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Ricardo Reis
Nascido em Tavira, em 15 de
outubro de 1890 (às 13h30min), Álvaro de Campos estudou no liceu e formou-se
engenheiro naval. Em férias, tendo viajado ao Oriente, escreveu Opiário. Alto, magro,
cabelos lisos, cara rapada, ao estilo judeu-português. Álvaro de Campos surge quando
Fernando Pessoa sente um impulso para escrever. O próprio Pessoa considera que Campos
se encontra no extremo oposto a Ricardo Reis, apesar de ser como este um
discípulo de Caeiro.
Campos é o filho indisciplinado
da sensação e para ele a sensação é tudo.
O sensacionismo faz da sensação
a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar
tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir.
Este heterônimo aprende de
Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a sensação das coisas como são: procura
a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele
próprio afirma: “sentir tudo de todas as maneiras”.
Engenheiro naval e viajante, Álvaro
de Campos é configurado biograficamente por
Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil
particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna
e os valores do progresso.
Cantor do mundo moderno, o
poeta procura incessantemente sentir de tudo, de todas as maneiras, seja a força
explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. Poeta
da modernidade, Campos tanto celebra a civilização industrial e mecânica, como expressa
o desencanto do quotidiano citadino, adaptando sempre o ponto de vista do homem
da cidade.
Em sua obra podem ser
identificadas três fases. Num primeiro momento, em o Opiário, há o poeta
decadente, que exprime o tédio, enfado, cansaço e abatimento, que reclama de novas
sensações. Em busca destas, Campos traduz a falta de um sentido para a vida e a
necessidade de fugir à monotonia. Superado este momento, o poeta ingressa em uma
fase futurista/sensacionista, em que celebra o triunfo da máquina, da energia
mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atração pelas
máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos maquinismos em
fúria e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Seus
poemas Ode Triunfal ou Ode Marítima são bem
o exemplo desta intensidade e totalização das sensações.
Em um terceiro momento de sua
obra, Campos apresenta-se cansado, desiludido, numa mistura de revolta,
dispersão, angústia e desânimo. O poeta sente- se incapaz e incompreendido, mergulhando
em um momento de frustração total: incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento;
mundo exterior e interior. Há uma dissolução do “eu”, uma dor de pensar e uma nostalgia
da infância irremediavelmente perdida - “Raiva de não ter trazido o passado roubado
na algibeira!” (Aniversário).
Perante a incapacidade das
realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /
Íssimo, íssimo, íssimo, / Cansaço...”. O drama de Álvaro de Campos
concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é
uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento
e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação
à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra, o cepticismo, a dor
de pensar e a nostalgia da infância.
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Fonte:
Fonte:
Denise de Quadros: “Afetos e
estranhamento em o ano da morte de Ricardo Reis”. (Dissertação apresentada como
requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Letras na Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e as Missões, Campus de Frederico
Westphalen, pelo Departamento de Lingüística, Letras e Artes. Orientador: Prof. Dr.
Robson Pereira Gonçalves). Frederico Westphalen, 2008
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