03/01/2014

Os Timbiras, de Gonçalves Dias

 Goncalves Dias - Os Timbiras - Iba Mendes
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Gonçalves Dias e os Timbiras


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A missão de Gonçalves Dias consiste em ultrapassar os termos estabelecidos pela literatura colonial, que, desde a carta de Caminha estabelecera um confronto entre os dois mundos: em que o conquistador é o representante da civilização, e os índios os representantes da barbárie. Ou o primeiro a bondade natural humana e o segundo corporificando a maldade18. Cabia aos conquistadores uma tarefa, que Caminha mesmo sugeriu: salvar a terra, salvar a gente que nela habita. Mas por trás desse salvamento e do combate à barbárie praticou-se a barbárie, em combate à injustiça mataram-se homens, velhos, mulheres e crianças, em nome do cristianismo destruiu-se, em combate ao paganismo cometeram os mesmos sacrifícios humanos.

Gonçalves utiliza o termo índios, e isto revela o desconhecimento da identidade do outro, porque este termo provém do pseudo-hindu; acaba por sua vez o índio assumindo aquela que lhe foi atribuída. Herculano também reconheceria que o poeta tem muito de trato do português na sua lírica. Mas o indianismo gonçalvino possui três grandes autenticidades: pelo sangue, porque era filho de uma guajajara com um português; pelo conhecimento direto com os índios, pelos estudos realizados, como em Brasil e Oceania.

Salvo a terceira alternativa, as duas primeiras são controversas, a primeira porque carece de maiores fontes se teria tido o poeta sangue indígena em sua miscigenação, fato que muitos escritores não reconhecem e nem é possível comprovar através de análise por parentes, porque não existem descendentes do poeta – nem mesmo o poeta conheceu o local da sepultura de sua filha – e o corpo do poeta precipitou-se no mar, impossibilitando uma comprovação por meio da arcada dentária; a segunda porque, conforme veremos, o poeta atribui aos Timbiras costumes dos tupinambás, embora alguns teóricos afirmem que seja pelo conhecimento que tinha dos tupinambás e pela ignorância dos costumes dos Timbiras.

Todavia optamos por acreditar que teria o poeta optado por louvar os Timbiras, índios que ocupavam a maior parte do seu estado natal, o Maranhão, atribuindo costumes tupinambás talvez porque estes já eram tidos como uma raça nobre, e pelo fato do desconhecimento da tribo Timbira, e que o poeta quisesse legitimá-los. De acordo com Angione Costa, os Gês não foram povos de civilização inferior aos Tupis-guaranis, antes tão adiantados quanto eles, se não mais nas indústrias domésticas, tendo, porém, ânimos menos propensos às atrações da guerra, aos pendores marciais. Só assim se explica que, em todos os campos onde se defrontaram com os seus valentes e aguerridos inimigos, sempre lhes cederam o lugar, sempre se deixaram bater.

No entanto, esta afirmação não compromete a obra de Gonçalves, porque o seu caráter não é histórico e sim poético. Em diversos momentos a verdade poética seria inquestionável na obra do poeta. Gonçalves sobrepõe à realidade, arquiteta uma sociedade convencional, uma civilização ideal, um Brasil fora de sua rude verdade.


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Fonte:
Weberson Fernandes Grizoste: “Reflexos anti-épicos de Virgílio no indianismo de Gonçalves Dias”. (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Dissertação de mestrado em Poética e Hermenêutica, especialidade de Poética e Hermenêutica, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, sob a orientação do Professor Doutor Carlos Ascenso André). Coimbra, 2009

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