10/03/2014

Últimos Sonetos, de Cruz e Sousa

 Últimos Sonetos, de Cruz e Sousa
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Principais Poetas Simbolistas

Cruz e Sousa é respeitado por sua originalidade e é considerado o maior  representante do Simbolismo brasileiro, ao lado de poetas como Alphonsus de Guimarães.

Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) tem em Cruz e Sousa e em Verlaine  seus grandes mestres. A temática de sua poesia  é marcada pela morte da amada(Constância), o que possibilita a criação de uma atmosfera mística e litúrgica em que se percebem inúmeras referências ao corpo morto, ao caixão, etc. Segundo  Bosi, “de Cruz e Sousa para Alphonsus de Guimarães sentimos uma descida de tom”, pois, enquanto na  lírica de Cruz e Sousa temos a dor da existência, caracterizando uma poesia mais universal, em Alphonsus de Guimaraens temos a lírica limitada  ao ambiente místico de Mariana (cidade mineira onde morou) e ao drama sentimental vivido na juventude pela morte da noiva. A produção poética de Alphonsus de Guimaraens mostra-se uma das mais místicas da nossa literatura.

Outro poeta de extrema importância na composição do Simbolismo brasileiro é o gaúcho Eduardo Guimaraens (1892-1928), escritor talentoso, cronista e ensaísta. É na poesia  que deixa sua melhor expressão. Em 1916, obtém  a consagração e o reconhecimento nacional com a obra A Divina Quimera . A obra é constituída por um conjunto de poemas de temática espiritualista e amorosa. É por temperamento  um artista da palavra, minucioso na expressão, aristocrático e preciosista  na linguagem . Sua base literária vem  de Dante, Baudelaire, D’Annunzio. De acordo com Andrade Muricy: “Eduardo Guimaraens é, dentre os poetas  simbolistas brasileiros, o de feição mais assiduamente fiel às raízes européias do Simbolismo. É um dos de ilustração mais vasta. A sua arte, por isso, afasta-se do cunho clássico português.”

Entre tantos poetas simbolistas  que engrandecem a literatura simbolista, destacamos o paranaense Emiliano Perneta, que se diferencia pelo conteúdo de sua obra. Estuda em São Paulo onde é envolvido com atividades literárias, sendo que, em 1888, publica Músicas. Quatro anos depois,  em 1892, define-se como simbolista, tendo contatos com outros poetas, como Gonzaga Duque, Oscar Rosa e Cruz e Sousa. Perneta transita entre temas clássicos, superando velhos clichês simbolistas. Ao longo de sua trajetória poética, o poeta busca temas metafísicos.

Nas palavras de Andrade Muricy: “a poesia de Emiliano Perneta é a mais desconcertante e variada que o Simbolismo produziu entre nós. Não aceitou o verso livre, mas, por instinto, e inquietação, repeliu os cânones parnasianos.”

O que se percebe é que a estética simbolista, além de representar um grupo  de contracorrente das décadas finisseculares do século XIX, influencia a lírica de poetas modernos. Os simbolistas expressam nas suas obras o homem diante do vazio, e é neste vazio que, muitas vezes, o poeta busca um sentido metafísico, uma sacralização da vida que possa vencer o tempo visto como adversário da existência.

Este sentimento de mal-estar tão caro aos simbolistas se soma à angústia  de poetas modernos como Cecília Meireles, que utiliza símbolos como areia, mar, céu e terra para evocar estados de ânimo vagos e a percepção de que tudo passa ,numa experiência de abandono, de incomunicabilidade com o mundo circundante. Enfim, é no Simbolismo que encontramos a essência  de vários poetas  modernos como Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Mário Quintana entre tantos.



 O lugar de Cruz e Sousa no Movimento

Cruz e Sousa é o  mestre do Simbolismo brasileiro pela qualidade de seus poemas e pela dimensão metafísica de sua obra. Busca na arte a transfiguração da dor existencial e dos problemas de ordem social em que vive. Nas palavras de Roger Bastide:

Cruz e Sousa construiu, só com seu cérebro, o seu mundo poético e elabora, isento de qualquer influência, a sua própria experiência simbólica. Seu Simbolismo seguirá sem dúvida, a lei geral, exigirá a existência de um mundo transcendente, de um mundo de essências, mas antes ele reagirá  com a sua personalidade fremente e dolorosa, que não é senão dele.”

O Simbolismo no Brasil inicia oficialmente em 1893, com a publicação de sua obra Missal e Broquéis, porém os simbolistas há muito já estavam trabalhando em poemas que, embora influenciados pela forma parnasiana, já mostra princípios completamente adversos ao Parnasianismo. Apesar de serem movimentos contemporâneos diferentes, apresentam, muitas vezes, poemas com influências recíprocas. Por exemplo, é possível encontrar em poetas parnasianos poemas com temáticas simbolistas; em contrapartida, Cruz e Sousa também mostra predileção pelo soneto e certo rigor na forma.

Apesar desta mescla de estéticas, é importante rememorar que a relação entre elas não ocorre de forma harmoniosa, pois há um confronto sem trégua entre parnasianos e simbolistas. Os parnasianos ridicularizam a poesia simbolista por propor rupturas à poesia já consagrada. É necessário apontar que a maioria dos críticos, jornalistas da época, é também responsável pela falta de espaço do movimento simbolista.

Esse movimento tem de enfrentar a hostilidade dos realistas que influenciam a Academia Brasileira de Letras, para que não haja o reconhecimento e a avaliação da nova estética. Por isso, o Simbolismo, desde o início, é marginalizado e, ainda hoje, pouco conhecido e estudado. Os simbolistas são chamados de nefelibatas por viverem fora da realidade, mas isso não se confirma quando lemos inúmeros poemas de Cruz e Souza, por exemplo, sobre a sua condição social, tais como “Emparedado”, “Crianças Negras”, etc. Além disso, outros poetas ratificam, nas suas biografias, um grande envolvimento com lutas abolicionistas e republicanas. De acordo com a teoria de Theodor W. Adorno, o retrato da sociedade também está na sua negação. Mesmo que muitos poemas não se refiram diretamente ao aspecto social, o silêncio pode ser uma forma de rejeição ao status quo. E é sobretudo pelo viés da negação que encontramos o registro da sociedade da época em Cruz e Sousa.

O Simbolismo brasileiro, a par da influência do Simbolismo francês e principalmente do poeta Baudelaire, tem suas feições próprias e não é um movimento meramente de arremedo e nulo como se lê na fortuna crítica do passado e até em alguns ensaios atuais. De acordo com Massaud Moisés:

É apenas no conjunto que o Simbolismo autoriza a afirmar que não passou de um produto de imitação, ausente de nossa realidade sócio-cultural. Mas ainda aqui temos de refletir friamente: um movimento de mera imitação, postiço, nada tendo a ver com nosso ambiente social, não vingaria como vingou, e não desempenharia, como desempenhou, um relevante papel no panorama cultural do seu tempo. Morreria à nascença. 

O que contribui para que esta visão depreciativa se configure é o fato de o Brasil ter a tradição da manifestação literária como meio de documento (Gregório de Matos Guerra, José de Alencar, Olavo Bilac, etc.). Nesta ânsia de se reconhecer através da literatura, é compreensível a indignação do cânone oficial em relação a uma poesia abstrata e profunda.

A atitude simbolista de exilar-se não determina a falta de  vínculo com a realidade. O afastamento dela tem como objetivo manter o nível da arte. É importante, também lembrar que o Simbolismo é o movimento que  se preocupou muito com a criação artística, com a questão literária em si mesma. No Brasil, especialmente, as questões político-sociais importantes:- a República (novembro de 1889) e a abolição dos escravos (maio de 1881) - já haviam acontecido, motivo que possibilitou uma liberdade maior aos nossos poetas, para se dedicarem à arte em um outro patamar de interesses. Assim sendo, o Simbolismo vem marcar importantes mudanças na história da poesia, pois os poetas buscam o  aprofundamento do eu, sem a postura egocêntrica dos românticos, visto que almejam atingir as camadas mais profundas do inconsciente. É a partir desta mudança radical de comportamento que se torna necessária uma linguagem nova, sem o discurso lógico dos parnasianos. Dessa crise, entre matéria e espírito, é que se vivência na poesia a correspondência - utilizada por Baudelaire - entre signos espirituais e materiais. Esta indefinição contemplada no Simbolismo questiona o verso bem comportado criado pelos parnasianos, que buscam desfazer-se de qualquer compromisso existencial em prol da forma poética.


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Fonte:
Maria Lúcia de Medeiros: “A imaginação simbólica em Cruz e Sousa”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras, do Instituto de Letra da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre. Orientadora: Profª Drª Ana Maria Lisboa de Mello). Porto Alegre, 2005.

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