12/06/2024

Os Árcades Inconfidentes e suas Ligações Políticas


OS ÁRCADES INCONFIDENTES E SUAS LIGAÇÕES POLÍTICAS 

Muitos inconfidentes tiveram contato com as novas ideias que estavam se propagando em toda a Europa. Diante de todo esse novo contexto, encontram-se vários letrados receptivos às ideias e medidas de modernidade político-econômicas e cultural das Reformas Pombalinas, da Revolução Francesa e da Independência dos Estados Unidos. Pode-se observar que estava surgindo uma nova tendência, uma nova forma de ver o mundo e os homens começaram a perceber isto. Vários letrados aderiram às novas mudanças. Entre eles, pode-se citar Basílio da Gama, que não participou da Inconfidência, mas expressou um ambiente receptivo às transformações das Reformas. Gama escreveu O Uraguai, emitindo uma crítica aos jesuítas e uma exaltação ao governador. Percebe-se no poeta os ideais da nova sociedade que estava surgindo, modernos, iluministas. Muitos autores escreveram obras que expressavam as ideias do período. Quase todos os inconfidentes exaltaram as Reformas Pombalinas por dinamizar o comércio e a produção manufatureira e, de através da ciência, transformar as relações do homem com a natureza, incentivando uma nova forma de trabalho.

Resta, então, conhecer a vida de alguns inconfidentes e das obras que produziram, para que seja possível analisar como foi a repercussão dessas novas ideias no Brasil. Entre eles destaca-se: Cláudio Manuel da Costa, Basílio da Gama, Alvarenga Peixoto e Silva Alvarenga.

Cláudio Manuel da Costa (1726-1789), filho de portugueses ligados à mineração. Estudou com os jesuítas do Rio de Janeiro e cursou Direito em Coimbra. Voltando para Vila Rica, exerceu a advocacia e geriu os bens fundiários que herdou. Era ardente pombalino e certamente foi lateral o seu papel na Inconfidência: preso e interrogado uma só vez, foi encontrado morto no cárcere, o que não se atribui a suicídio. Foi o primeiro e mais acabado poeta neoclássico, assumia o pseudônimo árcade de Glauceste Satúrnio. Tinha uma sobriedade de caráter, a sólida cultura humanística, a formação literária portuguesa e italiana e o talento de versejar. Conheceu Coimbra ainda quando era adolescente e partiu para Minas, em 1753, antes da fundação da Arcádia Lusitana.

Interessante ressaltar que, segundo Bosi (1997: 68), datam desse período o Minúsculo Métrico, romance heróico, o Epicédio em memória de Frei Gaspar da Encarnação, o Labirinto do Amor, o Culto Métrico e os Números harmônicos, todos escritos entre 1751 e 1753.

Cláudio Manuel da Costa elaborou suas obras em Coimbra, escreveu poesias narrativas como a Fábula do Ribeirão do Carmo e o poemeto épico Vila Rica; ambos retratam a oscilação em que vivia o escritor entre prestigiar a Arcádia e as suas montanhas mineiras, algo presente no prólogo de suas obras, apresentado por Bosi: “Não são estas as venturosas praias da Arcádia, onde o som das águas inspirava a harmonia dos versos. Turva e feia a corrente destes ribeiros primeiro que arrebate as ideias de um Poeta, deixa ponderar a ambiciosa fadiga de minerar a terra que lhes tem pervertido as cores” (1997: 71). Cláudio Manuel da Costa era bastante admirador das ideias pombalinas e dentre os poetas mineiros era aquele que mais preso ficou às emoções e valores da terra.

Basílio da Gama (1740-1795) foi outro poeta mineiro, estudante jesuíta quando o decreto da expulsão dos padres o atingiu. Viajou para a Itália e Portugal, buscando obter a proteção do Marquês de Pombal. Pode-se verificar em O Uraguai (1769), um poemeto épico, que Basílio da Gama tentou conciliar a louvação de Pombal e o heroísmo do indígena. Com versos decassílabos brancos, parecendo mais um lírico-narrativo do que épico, não nos lembrando em nada da estrutura épica tradicional, demonstra o moderno e os motivos mais importantes da época como o antijesuitísmo, a ação de Pombal, os litígios de fronteiras, a altivez guerreira do índio entre outros fatos. Há no O Uraguai de Basílio da Gama, um episódio que vai ao encontro do mesmo tema exposto por Silva Alvarenga em O Desertor. Trata-se do episódio em que, após a morte de Cacambo, a índia Lindóia procura a morte, mas, antes disso, uma feiticeira conduz a jovem Lindóia a uma gruta, permitindo-lhe ter uma visão de Lisboa, reconstruída pelo Marquês de Pombal, mostrando- lhe as grandes reformas por ele produzidas. Neste caso, a expulsão dos jesuítas é apresentada como um evento através do qual Lindóia sentir-se- ia vingada pela morte de Cacambo, seu amado: “vê destruída / a república infame e bem vingada / a morte de Cacambo” (GAMA 1769). Basílio da Gama em O Uraguai foi quem deixou marcas arcádicas que valem retomar para poder estudar os árcades. Ele foi o motor que deu força a outros poetas. O sentimento mediado pelo bucólico e rococó foi comum a todos, como também todos estão de acordo com o Iluminismo.

Alvarenga Peixoto (1744-1793) também se doutorou na Universidade de Coimbra em 1767. Comprou lavras no sul de Minas e como proprietário descontente com a derrama, participou na Inconfidência. Também foi um poeta que começou a escrever com um sincero entusiasmo a Pombal. Ao Marquês dedicou uma trabalhada ode:

Grande Marquês, os Sátiros saltando
Por entre verdes parra,
Defendidas por ti de estranhas garras;
Os trigos ondeando
Nas fecundas searas;
Os incensos fumando sobre as aras,
À nascente a verdadeira heroicidade. (BOSI 1997: 84) 

Segundo Bosi, ao quadro da guerra, o horror, o estrago, o surto, o poeta contrapõe o universo do labor e da ordem, tendo como fundo a paisagem arcádica.

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Fonte:
SANDRA APARECIDA PIRES FRANCO: “O IDEÁRIO GONZAGUIANO NA OBRA TRATADO DE DIREITO NATURAL” (Tese apresentada ao curso de Pós- graduação em Letras da Universidade Estadual de Londrina). Londrina, setembro de 2008.
 

Notas:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
Disponível digitalmente no site: Domínio Público

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