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Vida e obra
Júlio Dinis e o seu tempo
O texto literário é o reflexo do seu autor
que, por sua vez, reflecte a sociedade que o rodeia, o seu tempo. Na verdade,
«la literatura refleja, pues, importantes visiones del mundo por parte de una
determinada sociedad en un determinado momento» (Eire, 1997: 9). Assim sendo,
«a obra literária é uma forma de manifestação artística condutora de diversos
aspectos sociais da realidade que visa retratar» (Santos, 2009).
Além disso, o escritor pode ter
um objectivo específico quando escreve os seus textos. Segundo Cesare Pavese,
«après tout, je suis moi aussi l’un d’entre eux [tous les hommes], mais je
tiens la plume du côté du manche, autrement dit mon métier est “d’avoir de
l’influence” sur eux» (Pavese, 1999: 71). De facto, e como nos diz Carlos Reis:
«a literatura pode ser entendida como instrumento de intervenção social» (Reis,
1995: 40).
Esta preocupação da literatura em
intervir na sociedade, em formar consciências, é ainda mais acentuada durante o
Realismo dado que nessa época «o escritor faz da literatura um instrumento de
análise de tipos e situações carenciadas de reforma» (ibid.: 41).
Tendo em conta as considerações acima
formuladas e sendo o objectivo maior desta dissertação proceder à análise da
narrativa breve de Júlio Dinis, parece-me pertinente, antes de mais, conhecer
de forma sumária, mas sem omitir os aspectos fundamentais, a vida e obra do
escritor, bem como o contexto social, político e literário que o rodeou.
Vida e obra
Júlio Dinis é o pseudónimo de Joaquim
Guilherme Gomes Coelho que nasce na média burguesia do Porto, a 14 de Novembro
de 1839, descendente de ingleses pelo lado materno e filho de um reputado
cirurgião da Escola Médico-Cirúrgica do Porto. É nessa
mesma escola que Júlio Dinis
cursa medicina e se torna professor, mal chegando a exercer a sua profissão
devido à sua saúde precária.
Pouco se sabe sobre a infância de
Júlio Dinis, no entanto, a prematura morte da mãe do escritor, quando este
ainda não tinha cinco anos de idade, marcou-o de tal modo que, embora ele não
se refira, directamente, a este facto, a verdade é que os casais com funções de
relevo nas suas obras não nos são apresentados completos. Em geral, não existe um
dos membros da família, quase sempre a mãe.
A partir de 1863, a doença obriga-o a
trocar o Porto por longas estadias de cura em Ovar e na Madeira, onde toma
conhecimento da vida das gentes do campo, tema recorrente na sua obra
literária.
É à literatura que dedica a maior parte da sua
curta vida, sendo considerado por muitos como um escritor de transição entre o
fim do Romantismo e o princípio do Realismo. Na verdade, segundo Maria Lúcia
Lepecki «qualquer leitor, entrando, inocente, em contacto com o Autor de Os
Fidalgos da Casa Mourisca, notará ser a sua escrita tributária de dois tipos de
sensibilidade: a romântica e a realista» (Lepecki, 1979: 15).
Embora tenha escrito poesia (a sua actividade
de escritor foi iniciada em 1860 com a publicação de poemas no jornal portuense
A Grinalda) e drama, notabilizou-se principalmente como romancista.
O seu primeiro romance editado é As Pupilas do
Senhor Reitor, publicado em forma de folhetim no Jornal do Porto, entre 12 de
Maio e 11 de Julho de 1866, e com ele obtém, imediatamente, um enorme êxito. No
mesmo jornal, em 1867, surge o primeiro romance que escrevera, e que já estava
concluído em 1862, Uma Família de Ingleses, Cenas da Vida do Porto, cujo título
assumirá a forma actual aquando da sua publicação em volume. Em 1868, publica,
também em folhetim, A Morgadinha dos Canaviais. No ano seguinte, começa a
escrever Os Fidalgos da Casa Mourisca, cuja edição póstuma só viria a surgir em
1872, apenas em parte revista pelo autor.
Em 1870, surge o primeiro volume de Serões da
Província, livro que inclui um conjunto de narrativas breves anteriormente
publicadas em folhetins no Jornal do Porto. Note-se que, no mesmo jornal, foram
publicadas cartas do Dr. Gomes Coelho assinadas com o pseudónimo feminino de
Diana de Aveleda. Este pseudónimo é uma espécie de heterónimo pois, como afirma
Maria Ivone Fedeli: «ao contrário do que acontece com o pseudónimo de Júlio
Dinis, nome vazio, mera máscara para o Dr. Gomes Coelho, este se compraz em
criar para Diana de Aveleda um marido – a quem escreve cartas que publica – filhas,
amigas, criadas, visitas e toda uma biografia que fica implícita nos seus textos»
(Fedeli, 2007: 10).
A sua educação inglesada bem como
a leitura de Richardson, Jane Austen, Goldsmith, Balzac e Dickens formaram o
seu gosto que surge teorizado em «Ideias Que Me Ocorrem», postumamente
publicado no volume de Inéditos e Esparsos (1910).
Em 1871, com 32 anos e vítima de
tuberculose, morre Júlio Dinis, aquele que «pode justamente considerar-se
cronologicamente o primeiro romancista da literatura portuguesa», na opinião de
António José Saraiva (1992: 770).
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Fonte:
Fonte:
Rosa Margarida Pinto Leite: “A narrativa
breve de Júlio Dinis”. (Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para
cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Línguas,
Literaturas e Culturas, realizada sob a orientação científica do Doutor António
Manuel dos Santos Ferreira, Professor Associado com Agregação do Departamento
de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro). Universidade de Aveiro, 2010.
Nota:
Para uma compreensão mais ampla do tema,
recomendamos a leitura da tese em sua totalidade. Disponível em: http://ria.ua.pt/
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