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João do Rio: uma novidade do século
xx
A concepção da imprensa como uma
empresa visando ao lucro chegou ao Brasil na medida em que o próprio sistema
capitalista começava a se compor no país. Muito por isso, o jornal brasileiro
vai demorar mais de cem anos para consolidar a técnica da pirâmide invertida
nos textos (década de 1950), em comparação com o jornal produzido nos Estados
Unidos.
Essa mudança começou a dar-se,
substancialmente, na virada do século XIX para o século XX, como atesta Nelson
Werneck Sodré:
Nos fins do século XIX, estava se
tornando evidente, assim, a mudança na imprensa brasileira: a imprensa
artesanal estava sendo substituída pela imprensa industrial. A imprensa
brasileira se aproximava, pouco a pouco, dos padrões e das características
peculiares a uma sociedade burguesa (SODRÉ, 1983, p. 281).
A transição do modelo de jornal
partidário para uma empresa de comunicação começa já nas últimas décadas do
século XIX. No entanto, trata-se de uma lenta passagem, muito devido ao momento
turbulento em que se vivia. Com a ainda incipiente República que fora
instaurada em 1889, os jornais de cunho político, com a predominância do artigo
de fundo e da opinião, ainda tinham a sua função, uma vez que serviam como arma
aos defensores do regime que fora combalido, o monárquico.
A imprensa se consolida como uma
grande estrutura quando o regime republicano começa a se legitimar, pelos menos
nas aparências. Como afirma Nelson Werneck Sodré, era uma República consolidada
“em suas exterioridades formais”, pois o país passava por uma estagnação
econômica, uma elevada carga tributária, além da estagnação política, com
oligarquias absolutas gerindo o Estado como se fossem “fazendas particulares”
(SODRÉ, 1983).
A imprensa de caráter artesanal,
neste momento, predominava somente no interior, nas pequenas cidades, apenas
circundando os jornais mais prósperos. Isso porque, nas grandes metrópoles, nas
capitais, “já não havia lugar para esse tipo de imprensa”, pois o “jornal
ingressara, efetiva e definitivamente, na fase industrial, era agora empresa”
(SODRÉ 1983, p. 275).
Embora nessa época seja inegável o
crescimento da imprensa como indústria de
notícias, que ali houve o princípio
do soterramento do jornal individual em que a opinião valia mais do que
qualquer outra coisa, a época dos 1900 no Brasil é ainda assim experimental,
como atesta Carlos Eduardo Lins da Silva:
[...] a falta de condições na
economia local de sustentar essa vontade faz com que ela se frustre, embora
alguns jornais consigam sobreviver (como o Jornal do Brasil e o Estado de São
Paulo, ambos inaugurados no século 19 e ainda hoje entre os 4 maiores diários
do país). A fragilidade dessa ‗aventura industrial‘ até a segunda metade deste
século é inquestionável (Apud Sales, 2006, p. 80).
Tem-se, ao mesmo tempo, no Brasil de
1900, um lento processo de desenvolvimento do capitalismo. E, como o jornalismo
lida com o poder, essas mudanças refletem no jornal, e denotam uma contradição:
há jornais com feições empresariais inseridos num contexto em que o poder se
encontra numa fase pré-capitalista. Nelson Werneck Sodré aponta essa defasagem
como forma de explicar o quão, à época, soava natural ao presidente Campos
Sales13 comprar a opinião da imprensa “e de confessar nuamente essa conduta”
(1983, p. 277).
Com a nova imprensa, muda-se, portanto,
até como se compra o lado editorial de um jornal. Não há mais como comprar
monetariamente o dono, haja vista a complexidade que foi atribuída à empresa
jornalística; é preciso mais: o jornal a ser corrompido passou a receber
negócios que proporcionassem dinheiro (SODRÉ, 1983).
Diante desse quadro, tem-se, nos primórdios do
século XX, uma imprensa dividida pelo servilismo ao governo ou pela oposição
ferrenha. Luís Edmundo apresentava um imenso pessimismo em relação ao
jornalismo que se praticava à época, inclusive com uma carga de saudosismo do
modo que se fazia jornalismo, que ele denomina de “aquele jornalismo
desenvolto, após o grito do Ipiranga”. Segundo ele, o jornalismo, “na assomada
do século em que vivemos, nada mais é do que um tráfico de espertos [...] à
revelia das aspirações e interesses do país” (EDMUNDO Apud SODRÉ, 1983, p.279).
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Fonte:
Fonte:
Lucas Osório Rizzatti: “João do Rio:
o escritor da vida real: a apuração jornalística e o texto de reportagem em A
alma encantadora das ruas”. (Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade
de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como
requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, habilitação
em Jornalismo. Orientadora: Prof.ª Mestre Rosa Nívea Pedroso). Porto Alegre, 2009.
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