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Olavo Bilac, aspectos biográficos e a crítica
Olavo Brás Martins dos Guimarães
Bilac nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 16 de dezembro de 1865, num sobrado da rua da Vala.
Bilac teve sua infância marcada pela
Guerra do Paraguai (1864-1870). Seu pai, o Dr. Brás Martins dos Guimarães Bilac, médico, fora em missão para os campos
de batalha, só retornando com o fim da
guerra. Ainda criança, participou da multidão que foi saudar o desembarque do 13º Batalhão dos Voluntários da Pátria, sob o
alarido do povo, as chaminés dos navios,
o repicar dos sinos, o toque do Hino Nacional e tudo isto envolvido pela brisa e o azul do mar. Bilac
também e ainda em tenra idade ouviu, de
seu pai, narrativas impressionantes sobre a guerra, que certamente forjaram nele o seu espírito patriótico.
Na adolescência, Bilac se
embevecia pelos poetas franceses Victor Hugo, Gautier, Leconte de Lisle e Herédia, e
cultivava a amizade Artur de Oliveira (1851-1882), que chegou ao Brasil, vindo
da França, trazendo consigo os segredos da técnica parnasiana.
A vida amorosa de Bilac também
foi um fator que moveu e influenciou sua visão do mundo e está fortemente
registrada em sua poesia, e merece ser brevemente mencionada neste trabalho.
Bilac amava Amélia, a irmã do poeta Alberto de Oliveira31, mas o irmão mais
velho de Amélia, Juca, ao ver-se chefe da família pela morte do pai, negou o
pedido de casamento de Bilac com Amélia, a inspiradora de Via Láctea, por
considerá-lo um boêmio, irresponsável, que nem emprego tinha, embora Bilac não
fosse tão boêmio assim. Este fato pode ter afetado sua vida acadêmica,
levando-o a se desfazer dos cursos, atormentando e entristecendo sua vida.
Bilac não mais amou outra mulher e sua vida de sucesso profissional provou exatamente
o contrário do que pensava o irmão de Amélia.
Bilac estudou medicina no Rio de
Janeiro, mas abandonou o curso para estudar Direito em São Paulo, que também
não concluiu, abraçando o jornalismo e a literatura. Participou intensamente de
política, das campanhas cívicas de alcance nacional e foi um defensor da
instrução primária, da educação física e exerceu também a inspeção escolar Perseguido
pelo governo do marechal Floriano Peixoto, por ocasião da revolta de 1893,
escondeu-se em Vila Rica, Minas Gerais, e depois foi recluso na fortaleza de
Laje, no Rio de Janeiro.
Conferencista notável e mestre
das palavras, Olavo Bilac foi formador de opinião e de mentalidade,
estreando-se em 1888 com seu livro Poesias, aos 23 anos. Acumulavam-se nele o
jornalista profícuo, o propagandista entusiasmado da educação pública, o autor
de poesias infantis, o patriota, o célebre conferencista mundano, tradutor,
tratadista poético.
Exerceu diversos cargos públicos
como: oficial da Secretaria do Interior do Rio de Janeiro, inspetor escolar do
antigo Distrito Federal (Rio de Janeiro) e secretário da III Conferência
Pan-americana do Rio de Janeiro, em 1906. Idealista e divulgador dos princípios
nacionalistas, Bilac fez campanhas como a do serviço militar obrigatório, que
ele viu como um meio de alfabetizar os adultos.
A personalidade de Olavo Bilac,
de forte cunho literário e social, fez com que se tornasse o poeta mais lido do
país nas duas primeiras décadas do século XX. Foi idolatrado em vida pelo
público do Brasil, talvez por ter sabido elevar dois sentimentos humanos
comuns: o amor à mulher e a veneração à Pátria. Segundo o crítico Sílvio
Romero32 (citado por Barbosa, 1965):
Os versos lhe saem correntios,
deslizam-se doces, maviosos, como se fossem falas decoradas e repetidas sem o
mínimo esforço. Em suas composições avultam dois gêneros principais: idealizações
históricas, feitas com invejável maestria, e efusões amorosas como não há
melhores em línguas românticas (BARBOSA, 1965).
De fato, Olavo Bilac foi um poeta
parnasiano além de seus contemporâneos. Mais do que os poemas Herédia, os de
Olavo Bilac eram requintados estudos de efeitos sonoros que poderiam ser
extraídos da palavra falada. Este procedimento conferia plasticidade e vida à
poesia de Bilac. Sua poesia transbordava de sonoridade e timbre, como que para
desviar ao ouvido a sensação de “fórmula” da rígida estética parnasiana. Para
ele o ouvido era o melhor mestre do poeta. O uso de variadas rimas,
aliterações, assonâncias, elisões e absorções revestia a expressão de seu
pensamento em cores, timbres, ritmos, sons e ruídos. Enfim, seus poemas
preciosamente apurados, fluíam numa natureza sonora própria, numa alquimia que
formulava música usando versos como instrumento.
Contudo, essa busca de novos
elementos sonoros já se fazia presente na primeira metade do século XIX, na
poesia de Allan Poe (1809 -1849) e era uma tendência da poesia finissecular
simbolista de Baudelaire e Rimbaud (1854-1891). Podemos perceber analogamente
esse novo conceito de som nas obras de Debussy (1862-1918), Schoenberg
(1874-1951) e Webern (1883-1945).
Debussy, assim como Bilac,
pesquisava as sonoridades da linguagem e as empregava como inovações musicais
que eram baseadas, em certo sentido, nas inflexões sutis e especiais da língua
e da poesia francesas, no caráter oposto ao forte acento métrico e ritmo da
música italiana e alemã, na organização fluida e não-simétrica do metro
francês. Os sons e seus padrões relacionam-se através de critérios auditivos
arbitrários e sensuais, não se submetendo às regras do movimento e resoluções
da lógica linear tonal. Essa dissociação do evento individual do som elevou o
timbre e a articulação a um ponto de paridade com a harmonia e o ritmo. Esse
som desvinculado e coisificado de Satie (1866-1925), Debussy, Shoenberg e
Webern transformou a música, oferecendo ao século XX um amplo estudo tímbrico,
gerando a expansão de técnica instrumental e orquestral, paralelamente à
expansão de materiais.
Aplicava-se o uso de abafadores,
sons velados nos violinos, articulação da língua nos sons de flauta e
expressões como col legno, battuto e tratto. (SALZMAN, 1970)
Eis a observação de Sílvio
Romero, confirmada pelo próprio poeta:
[...] Todas as palavras cabem no
verso: tenha o versificador paciência, conheça a língua e adquira um apuro
superior do ouvido. [...] [...] Da homofonia do verso trata Castilho33; não
trata, porém, da rima, e nesta a uniformidade de som, variando apenas e quase
sempre de mais abertos para mais fechados e vice-versa, é, a meu ver, sempre
desagradável e não sei se algo haverá que a sancione.[...] (BILAC; PASSOS, 1905,
p.33).
Mário de Andrade, em crítica ao
poeta no Jornal do Comércio do dia 20 de agosto de 1921, reafirma o talento
para a poesia artesanal de Bilac e descobre nele o poeta de vanguarda, que
brincava de simbolismo:
[...] Por enquanto quero
considerar Bilac como deputado da Beleza na terra do Brasil. [...] [...] Como
deputado da Beleza era natural que Bilac estivesse estudado a arte de agradar
por meio de seus versos... E que técnica formidável![...][...]
Inteligentíssimo, estudioso, paciente, o tapeceiro de As viagens adquiriu uma facilidade,
uma segurança, uma perfeição tal no manejo do alexandrino, e mesmo de outros
metros, que confina com a genialidade. Se quiserem: Bilac é o malabarista mais
genial do verso português. [...] [...] Quando devorei Tarde pela primeira vez, o
meu pensamento parou estarrecido (não sei se me compreendem) diante destes
versos: Um cometa passava... Reli, Tornei a ler. Creio mesmo que treli. Qual!
Não compreendia! Que diabo! Olavo fizera simbolismo! Ou coisa que o valha? Não
podia ser! Reli. Qual! Não entendia. Senti que pesava a minha alma parnasiana!
Joguei-a fora. Eureka! Esplendor! Fecundação! As palavras brilhavam como vidas.
As idéias palpitavam como profecias... [...] Fizeste com que o deputado da
Beleza sonhasse o que sonhamos todos nós – a criançada de hoje – com os nossos olhos
abertos: o futuro sincero e libertário da poética brasileira![...] E de ambos
vives a zombar assim. [...] (BILAC, Obra Reunida, 1996, p.37).
Olavo Bilac também possuía plena
e angustiada consciência das limitações da escola parnasiana, manifestadas em
certos trechos de uma crônica sua, publicados em O Estado de São Paulo:
Qualquer um de nós pode, com
maior ou menor esforço, fixar em versos mais ou menos perfeitos uma idéia mais
ou menos nova. Tudo é questão de estudo e paciência: não há dificuldade que a pertinácia
não vença; e fazer jogos malabares com as palavras é prodígio que só pode
maravilhar os que não se iniciaram no mistério desta arte vulgar. Que valem
nossos sonetos, nossas baladas, nossas fantasias de vôo curto? O artifício
chinês que consome um ano de trabalho, em cavar e arrebitar o pedacinho de marfim,
para dele extrair uma maravilha de escultura microscópica, tem mais valor do
que qualquer um de nós... Poetas como o maior de nós, aparecem às dúzias, por
ano, por esse vasto mundo; aparecem, brilham um momento, e apagam-se e desaparecem
como flóculos de espuma no mar sem raias do tempo. “Poeta” quer dizer “criador”
– continuador e rival de Deus - capaz de
tirar a luz das trevas e a inércia da morte, a palpitação da vida... Nós outros
somos os miniaturistas do sentimento, os fabricantes dos pechibeques
literários, que a moda aclama e repele, ao sabor dos caprichos. Um capricho nos
eleva, outro capricho nos abate, e, dez anos depois da nossa morte, já os homens
acham aborrecido e pretensioso aquilo que tanto esforço nos custa (PONTES,
1944, p. 551).
Cultor da perfeição estilística
integrou, juntamente com Alberto Oliveira e Raimundo Corrêa34, a famosa tríade
parnasiana brasileira. Seus poemas em forma de soneto de chave-de-ouro eram
declamados em toda parte, pelos saraus e salões literários.
Em 1907, aproveitando-se da época
em que a poesia ocupava a alma da grande maioria dos brasileiros, a revista
carioca Fon-Fon promoveu um concurso para reconhecer o Príncipe dos Poetas e
Bilac era o mais aplaudido, o mais popular, o mais idolatrado.
No dia três de outubro daquele
ano, num grande banquete onde estavam representadas todas as classes sociais,
Bilac recebeu a mais alta homenagem já prestada a um homem de letras no Brasil.
Como Príncipe dos Poetas, Bilac então falou: “O que estais, como brasileiros,
louvando e premiando, nesta sala, é o trabalho árduo, fecundo, revolucionário e
corajoso da geração literária a que pertenço. [...]” (BARBOSA, 1965, p.105).
Olavo Brás Martins dos Guimarães
Bilac, que tem por nome a fórmula do verso alexandrino (12 sílabas) faleceu em
1918, no dia 28 de dezembro, na rua Barão de Itambi, 35, de edema pulmonar em
conseqüência de uma hipertrofia cardíaca da qual sofria havia anos. Seu velório
foi do Silogeu Brasileiro e enterro, com imenso cortejo, no cemitério São João
Batista.
As obras poéticas de Olavo Bilac
foram: Poesias (1888): Profissão de Fé, Panóplias, Via Láctea, Sarças de Fogo,
Alma Inquieta, As Viagens, O Caçador de Esmeraldas; Tarde (1919) e Poesias
infantis (1895). Sua obra em prosa: Crítica e Fantasia (1904), Conferências
Literárias (1906), Ironia e Piedade (1916) e Últimas Conferências e Discursos
(1924).
Barbosa (1965, p. 9) inicia seu
livro com uma reflexão que sintetiza a obra de Olavo Bilac: “A era Bilaquiana é
um marco brilhante da história de nossa Poesia. Reveste-se, perante qualquer
geração, de uma luminosidade de caríssimo relicário”.
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Fonte:
Fonte:
Francisco Braga: “uma análise
poética e musical de sua canção Virgens
mortas, sobre soneto homônimo de Olavo
Bilac”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Escola de
Música da Universidade Federal de Minas Gerais Orientador: Prof. Dr. Maurício
Veloso Queiroz Pinto). Belo Horizonte,
2006.
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