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A Cachoeira de Paulo Afonso, de Castro Alves
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No que se refere ao poema de A
Cachoeira de Paulo Afonso (1876), a apresentação do estupro seguido de
desvirginamento forçado de Maria, pelo filho do senhor-de-engenho provocaria em
Lucas um sentimento de revolta ante o anúncio exterior que lhe causara torpor e
ódio; logo o escravo vem a bradar em uníssonas palavras pela vingança, através
do poema Sangue de africano, cujo título distingue claramente o “eu” do “outro”
(Ver anexo 24):
Aqui sombrio, fero, delirante
Lucas ergueu-se como o tigre
bravo...
Era a estátua terrível da
vingança...
O selvagem surgiu... sumiu-se o
escravo.
Crispado o braço, no punhal
segura!
Do olhar sangrentos raios lhe
ressaltam,
Qual das janelas de um palácio em
chamas
As labaredas, irrompendo, saltam.
Com o gesto bravo, sacudido,
fero,
A destra ameaçando a
imensidade...
Era um bronze de Aquiles furioso
Concentrando no punho a
tempestade!
No peito arcado o coração sacode
O sangue, que da raça não
desmente,
Sangue queimado pelo sol da
Líbia,
Que ora referve no Equador
ardente.
Observamos pelas quadras acima
que o eu poético atribui o sentimento de vingança como único sentimento
possível diante de tanto ultraje, aliás, texto e realidade encontram-se quando confrontamos
a pretendida vingança de Lucas frente às inúmeras violências perpetradas pelos escravos.
Tais argumentos sobre a violência serviria ainda mais para que a sociedade
avaliasse o mal social sobre a escravidão.
Como orientação para explicar o
comportamento de Lucas que desconstrói a imagem de escravo, buscando nas origens de
sua linhagem, no caso dele a Líbia, a força que redefiniria sua identidade, que
agora se apresentava metaforicamente como de um negro guerreiro e destemido: “Era
um bronze de Aquiles furioso”, “Concentrando no punho a tempestade!”. Tudo isso
seria típico, como ilustra o poema, do sangue de sua raça, ou seja, “Sangue
queimado pelo sol da Líbia,”, “Que ora referve no Equador ardente.” E diante do
que ouve, ele pede a sua amada que cesse a história e denuncie-lhe o nome do
criminoso, porque “Se a justiça da terra te abandona,”, “Se a justiça do céu de
ti se esquece,”, “A justiça do escravo está na força...”, “E quem tem um punhal
nada carece!...”.
A vingança, que para ele seria o mais nobre dos
presentes à amada, deixa-o sedento, ansioso pelo amanhã, a fim de que ele possa
alterar o fim do mencionado desfecho, mas Maria, na condição agora de
conselheira, pois ela o lembra da condição social de ambos, suplica, através do
poema Anjo, que ele não manche suas mãos num crime; diante disso, em tom de
revolta ele se desespera.
Todo o instante o ritmo do poema
é alternado pela fala mansa dela e a fala vingadora, audaz, instantânea da
dele. Após ouvi-la, ele lhe questiona exclamativamente quem lhe falou em crime
e replica-lhe dizendo que ela não sabe o que é crime, através do poema
Desespero: “Crime! Pois será crime se a jibóia”, “Morde silvando a planta, que
a esmagara?”, “Pois será crime se o jaguar nos dentes”, “Quebra do índio a
pérfida taquara?”
E após esses questionamentos, ele
exclama-lhe que ela para falar em crime ao cativo é porque nada sabe sobre o
que é ser escravo. Então, ele encadeia diversas definições conceituando o ser
escravo de forma arrebatadora, chocante, abjeta e principalmente em caráter de
revolta; então, ele a questiona quem lhe falara de crime, se foram os próprios
criminosos, é porque eles zombam da sorte de sua amada, então ele a questiona
se vale a pena morrer todos os dias debaixo do chicote, enquanto a fronte do
assassino não vem a revelar-lhe um só remorso.
[...]
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Fonte:
Valter Gomes Dias Junior: “poesia e identidade em Castro Alves”, (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, da Universidade Federal da Paraíba, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Letras, na área de concentração Literatura e Cultura. Orientadora: Profa. Dra. Zélia Monteiro Borá). João Pessoa, 2010.
Fonte:
Valter Gomes Dias Junior: “poesia e identidade em Castro Alves”, (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, da Universidade Federal da Paraíba, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Letras, na área de concentração Literatura e Cultura. Orientadora: Profa. Dra. Zélia Monteiro Borá). João Pessoa, 2010.
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