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Gonçalves Dias e os Timbiras
[...]
A
missão de Gonçalves Dias consiste em ultrapassar os termos estabelecidos pela
literatura colonial, que, desde a carta de Caminha estabelecera um confronto
entre os dois mundos: em que o conquistador é o representante da civilização, e
os índios os representantes da barbárie. Ou o primeiro a bondade natural humana
e o segundo corporificando a maldade18. Cabia aos conquistadores uma tarefa, que Caminha
mesmo sugeriu: salvar a terra, salvar a gente que nela habita. Mas por trás
desse salvamento e do combate à barbárie praticou-se a barbárie, em combate à
injustiça mataram-se homens, velhos, mulheres e crianças, em nome do
cristianismo destruiu-se, em combate ao paganismo cometeram os mesmos
sacrifícios humanos.
Gonçalves
utiliza o termo índios, e isto revela o desconhecimento da identidade do outro,
porque este termo provém do pseudo-hindu; acaba por sua vez o índio assumindo
aquela que lhe foi atribuída. Herculano também reconheceria que o poeta tem
muito de trato do português na sua lírica. Mas o indianismo gonçalvino possui
três grandes autenticidades: pelo sangue, porque era filho de uma guajajara com
um português; pelo conhecimento direto com os índios, pelos estudos realizados,
como em Brasil e Oceania.
Salvo
a terceira alternativa, as duas primeiras são controversas, a primeira porque
carece de maiores fontes se teria tido o poeta sangue indígena em sua
miscigenação, fato que muitos escritores não reconhecem e nem é possível
comprovar através de análise por parentes, porque não existem descendentes do
poeta – nem mesmo o poeta conheceu o local da sepultura de sua filha – e o
corpo do poeta precipitou-se no mar, impossibilitando uma comprovação por meio
da arcada dentária; a segunda porque, conforme veremos, o poeta atribui aos
Timbiras costumes dos tupinambás, embora alguns teóricos afirmem que seja pelo
conhecimento que tinha dos tupinambás e pela ignorância dos costumes dos
Timbiras.
Todavia
optamos por acreditar que teria o poeta optado por louvar os Timbiras, índios
que ocupavam a maior parte do seu estado natal, o Maranhão, atribuindo costumes
tupinambás talvez porque estes já eram tidos como uma raça nobre, e pelo fato
do desconhecimento da tribo Timbira, e que o poeta quisesse legitimá-los. De
acordo com Angione Costa, os Gês não foram povos de civilização inferior aos
Tupis-guaranis, antes tão adiantados quanto eles, se não mais nas indústrias
domésticas, tendo, porém, ânimos menos propensos às atrações da guerra, aos
pendores marciais. Só assim se explica que, em todos os campos onde se
defrontaram com os seus valentes e aguerridos inimigos, sempre lhes cederam o
lugar, sempre se deixaram bater.
No
entanto, esta afirmação não compromete a obra de Gonçalves, porque o seu
caráter não é histórico e sim poético. Em diversos momentos a verdade poética
seria inquestionável na obra do poeta. Gonçalves sobrepõe à realidade,
arquiteta uma sociedade convencional, uma civilização ideal, um Brasil fora de
sua rude verdade.
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Fonte:
Fonte:
Weberson
Fernandes Grizoste: “Reflexos anti-épicos de Virgílio no indianismo de
Gonçalves Dias”. (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Dissertação de
mestrado em Poética e Hermenêutica, especialidade de Poética e Hermenêutica,
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, sob a orientação
do Professor Doutor Carlos Ascenso André). Coimbra, 2009
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