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A obra
As Novelas do Minho foram escritas entre 1875 e 1877, na fase de maturidade intelectual de Camilo (1825 – 1890) que,
entre 1863 e 1890, permaneceu com regularidade em S. Miguel de Ceide, Vila Nova
de Famalicão. São um conjunto de oito novelas, todas redigidas no referido lugar minhoto, excepto «O
Comendador», escrito em Coimbra. Seguem-se os títulos das novelas, com a respectiva data de
redacção:
«Gracejos
que matam», 26 de Agosto de 1875;
«O
Comendador», 15 de Outubro de 1875;
«O Cego de
Landim», 3 de Julho de 1876;
«A Morgada de Romariz»,
Julho de 1876;
«O Filho
Natural», 25 de Setembro de 1876;
«Maria
Moisés», Novembro de 1876 ;
«O
Degredado», 20 de Novembro de 1876;
«A Viúva do Enforcado»,
1877.
Durante os
últimos anos de vida, com família para sustentar e sem outro recurso para além do seu trabalho, Camilo fez da
escrita o seu único ganha-pão. As Novelas do Minho foram, portanto, escritas para serem editadas, em publicações mensais,
pela editora Matos Moreira e C.ª. As palavras de Albino Forjaz de Sampaio, que teve
em seu poder alguns volumes de Copiadores de cartas da editora, testemunham este contexto:
Em maio
Camillo pára em Famalicão, em julho na Póvoa, em setembro em S. Miguel de Seide. Em janeiro de 1877 Camillo está no
Pôrto e ainda ali está em maio. Em agosto já a correspondência o vai procurar a Seide. Entretanto a
crise monetária tornou-se agónica.
Êle recebe sucessivamente vários dinheiros, pagamentos de trabalho uns, adeantamentos outros. Pelo Cego de
Landim, Morgadinha de Romariz e Conferencias de Oratoriano enviam-lhe 260$000 réis; por duas Novelas do Minho “que remetterá opportunamente”, 160$000
réis; pelo Filho Natural, 250$000 réis; pela Maria Moysés, 160$000 réis; pela 1.ª parte da Viuva do Enforcado, 80$000 réis e pela 2.ª e 3.ª 160$000 réis.
As Novelas do Minho têm como cenário o campo minhoto. Na introdução
de «O Comendador», Camilo explicita o seu propósito de nelas mostrar «o miôlo, a
medula, as entranhas romanticas do Minho», «os costumes, o viver que por aqui
palpita no povoado d’estes arvoredos
onde assobia o melro e a philomella trilla» .
Produzidas num contexto
coincidente com a emergência da Geração de 70, as Novelas do Minho ocupam um lugar controverso na obra camiliana, sendo
situadas por alguns críticos numa fase realista da produção de Camilo. Muita tinta
tem corrido em torno desta questão, abordada
por Abel Barros Baptista na introdução à sua edição das novelas: uns defendendo a afeição camiliana pelo realismo e
naturalismo, outros considerando as suas últimas obras como uma paródia destas novas correntes.
O próprio
autor tem alguma coisa a dizer a este respeito. Lê-se no prefácio à 5ª edição do
Amor de Perdição, redigido, por Camilo, em S. Miguel de Ceide, a 8 de
Fevereiro de 1879, próximo, portanto, da escrita das Novelas do Minho:
Faz-me
tristeza pensar que eu floreci nesta futilidade da novela quando as dores da
alma podiam ser descritas sem grande desaire da gramática e da decência.
Usava-se então a retórica de preferência
ao calão. (…) Ai! quem me dera ter antes desabrochado hoje com os punhos arregaçados para espremer o
pús de muitas escrófulas à face do leitor! Naquele tempo, enflorava-se a pústula;
agora, a carne com vareja pendura-se na escápula e vende-se bem, porque muita
gente não desgosta de se narcisar num espelho fiel. (Castro, p. 133)
Posto isto,
há aqueles que defendem que as Novelas do Minho representam uma mudança significativa na produção camiliana, outros
crêem que esta obra não apresenta alterações de fundo em relação a obras anteriores. Segundo Jacinto
do Prado Coelho, «as Novelas
do Minho marcam uma nova fase
da produção camiliana (…) em parte determinada pela evolução do meio literário
português.» (Barros Baptista, p. 21)
Posição diferente é a de
Alexandre Cabral que afirma «não serem as Novelas do Minho uma nova maneira de Camilo, visto não se registar qualquer
antagonismo de fundo entre este título e os anteriores», mas sim «a síntese da novelística camiliana»
(Cabral, p. 135) e acrescenta
serem «quando muito, uma paragem de reflexão» (Cabral, p. 139), «um exercício distractivo, para quem, aproveitando uma
paragem momentânea, continua o labor incessante na sedimentação
do trabalho produzido.» (Cabral, p. 135)
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Fonte:
Carlota Frederica Pimenta: “Edições crítica e genética de «A Morgada de Romariz» de Camilo Castelo Branco”. Dissertação orientada pelo Professor Doutor Ivo Castro. Mestrado em Estudos Românicos. Universidade de Lisboa Faculdade de Letras Departamento de Estudos Românicos. Lisboa, 2009.
Fonte:
Carlota Frederica Pimenta: “Edições crítica e genética de «A Morgada de Romariz» de Camilo Castelo Branco”. Dissertação orientada pelo Professor Doutor Ivo Castro. Mestrado em Estudos Românicos. Universidade de Lisboa Faculdade de Letras Departamento de Estudos Românicos. Lisboa, 2009.
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