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Amadeu Amaral e a dialetologia no Brasil
As reconstituições históricas dos
estudos dialetais no Brasil costumam se iniciar
com uma referência a Domingos
Borges de Barros, Visconde de Pedra Branca, que, em 1826, contribuiu para o
livro Introduction à l'atlas
ethnographique du globe, do geógrafo vêneto Adrien Balbi, com um breve
capítulo em que aponta diferenças entre o português do Brasil e o português
continental (Pinto 1978, Castilho 1992, Ferreira & Cardoso 1994, Cardoso
2002, Cardoso & Mota 2003). Em referência ao aspecto fonológico, o Visconde
de Pedra Branca menciona o falar mais doce, mais ameno como característico do
Brasil.
Considerando o aspecto lexical,
apresenta, a título de exemplificação, um grupo de 8 palavras que adquiriram
novos sentidos no Brasil, diferenciando-se do uso dos termos em Portugal, e um
outro grupo de itens lexicais, que reúne 50 nomes atestados na colônia e desconhecidos
na metrópole. (O texto de Pedra Branca está reproduzido em Pinto 1978: 5-7).
A partir desse marco, que coloca
a questão das peculiaridades do português falado no Brasil, identifica-se na
história da dialetologia no Brasil, conforme periodização proposta por Ferreira
e Cardoso (1994), uma fase inicial que se caracteriza pela predominância de
estudos voltados basicamente para o léxico. Dicionários, vocabulários, léxicos
regionais, produzidos nesse período, procuram registrar peculiaridades do
léxico do português do Brasil, em âmbito geral ou regional. Ferreira e Cardoso
(1994: 38- 39) fazem referência a vários trabalhos dessa natureza, entre os quais
incluem: Dicionário da língua brasileira, 1832, de Luís Maria Silva Pinto, Popularium sulriograndense e o dialeto nacional,
1872, de Apolinário Porto Alegre, Dicionário brasileiro da língua portuguesa, 1888,
de Macedo Soares, O tupi na geografia nacional, 1901, de Theodoro Sampaio. Com uma
abordagem mais ampla, que não se restringe ao estudo do léxico, registra-se
nesse período o trabalho de José Jorge Paranhos da Silva, O idioma hodierno de
Portugal comparado com o do Brasil, de 1879.
A publicação de O dialeto
caipira, de Amadeu Amaral, em 1920, constitui, ainda
segundo as Autoras mencionadas
(Ferreira e Cardoso 1994, Cardoso 2002), o marco inicial de uma nova fase da
pesquisa dialetológica brasileira. Apesar de se constatar ainda o interesse pelo
enfoque lexicográfico, manifestado em numerosos trabalhos, nessa fase se inauguram
os estudos que se voltam para a observação da língua em uma determinada área, procurando
caracterizá-la não só em termos léxico-semânticos, mas também do ponto de vista
fonético-fonológico e morfossintático. É essa inovação que Amadeu Amaral representa,
constituindo-se em incentivo e modelo para o estudo dos falares regionais. Seu estudo
de caráter monográfico revela uma preocupação com a observação dos dados in loco, e com o exame dos diferentes
aspectos da realidade observada. Na mesma linha de Amadeu Amaral, destacam-se
também, no início dessa fase, Antenor Nascentes, com O linguajar carioca em
1922, publicado em 1923, e Mário Marroquim, com A língua do Nordeste, de 1934,
em que descreve o português de Pernambuco e Alagoas.
Significativamente, Nascentes
dedica O linguajar carioca a Amadeu Amaral, afirmando que o paulista ''mostrou
[em seu trabalho] a verdadeira diretriz dos estudos dialetológicos no Brasil"
(Nascentes 1923 I 1953: 3). Da mesma forma, Marroquim, acentuando a necessidade
do estudo de nossas tendências dialetais, ressalta que, com O dialeto caipira, Amadeu
Amaral "abriu resolutamente o caminho, dando um exemplo que deve ser imitado"
(Marroquim 1934 I 1945: 7).
Em um balanço que faz da
dialetologia brasileira, Rossi (1967) também menciona Amadeu Amaral, situando-o
no estágio inicial da área, ao lado de outros que também fizeram estudos
parciais, como Marroquim (1934), José Aparecida Teixeira (1938, 1944), Aires da
Mata Machado Filho (1933). Por sua vez, Brandão (1991), re1embrando a história
dos estudos dialetológicos no Brasil, acentua a importância de O dialeto
caipira, reconhecendo seu autor como "o primeiro dialetólogo brasileiro".
Segundo a Autora, a partir dessa primeira tentativa de descrever um falar
regional brasileiro, ganha corpo o interesse pelo estudo da variante brasileira
do português em sua modalidade falada. Mais que isso, para Brandão (1991 :43), Amadeu
Amaral lança "a semente da geografia linguística" ao reconhecer a
necessidade de pesquisa séria e imparcial voltada para as 'modalidades locais e
regionais', condição para se saber 'com segurança quais os caracteres gerais do
dialeto brasileiro, ou dos dialetos brasileiros, quantos e quais os
subdialetos, o grau de vitalidade, as ramificações, o domínio geográfico de
cada um' (Amaral 1920 I 1982: 44).
Pinto (1981) também aponta o
caráter inovador de Amadeu Amaral no quadro da reflexão sobre a língua portuguesa
no Brasil. Para a Autora, ele é um dos "grandes pioneiros" da
renovação dos nossos estudos lingüísticos observada no período de 1920 a 1945, renovação que
assinala uma "opção pelo enfoque dialetológico, em detrimento do filológico,
até então predominante" (Pinto 1981: XVIII).
Resumindo as avaliações expostas,
dois aspectos inovadores devem ser destacados no estudo de Amadeu Amaral, que
justificam a importância que lhe é atribuída: por um lado, o enfoque da
variedade regional em questão em seus diferentes aspectos- fonético, lexical,
morfológico e sintático -, indo além do levantamento lexical, a que se
limitavam basicamente os estudos dialetológicos até então, e, por outro lado, o
cuidado metodológico revelado pelo Autor, conferindo confiabilidade à
descrição. Ao apresentar, com modéstia, seu trabalho, Amadeu Amaral aponta
esses dois aspectos, ao afirmar que sua contribuição é apenas um começo, e que
se dará por satisfeito se tiver "conseguido fixar duas ou três idéias e
duas ou três observações aproveitáveis, neste assunto, por enquanto, quase
virgem de vistas de conjunto, sob critérios objetivos" (Amaral 1920 I
1982: 43). (Destacamos.)
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Fonte:
Fonte:
Vandersí Sant'Ana Castro: A
Resistência de Traços do Dialeto Caipira: Estudo com Base em Atlas Lingüísticos
Regionais Brasileiros. (Tese apresentada ao Curso de Lingüística do Instituto
de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas como requisito
parcial para obtenção do título de doutor em Lingüística. Orientador: Prof. Dr.
Ataliba Teixeira de Castilho). UNICAMP, 2006. Disponível em: www.bibliotecadigital.unicamp.br
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