29/12/2013

Poemas de Ricardo Reis, por Fernando Pessoa

 Fernando Pessoa - Poemas de Ricardo Reis - Iba Mendes
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Ricardo Reis

Nascido em Tavira, em 15 de outubro de 1890 (às 13h30min), Álvaro de Campos estudou no liceu e formou-se engenheiro naval. Em férias, tendo viajado ao Oriente, escreveu Opiário. Alto, magro, cabelos lisos, cara rapada, ao estilo judeu-português. Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente um impulso para escrever. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no extremo oposto a Ricardo Reis, apesar de ser como este um discípulo de Caeiro.

Campos é o filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo.

O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir.

Este heterônimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a sensação das coisas como são: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma: “sentir tudo de todas as maneiras”.

Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos   é configurado biograficamente por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso.

Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente sentir de tudo, de todas as maneiras, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. Poeta da modernidade, Campos tanto celebra a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adaptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.

Em sua obra podem ser identificadas três fases. Num primeiro momento, em o Opiário, há o poeta decadente, que exprime o tédio, enfado, cansaço e abatimento, que reclama de novas sensações. Em busca destas, Campos traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fugir à monotonia. Superado este momento, o poeta ingressa em uma fase futurista/sensacionista, em que celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atração pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos maquinismos em fúria e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Seus poemas  Ode Triunfal ou Ode Marítima são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações.

Em um terceiro momento de sua obra, Campos apresenta-se cansado, desiludido, numa mistura de revolta, dispersão, angústia e desânimo. O poeta sente- se incapaz e incompreendido, mergulhando em um momento de frustração total: incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento; mundo exterior e interior. Há uma dissolução do “eu”, uma dor de pensar e uma nostalgia da infância irremediavelmente perdida - “Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!” (Aniversário).

Perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, / Íssimo, íssimo, íssimo, / Cansaço...”. O drama de Álvaro de Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra, o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infância.


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Fonte
Denise de Quadros: “Afetos e estranhamento em o ano da morte de Ricardo Reis”. (Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Letras na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e as Missões, Campus de Frederico Westphalen, pelo Departamento de Lingüística, Letras e Artes.   Orientador: Prof. Dr. Robson Pereira Gonçalves). Frederico Westphalen, 2008

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