15/03/2014

Poesias de Julio Dinis

 Poemas de Julio Dinis
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Júlio Dinis e o seu tempo

 O texto literário é o reflexo do seu autor que, por sua vez, reflecte a sociedade que o rodeia, o seu tempo. Na verdade, «la literatura refleja, pues, importantes visiones del mundo por parte de una determinada sociedad en un determinado momento» (Eire, 1997: 9). Assim sendo, «a obra literária é uma forma de manifestação artística condutora de diversos aspectos sociais da realidade que visa retratar» (Santos, 2009).

Além disso, o escritor pode ter um objectivo específico quando escreve os seus textos. Segundo Cesare Pavese, «après tout, je suis moi aussi l’un d’entre eux [tous les hommes], mais je tiens la plume du côté du manche, autrement dit mon métier est “d’avoir de l’influence” sur eux» (Pavese, 1999: 71). De facto, e como nos diz Carlos Reis: «a literatura pode ser entendida como instrumento de intervenção social» (Reis, 1995: 40).

Esta preocupação da literatura em intervir na sociedade, em formar consciências, é ainda mais acentuada durante o Realismo dado que nessa época «o escritor faz da literatura um instrumento de análise de tipos e situações carenciadas de reforma» (ibid.: 41).

 Tendo em conta as considerações acima formuladas e sendo o objectivo maior desta dissertação proceder à análise da narrativa breve de Júlio Dinis, parece-me pertinente, antes de mais, conhecer de forma sumária, mas sem omitir os aspectos fundamentais, a vida e obra do escritor, bem como o contexto social, político e literário que o rodeou.

Vida e obra

 Júlio Dinis é o pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho que nasce na média burguesia do Porto, a 14 de Novembro de 1839, descendente de ingleses pelo lado materno e filho de um reputado cirurgião da Escola Médico-Cirúrgica do Porto. É nessa
mesma escola que Júlio Dinis cursa medicina e se torna professor, mal chegando a exercer a sua profissão devido à sua saúde precária.

Pouco se sabe sobre a infância de Júlio Dinis, no entanto, a prematura morte da mãe do escritor, quando este ainda não tinha cinco anos de idade, marcou-o de tal modo que, embora ele não se refira, directamente, a este facto, a verdade é que os casais com funções de relevo nas suas obras não nos são apresentados completos. Em geral, não existe um dos membros da família, quase sempre a mãe.

A partir de 1863, a doença obriga-o a trocar o Porto por longas estadias de cura em Ovar e na Madeira, onde toma conhecimento da vida das gentes do campo, tema recorrente na sua obra literária.

 É à literatura que dedica a maior parte da sua curta vida, sendo considerado por muitos como um escritor de transição entre o fim do Romantismo e o princípio do Realismo. Na verdade, segundo Maria Lúcia Lepecki «qualquer leitor, entrando, inocente, em contacto com o Autor de Os Fidalgos da Casa Mourisca, notará ser a sua escrita tributária de dois tipos de sensibilidade: a romântica e a realista» (Lepecki, 1979: 15).

 Embora tenha escrito poesia (a sua actividade de escritor foi iniciada em 1860 com a publicação de poemas no jornal portuense A Grinalda) e drama, notabilizou-se principalmente como romancista.

 O seu primeiro romance editado é As Pupilas do Senhor Reitor, publicado em forma de folhetim no Jornal do Porto, entre 12 de Maio e 11 de Julho de 1866, e com ele obtém, imediatamente, um enorme êxito. No mesmo jornal, em 1867, surge o primeiro romance que escrevera, e que já estava concluído em 1862, Uma Família de Ingleses, Cenas da Vida do Porto, cujo título assumirá a forma actual aquando da sua publicação em volume. Em 1868, publica, também em folhetim, A Morgadinha dos Canaviais. No ano seguinte, começa a escrever Os Fidalgos da Casa Mourisca, cuja edição póstuma só viria a surgir em 1872, apenas em parte revista pelo autor.

 Em 1870, surge o primeiro volume de Serões da Província, livro que inclui um conjunto de narrativas breves anteriormente publicadas em folhetins no Jornal do Porto. Note-se que, no mesmo jornal, foram publicadas cartas do Dr. Gomes Coelho assinadas com o pseudónimo feminino de Diana de Aveleda. Este pseudónimo é uma espécie de heterónimo pois, como afirma Maria Ivone Fedeli: «ao contrário do que acontece com o pseudónimo de Júlio Dinis, nome vazio, mera máscara para o Dr. Gomes Coelho, este se compraz em criar para Diana de Aveleda um marido – a quem escreve cartas que publica – filhas, amigas, criadas, visitas e toda uma biografia que fica implícita nos seus textos» (Fedeli, 2007: 10).

A sua educação inglesada bem como a leitura de Richardson, Jane Austen, Goldsmith, Balzac e Dickens formaram o seu gosto que surge teorizado em «Ideias Que Me Ocorrem», postumamente publicado no volume de Inéditos e Esparsos (1910).

Em 1871, com 32 anos e vítima de tuberculose, morre Júlio Dinis, aquele que «pode justamente considerar-se cronologicamente o primeiro romancista da literatura portuguesa», na opinião de António José Saraiva (1992: 770).


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Fonte:
Rosa Margarida Pinto Leite: “A narrativa breve de Júlio Dinis”. (Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Línguas, Literaturas e Culturas, realizada sob a orientação científica do Doutor António Manuel dos Santos Ferreira, Professor Associado com Agregação do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro). Universidade de Aveiro, 2010.
Nota:
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade. Disponível em: http://ria.ua.pt/

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