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Traços baudelairianos em Raimundo
Correia
“Uma carniça” é provavelmente o
poema de As flores do mal em que a temática da morte e da decomposição aparece
mais fortemente caracterizada. No poema ocorre a descrição de um corpo apodrecendo
sob o olhar do poeta, participante do espetáculo como uma testemunha, que
percebe o cheiro do corpo putrefato e a presença de outros elementos no cenário
descrito, tais como o sol, a cadela, os vermes, os quais atuam e transformam lentamente
o corpo da mulher, incorporando-a à natureza.
Dentre os poemas de Raimundo Correia,
acreditamos que “Beijo póstumo” e “Jó” são aqueles que mais se aproximam dos
aspectos baudelairianos da morte e da putrefação da carne, contidos em “Uma
carniça”.
“Beijo póstumo” faz parte do livro Sinfonias
(CORREIA, 1961, p. 142), no qual o
poeta lamenta que a sua amada
jamais lhe tenha dado um beijo e ela morre, tornando-se alimento para os
vermes. Esse poema apresenta três estrofes, com quatro versos cada. As rimas da
primeira estrofe são do tipo ABAB, mas há uma mudança na segunda e terceira estrofes,
pois as rimas passam a ser do tipo CDDC, EFFE, ou seja, o primeiro verso de
cada estrofe rima com o último e não com o terceiro, como na primeira estrofe.
Conforme se nota, a presença das rimas comprova a adesão do poeta brasileiro
aos rígidos modelos parnasianos para a escritura de versos e garantem também a
musicalidade do poema:
BEIJO PÓSTUMO
Do meu primeiro amor, ei-lo, o
templo em ruína!
No estômago da morte, atro e
voraginoso,
Essa carne ideal, deliciosa e
fina,
Caiu como um manjar fino e delicioso
E antes que tudo venha a supurar
em flores,
Sob o pudor da morte os membros
seus inermes
Têm de ser fatalmente o pábulo
dos vermes
Frios e roedores...
E o beijo que pedi e ela jamais
me deu,
Que em vida quis colher e nunca
foi colhido,
Cai do seu lábio como um fruto
apodrecido...
Ó beijo virginal! Fruto que
apodreceu! (CORREIA, 1961, p. 142).
[...]
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Fonte:
Fonte:
Altamir Botoso (UNIMAR): “Traços
baudelairianos em Raimundo Correia”. Eletrônica Via Litterae – Anápolis, v. 2,
n. 2, p. 541-557, jul./dez. 2010. Disponível em: www.unucseh.ueg.br/vialitterae
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