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Euclides da Cunha
[...]
Euclides
da Cunha acreditava firmemente no modelo platônico, o qual preconizara um
governo dos sábios. Para ele, investir na educação e em tudo aquilo que
pudesse trazer para a sociedade as conquistas da civilização deveria ser o
norte do governo republicano. Mas nada disso ocorria, e as contradições
provocadas pelo jogo de interesses continuavam, numa constância e firmeza, para
ele, exasperantes. “A ver navios! Nem outra coisa faço nesta adorável
República, loureira de espírito curto que me deixa sistematicamente de lado..” Começou a
percorrer o Brasil, num misto de engenheiro e jornalista, e, por isso mesmo,
vendo, desbravando, trabalhando, criando, mas, principalmente, escrevendo, pois
o poder da palavra escrita havia-se tornado um dos recursos mais importantes
naqueles tempos em que o progresso se fazia presente.
O
engajamento de Euclides o levaria a montar Rocinante, passos lentos e tardos,
como o que havia conduzido o cavaleiro da triste figura. Afinal, só assim se
poderia trilhar aquele Brasil gigantesco, mas com uma estrutura social e
econômica perversa e excludente, sem falar nos sistemas viário e de
comunicação, nenhum deles condizente com as necessidades que o país tinha para
entrar na chamada modernidade. E como ele não apreciava “as multidões
ruidosas”, começou a procurar, naquela hora, os locais, “as cidades, que se
ocultavam majestosas, na tristeza solene do sertão”. Deste modo, ele
assumiu o projeto de conhecer o país, desprezando a idealização européia tão
valorizada pela maior parte dos intelectuais brasileiros naquele momento
crucial de nossa história. Suas convicções, inúmeras vezes, caíram por terra,
conflitando com seus valores e prejudicando, quase sempre, sua vida pessoal.
Ele, no entanto, manteve seu projeto, brandindo uma lança precária e
protegendo-se com um escudo assustadoramente frágil, mas investindo contra um
inimigo que se mantinha inabalável. Urgia não perder as ilusões. Urgia
combater. Importava mesmo, segundo Euclides, concretizar mudanças que pudessem
conduzir o país aos trilhos do progresso, fazê-lo chegar à chamada modernidade.
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Fonte:
Tarciso Gomes do Rego: “Vargas Llosa reescreve Euclides: Uma proposta de Brasil”. (Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduaçãoem Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro Requisito para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas. Área: Estudos Literários Neolatinos. Opção: Literaturas Hispânicas. Orientador: Víctor Manuel Ramos Lemus). Rio de Janeiro, 2010
Fonte:
Tarciso Gomes do Rego: “Vargas Llosa reescreve Euclides: Uma proposta de Brasil”. (Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduaçãoem Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro Requisito para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas. Área: Estudos Literários Neolatinos. Opção: Literaturas Hispânicas. Orientador: Víctor Manuel Ramos Lemus). Rio de Janeiro, 2010
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