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Álvares de Azevedo e o
Romantismo brasileiro
O Romantismo apresentou
momentos-limites em relação à sociedade, por vezes estabeleceu uma dimensão
mais aberta para o social e, em outras, retrocedeu para o instinto de pura
subjetividade. Tanto no modo mais social, como no voltado para o indivíduo, o
Romantismo brasileiro divulgou belas obras e teve consagrado os nomes de diversos autores. Dentre os principais, como
Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu e Castro
Alves, surge um jovem poeta da Faculdade de Direito de São Paulo chamado de Manuel Antônio Álvares de Azevedo. Cada um
desses foi responsável pela propagação e o crescimento da literatura no Brasil,
porém até que a poesia desses autores conquistasse o público, um processo
gradual se iniciou na Europa e se propagou pelo mundo: o Romantismo.
Enquanto estilo de época ou
movimento cultural, o Romantismo pode ser associado à Revolução Francesa, em 1789, e
também à ascensão da burguesia e do liberalismo. Após a Revolução, nota-se o
crescimento econômico burguês, que vagarosamente
assume o lugar da antiga classe dominante, a aristocracia, que dominava a economia e as artes de modo geral. Tudo
seguia de acordo com o que fora estipulado pela nobreza. Portanto, com essa
mudança, afirma-se que o Romantismo foi um movimento tipicamente burguês, já
que este, aos poucos, tomou o poder.
Outra revolução que podemos
atrelar a este período é a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra por
volta de 1760, por meio da aplicação de maquinaria mecânica às indústrias.
Diante deste quadro de mudanças que abalariam a estrutura político-cultural da
Europa, há um progressivo desenvolvimento do homem europeu embalado pela
crescente burguesia, que teria forte papel nas transformações do antigo
sistema. A burguesia iniciou uma nova etapa tornando o comércio de livre
acesso, não se intrometendo no mercado econômico.
O período do Romantismo é fruto de dois grandes
acontecimentos na história da
humanidade, ou seja, a Revolução Francesa e suas derivações, e a Revolução
industrial. As duas revoluções provocaram e geraram novos processos, desencadeando forças que resultaram
na formação da sociedade moderna, moldando em grande parte os seus ideais
(sociais). (GUINSBURG, 2005, p.24)
Se antes o Classicismo era
dominado pela força da aristocracia, o Romantismo seria liderado pela classe
burguesa, que apresentava valores distintos da anterior. Com a vigência de uma
nova ordem, o liberalismo ganhou forças, à medida que apontava para a
valorização do indivíduo e a capacidade geradora de cada um. Logo, estaria
neste ponto um dos fundamentos deste período, anunciando que era livre a
qualquer pessoa o poder e a habilidade de criar, tanto na arte quanto na
literatura, e que não estava mais reservados a uma pequena elite a produção
intelectual como era feito antes.
Com a ascensão da
burguesia, a arte passou a ser vista com novos olhares, o artista entendeu, a
partir desta mudança, que o burguês era o detentor do dinheiro para financiar suas obras. No entanto, essa mesma
classe carecia de cultura e de mais conhecimento no campo das artes. Foi então
preciso que houvesse uma transformação cultural que acompanhasse esse momento,
assim como estava acontecendo no âmbito político.
O século XIX havia sido
marcado pela chegada de princípios liberais da burguesia, que permitiram a livre concorrência
entre os indivíduos, sem que o Estado interviesse na produção e, também,
permitiu oportunidades iguais para as pessoas, sem que uma classe social
prevalecesse em relação à outra. Desta maneira, o Romantismo se constituiu no
movimento que trazia liberdade de expressão para os poetas e grandes pensadores, como também lhes concedia o
direito de criação. Assim modificam, vagarosamente, o padrão clássico introduzindo
novas formas guiadas por sua própria inspiração.
*
Diante disto, constatamos
os motivos que permitiram a concepção de um novo padrão estético, que
revolucionou o século XIX. Esse novo estilo pretendia mostrar à velha
aristocracia que, apesar de não possuir “sangue azul” ou uma linhagem de
estirpe, poderia compensar essas faltas com um novo padrão de beleza, no qual
os próprios burgueses poderiam ser identificados. Segundo J. Guinsburg,
É como se tudo o que foi criado nos últimos duzentos anos,
obra de literatura, pintura, teatro, escultura, arquitetura, houvesse surgido
do confronto e da união com este “espírito” mágico, que, buscando as esferas mais
profundas do homem, reptou o consagrado, o estabelecido, o modelado
aparentemente desde e para todo o sempre, efetuando uma revolução fundamental na conceituação e na
realização de todas as artes, mesmo daquelas que não sentiram ou expressaram de
modo imediato ou
feliz os efeitos da fermentação romântica. (GUINSBURG, 2005, p.13)
Acompanhando as tendências
mundiais, o Brasil sofreu grandes mudanças políticas que marcaram a primeira metade do
século XIX. Uma dessas transformações mais significativas foi a vinda da corte
portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, que desembocou na elevação do Brasil
à categoria de Reino, em 1816, e determinou, conseqüentemente, a abertura dos
portos às nações amigas. Por meio da transferência da família real para o
Brasil, no período de menos de cinqüenta anos tem-se a independência do país,
em 1822, o primeiro reinado até 1831, o período de regência entre 1831 a 1840 e o início do
segundo reinado, que por fim se estendeu até 1889, quando foi proclamada a
república no Brasil.
Tais transformações
favoreceram o país em alguns aspectos, como a criação de escolas, museus,
bibliotecas, juntamente com a circulação regular de jornais e revistas, graças
à criação da Imprensa Nacional. A vida cultural do Brasil se alterou completamente
neste aspecto, pois acabou gerando a capital intelectual do país, de onde se desenvolvia a imprensa e se ampliava o
público leitor.
Com a independência da
nação, o Romantismo foi ganhando forças e, com isso, podemos afirmar que o
movimento romântico brasileiro coincidiu com o momento decisivo de formação da
nacionalidade. Para Antonio Candido, é graças a dois fatores importantes, como a independência política e o
Romantismo, que alguns países vêm expressando na arte uma nova visão de
realidade, tanto individual, quanto social e natural.
Manteve-se durante todo o Romantismo este senso de dever
patriótico, que levava os escritores não apenas a cantar a sua terra, mas
considerar as suas próprias obras contribuição ao progresso. Construir uma “literatura
nacional” é afã, quase divisa,
proclamada nos documentos do tempo até se tornar enfadonha. (CANDIDO, 2007, p.10)
Devido às condições
específicas do país, o Romantismo no Brasil apresenta, além de alguns pontos em
comum com o europeu, outros elementos próprios, que resultam da adaptação à realidade brasileira.
Esse movimento se adequou ao estilo cultural do Brasil, por isso apresentou
muitas características e gerações distintas uma das outras. “Já disse alguém
que houve tantos romantismos quanto românticos, o que seria, por outro lado, a máxima concretização
do Romantismo no seu caráter individualista.”
Tais “romantismos” podem
ser configurados nas diferentes gerações românticas, pois há uma grande
diferença entre a poesia feita no início do Romantismo brasileiro e a que
surgiu no final do mesmo período. A fim de marcar os limites desta dissertação,
concentrar-nos-emos no eixo central pertencente ao poeta em questão, Álvares de
Azevedo. Portanto, indicaremos os temas pertinentes que se incluem em sua
geração ultra-romântica.
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Fonte:
Fonte:
Sue Helen da Silva Vieira: “Álvares
de Azevedo: “A Ironia no Amor Ou o Amor na Ironia”. (Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de
Mestre em Letras Vernáculas (Literatura Brasileira). Orientador: Alcmeno Bastos.
Rio de Janeiro, 2009
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