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Estrutura tripartida
da obra e subdivisões
Mensagem é uma
obra que apresenta grande unidade estrutural, podendo ser vista como um único e longo poema, no qual
o poeta tenta combinar, de modo o mais harmonioso
possível três géneros literários diferentes: lírico, dramático e épico. O livro inicia-se com uma epígrafe em
latim Benedictus Dominus Deus Noster Qui
Dedit Signum, (Bendito Deus Nosso Senhor Que Nos Deu O Sinal), o que evidencia
uma propensão profética, na qual o poeta é o intérprete de uma mensagem divina. No final do livro, encontramos, a
seguir ao último verso do último poema, uma exortação
rosacruciana (Valete, Frates). O
número três ocupa um lugar de relevo na obra Mensagem. Segundo o Dicionário de Símbolos:
O número três é,
universalmente, um número fundamental. Exprime uma ordem intelectual e espiritual, em Deus, no cosmo ou no homem.
(…) … o 3 como número, o primeiro número ímpar, é o número do Céu, o 2 o número da Terra, porque o um
é anterior à sua polarização. (…) … para os cristãos, a perfeição da Unidade divina: Deus é Um em três
pessoas. (…) O tempo é triplo: passado, presente e futuro.
Lima de Freitas, na
sua obra Pintar o Sete, explora a simbologia de alguns números e um deles é precisamente o número
três:
Porque o Um é Absoluto
e o Dois é Insondável; o próprio Paraíso é já um véu ou uma obscuridade sobre essa Luz primeira refletida no
Espelho segundo. Só a partir do Três se entra no Concebível, sem o que mistério se dissipe.
O Três é a instantânea
intimidade do Eu e do Tu, que se revela nós (ou Noos) … O Três é já o Filho: fio de luz unindo o Ver ao Visto, o Visto à
Visão, a Visão ao Ver. O Três é Morte e a Ressurreição onde se fixam para todos os tempos do termos
agônicos e rejubilantes e tudo o que é, foi e será… Só o Três sabe o que o Um e o Dois sem ele não podem saber,
ainda que sabê-lo seja o privilégio do Um e o milagre do Dois.
Marie-Louise Von
Franz, referindo-se ao número três, considera-o o centro das simetrias, ritmo e
dinamismo, o que lhe permite a formação de parâmetros espaciais e temporais, sendo a partir do número três
que tudo se desenrola. O número três é então símbolo
de um processo dinâmico.
Sur le plan purement
formel, le trois possède les propriétés suivants : il est le premier nombre
impair e le premier nombre premier
impair, de même que le premier nombre triangulaire, (le un mis à part),
c’est-à-dire qu’il est égal à la somme des nombres précédents commençant par
un. C’est
un nombre parfait et il est souvent
tenu pour le premier nombre nombrant.
Nos contos populares e
nas histórias mitológicas, o número três tem um papel fundamental. O herói poderá ter que
ultrapassar três obstáculos, há três personagens, etc.
Dans les mythes
et les contes, le héros arrive souvent, au course de sa quête, en face de trois situations ou endroits intermédiaires
identiques ou analogue (il rencontre trois ermites, trois sorcières, va vers le soleil, la lune et le vent de la nuit
etc.) après quoi l’action décisive se déroule en un quatrième endroit. Ces triades de situations indiquent, ici
encore, le déroulement dynamique de l’événement.
José Eduardo Franco e
José Augusto Mourão, a propósito da influência de Joaquim de Flora, abade cisterciense do
final do século XII e início do século XIII, na Europa e, mais concretamente, em Portugal,
destacam a importância do número três, por estar associado às Idades do Mundo,
sendo a terceira e última a Idade do Espírito Santo, que surge na sequência das Idades do Pai e
do Filho.
É sobre este pano de
fundo exegético e histórico que se inscreve a doutrina das Três Idades do mundo governadas por cada uma das três Pessoas
Divinas, encontrando-se a humanidade nas vésperas da instauração da terceira idade, a do Espírito Santo, em
que estará em vigência um Quinto Evangelho, o Evangelho Eterno ou Evangelho do Espírito Santo, alimento da
Igreja Espiritual.
Ainda a propósito do
número três, Joaquim de Flora fala da história da Igreja e da humanidade, destacando a importância
deste número já que, para ele, tudo são tríades,
sendo a mais importante a da Divina Trindade.
Refere uma tríade dos
homens (casados, clérigos e monges), uma tríade da doutrina (época do Antigo Testamento –
Idade do Pai; época do Novo Testamento – Idade
do Filho; época do Evangelho Eterno – Idade do Espírito Santo) e uma tríade relativa à maneira como os homens vivem
(segundo a carne – pai; segundo a carne e o espírito
– filho; segundo o império do Espírito)
Assim sendo, Joaquim
de Flora apresenta um sistema tripartido de três eras, que seriam antes da Lei, sob a Lei e sob a
Graça. A primeira era corresponde à criação e foi iniciada pelo Pai. A segunda era inicia-se
com a Encarnação do Cristo Messias, o que marca
a instituição da Igreja dos nossos dias, pelo que foi iniciada pelo Filho. A
terceira era vai levar todos os homens
a converterem-se à justiça de Deus, sendo uma era verdadeiramente espiritual, iniciada pelo
Espírito Santo. Trata-se de uma era que ainda
está para vir, que pertence a um tempo futuro, pelo que a visão de
Joaquim de Flora é francamente
otimista e assenta na esperança.
Com efeito, uma das
utopias de pendor milenarista mais interessante, mais importante e mais
influente na história da cultura ocidental é a doutrina profética das Três
Idades de Joaquim de Flora.
[...]
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Fonte (leia tese completa):
Fonte (leia tese completa):
Maria Isabel Tavares
Coelho: “Mesages de Mesagem, de
Fernando Pessoa”. Dissertação de Mestrado em Estudos Portugueses. Orientadora:
Professora Doutora Manuela Parreira. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Universidade Nova de
Lisboa, 2010, publicado em: http://run.unl.pt/bitstream/
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