Isso porque, nas grandes metrópoles, nas capitais, “já não havia lugar para esse tipo de imprensa”, pois o “jornal ingressara, efetiva e definitivamente, na fase industrial, era agora empresa” (SODRÉ 1983, p. 275).

Embora nessa época seja inegável o crescimento da imprensa como indústria de
notícias, que ali houve o princípio do soterramento do jornal individual em que a opinião valia mais do que qualquer outra coisa, a época dos 1900 no Brasil é ainda assim experimental, como atesta Carlos Eduardo Lins da Silva:

[...] a falta de condições na economia local de sustentar essa vontade faz com que ela se frustre, embora alguns jornais consigam sobreviver (como o Jornal do Brasil e o Estado de São Paulo, ambos inaugurados no século 19 e ainda hoje entre os 4 maiores diários do país). A fragilidade dessa ‗aventura industrial‘ até a segunda metade deste século é inquestionável (Apud Sales, 2006, p. 80).

Tem-se, ao mesmo tempo, no Brasil de 1900, um lento processo de desenvolvimento do capitalismo. E, como o jornalismo lida com o poder, essas mudanças refletem no jornal, e denotam uma contradição: há jornais com feições empresariais inseridos num contexto em que o poder se encontra numa fase pré-capitalista. Nelson Werneck Sodré aponta essa defasagem como forma de explicar o quão, à época, soava natural ao presidente Campos Sales13 comprar a opinião da imprensa “e de confessar nuamente essa conduta” (1983, p. 277).

Com a nova imprensa, muda-se, portanto, até como se compra o lado editorial de um jornal. Não há mais como comprar monetariamente o dono, haja vista a complexidade que foi atribuída à empresa jornalística; é preciso mais: o jornal a ser corrompido passou a receber negócios que proporcionassem dinheiro (SODRÉ, 1983).


Diante desse quadro, tem-se, nos primórdios do século XX, uma imprensa dividida pelo servilismo ao governo ou pela oposição ferrenha. Luís Edmundo apresentava um imenso pessimismo em relação ao jornalismo que se praticava à época, inclusive com uma carga de saudosismo do modo que se fazia jornalismo, que ele denomina de “aquele jornalismo desenvolto, após o grito do Ipiranga”. Segundo ele, o jornalismo, “na assomada do século em que vivemos, nada mais é do que um tráfico de espertos [...] à revelia das aspirações e interesses do país” (EDMUNDO Apud SODRÉ, 1983, p.279).



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Fonte:
Lucas Osório Rizzatti: “João do Rio: o escritor da vida real: a apuração jornalística e o texto de reportagem em A alma encantadora das ruas”. (Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Orientadora: Prof.ª Mestre Rosa Nívea Pedroso). Porto Alegre, 2009.

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