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Breve Análise
INTRODUÇÃO
Poema desenvolvido em dez cantos, tendo como tema central
o drama vivido pelo último descendente da tribo tupi.
É sabido que o índio teve papel relevante no romantismo
brasileiro. Sabe-se também que esse mesmo índio dentro da vertente romântica
possui atributos de perfeição, um ser idealizado, cujo comportamento seria
reflexo do modelo ideal da “nobre civilização” branca. Na Europa essa
idealização deu-se através da mitificação dos heróis da Idade Média, tida como
uma época de glórias, período pelo qual se formaram as grandes nações.
No Romantismo brasileiro o índio é eleito para exercer a função
do nobre e ostentoso cavaleiro medieval. De acordo com o ensaísta Eugênio
Gomes, é especificamente no poema I -
Juca Pirama que o índio perde a sua “selvatiqueza”. Afirma ele: “...é atribuído à tribos dos Timbiras um
sentimento que eles não tiveram jamais: a compaixão”.
BREVE ANÁLISE
O título, obviamente de origem indígena, em tupi-guarani significa “aquele que há de morrer”. Típico herói romantizado, perfeito e sem mácula, que melhor representa os sentimentos do leitor burguês no período da escola romântica brasileira.
I - Juca Pirama é o último descendente da tribo
tupi. Sabe-se que havia no Brasil inúmeras tribos indígenas (o próprio poema
fala da tribo dos Timbiras). Qual então a razão pela qual Gonçalves Dias elegeu
especificamente um guerreiro da tribo tupi? O que havia de tão especial nessa
tribo?
Para os historiadores, houve basicamente dois ramos da
linhagem indígena: os tapuias (os que primeiro passaram os Andes e subiram pelo
interior) e os tupis (os que subiram pelo litoral). Dos povos indígenas que
aqui se estabeleceram, os tupis, por esforço próprio, foram os únicos que
culturalmente se mantiveram com extremo vigor. Dessa forma, na visão romântica,
os tipis seriam os legítimos representantes da tradição secular dos índios
brasileiros. Ainda hoje, nacionalistas extremados, os novos “Policarpos
Quaresmas”, vêem ainda na cultura tupi, a lídima representante da cultura
brasileira.
CANTO I:
Apresenta e descreve a tribo dos timbiras.
“(...) Alteiam-se os
tetos d’altiva nação;
São muitos seus
filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra,
que em densas coortes
Assombram das matas
a imensa extensão”.
Os índios aqui são retratados como seres fortes, soberanos
da imensa terra brasileira; são os verdadeiros senhores desta terra, que reinam
majestosa e livremente sobre o solo que lhes pertenciam legitimamente.
“São rudes, severos,
sedentos de glória.
(...)
São todos Timbiras,
guerreiros valentes!
A tribo da qual pertenciam os timbiras praticava o canibalismo
de maneira ritual. Eles não sacrificavam o inimigo por gula. Os rituais de
sacrifício não significavam para eles sacrílegos banquetes, mas cerimônias de
culto. Trincava a carne do inimigo como se fizesse um desagravo, e uma honra à
tribo desagravada. É o que se poderia denominar de “antropofagia heróica”, algo
bastante distinto da antropofagia religiosa ou doméstica, que era comum entre
os índios tapuias.
“No centro da taba
se estende um terreiro,
onde ora se aduna o
concílio guerreiro
Da tribo senhora,
das tribos servis:
Os velhos sentados praticam
d’outrora.
E os moços
inquietos, que a festa enamora,
Derramam-se em torno
dum índio infeliz”.
A tribo senhora é exatamente a tribo dos timbiras que se
preparava para praticar o ritual canibalístico. O índio infeliz é I - Juca
Pirama, que fora feito prisioneiro por essa tribo. Nesse ínterim, os velhos
índios recordavam os grandes feitos do passado.
“Quem é? - ninguém
sabe: seu nome é ignoto,
Sua tribo não diz: -
de um povo remoto
Descende por certo -
dum povo gentil;
(...)
O narrador utiliza o adjetivo nobre para definir o prisioneiro. Apresenta-o como um guerreiro
especial, que descende de igual modo de uma tribo especial. É relevante notar
que, ao narrar a cerimônia de preparação do sacrifício, o poeta incorpora
inúmeros elementos da cultura indígena, tais como: derrubar o teto da prisão do
índio; convidar as tribos vizinhas para a cerimônia; adornar a maça (arma) com
penas; raspar a cabeça do prisioneiro etc.
“Por casos de guerra
caiu prisioneiro”
A causa da prisão do guerreiro tupi foi exatamente a
guerra. O tupi vivia para a guerra. Tinha, da sua força e da sua coragem,
profundo orgulho, associado a uma verdadeira paixão de glória. Vencer um
inimigo era a maior ufania de um guerreiro tupi.
“Afeitas ao rito da
bárbara usança”
Nesse trecho o poeta revela que as mulheres da tribo
estavam acostumadas ao ritual de sacrifício do inimigo.
CANTO II:
Aqui o narrador revela a festa canibalística dos timbiras
e a aflição do guerreiro tupi, que logo seria sacrificado.
“Em fundos vasos
d’alvacenta argila
ferve o cauim;
Enchem-se as copas,
o prazer começa,
reina o festim.
O ritual está sendo preparado conforme os costumes das
tribos. Segue-se “religiosamente” os costumes dos antepassados. Observa-se aqui
uma mudança na métrica dos versos, realçando o evento que pretende consumar. A
antropofagia praticada pelos índios existia como conseqüência dos excessos de
bravura e de vingança vividos por eles. As cerimônias confundiam-se com as
celebrações da guerra.
“O prisioneiro, cuja
morte anseiam,
sentado está...
I - Juca Pirama aguarda o momento pelo qual será
sacrificado. Não fosse o fato de seu velho pai ser cego e doente, haveria por
parte do guerreiro aceitação do ritual com toda a normalidade que era própria
das tribos.
“Que temes, ó
guerreiro?
Não era comum entre os índios o fato de um guerreiro temer
a morte. Tal atitude era considerada um ato de covardia.
CANTO III:
Apresentação do último remanescente tupi: I - Juca Pirama
“Dize-nos quem és,
teus feitos canta,
ou se mais te apraz,
defende-te”
Antes de ser executado cerimonialmente, o guerreiro é
convidado a entoar o seu canto de morte, o que é feito no IV canto.
CANTO IV:
I - Juca Pirama, aprisionado pelos timbiras, declara o seu
canto de morte e pede ao cacique dessa tribo que o deixe ir para cuidar do seu
pai que padece enfermidades (Só o narrador fora preso, o pai ficará distante).
“Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das
selvas,
Nas selvas cresci
Apresentação do narrador épico. Como se trata de uma
experiência essencialmente pessoal e familiar, emocionada e dolorida, pode-se
esperar também por um clima trágico e lírico.
“Da tribo pujante,
Que agora anda
errante
Por fado
inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou
forte...
Existiram tribos que em lutas contra os brancos e os
próprios índios se extinguiram. Aqui, o narrador é um remanescente tupi, tribo
que, como muitas outras foram exterminadas, principalmente pelos brancos, e mais
especificamente, pelos portugueses e espanhóis.
“Aos golpes do
inimigo
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
acerbo desgosto
Comigo sofri”.
É interessante notar aqui certo “preâmbulo narrativo”
qualificando o narrador, que se refere diretamente a decadência final dos
tupis.
“Meu pai a meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Nós ambos,
mesquinhos...
Somente a partir desta estrofe é que se tem início
realmente a história. Mesquinhos
nesse contexto tem o sentido de “fracos”, “abandonados”.
“O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto,
Só qu’ria morrer!
Não mais me
contenho,
Nas matas me
embrenho,
Das frechas que
tenho
Me quero valer.
Faz-se mister realçar o pequeno número de sílabas.
Narrativa elaborada com esse tipo de metro é algo bastante comum na épica
popular da Península Ibérica: a isso se chamava romance, que, nesse caso, era um tipo de poesia narrativa de
inspiração heróica e popularesca.
“Deixai-me viver!”
Atitude desse tipo não condizia com um verdadeiro
guerreiro, por esse motivo, os que o aprisionara viram nesta súplica um
sentimento de temor e covardia.
(...)
“Guerreiros, não
coro
Do pranto que choro;
Se a vida deploro,
Também sei morrer”.
Para os inimigos que o preparava ao sacrifício ritual, o
herói - ao chorar - mostrava covardia (não parecia um guerreiro tupi, senão um
tupiniquim). Dessa forma, o guerreiro a ser sacrificado não era digno das galas
da morte como “I - JUCA PIRAMA”.
CANTO V:
Ao escutarem o canto de morte do guerreiro tupi, os
timbiras entendem ser aquilo um ato de covardia e dessa forma o desqualifica
(como já fora citado) para tão nobre morte.
“És livre; parte!”
Os timbiras o libertam, e imediatamente o guerreiro tupi
corre para o seio do pai.
CANTO VI:
O filho encontra-se com o pai que, ao pressentir o cheiro
de tinta que os timbiras costumavam utilizar para rituais de sacrifício,
desconfia da conduta do filho, e decide, ambos, partir para cessa tribo na tentativa
de provar aos tais que a tribo tupi é verdadeiramente honrada.
CANTO VII:
Sob alegação de que os tupis são fracos, o chefe dos
timbiras não quer aceitar a consumação do ritual no qual se provaria a honra
dos tupis.
CANTO VIII:
O pai maldiz o suposto filho covarde.
“Tu choraste em
presença da morte?
Na presença de
estranhos choraste?
Não descende o cobarde
do forte;
pois choraste, meu
filho não és!
Possas tu,
descendente maldito
De uma tribo de
nobres guerreiros
Implorando cruéis
forasteiros
Seres presa de vis
Aimorés”.
Nos quatro primeiros versos, a estranheza do pai. Como
poderia seu filho chorar, se era um bravo guerreiro? Nos quatro versos
seguintes começa a admoestação ao filho “maldito”.
“Um amigo não tenhas
piedoso
Que a teu corpo na
terra embalsame,
Pondo em vaso
d’argila cuidoso
Arco e flecha e
tacape a teus pés!
Sê maldito, e
sozinho na terra.
Pois que a tanta
vileza chegaste,
Que em presença da
morte choraste,
Tu, cobarde, meu
filho não és”.
A maldição paterna reúne o conjunto de tudo aquilo que
significava horror para os selvagens, especialmente a transformação da natureza
em punição e solidão.
CANTO IX:
Enraivecido o guerreiro tupi lança o seu grito de guerra e
derrota valentemente a todos em nome de sua honra.
“ - Basta! clama o
chefe dos Timbiras,
Basta, guerreiro
ilustre! assaz lutaste...
CANTO X:
O velho (o narrador) rende-se frente ao poder tupi e diz a
célebre frase: “Meninos, eu vi!”.
A DIGNIDADE DA TRIBO TUPI FORA
PRESERVADA!
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