OS ÁRCADES INCONFIDENTES E SUAS LIGAÇÕES POLÍTICAS
Muitos inconfidentes tiveram
contato com as novas ideias que estavam se propagando em toda a Europa. Diante
de todo esse novo contexto, encontram-se vários letrados receptivos às ideias e medidas de modernidade político-econômicas e cultural das Reformas Pombalinas, da Revolução
Francesa e da Independência dos Estados Unidos. Pode-se
observar que estava surgindo uma nova tendência, uma nova forma de
ver o mundo e os homens começaram a perceber isto. Vários letrados aderiram às novas mudanças. Entre eles, pode-se
citar Basílio da Gama,
que não participou da Inconfidência, mas expressou um ambiente receptivo às transformações das Reformas. Gama escreveu O Uraguai, emitindo uma crítica aos
jesuítas e uma exaltação ao governador. Percebe-se no poeta os ideais da nova
sociedade que estava surgindo, modernos, iluministas. Muitos autores escreveram
obras que expressavam as ideias do período. Quase todos os inconfidentes
exaltaram as Reformas Pombalinas por dinamizar o comércio e a produção manufatureira e, de através
da ciência, transformar as relações do homem
com a natureza, incentivando uma nova forma
de trabalho.
Resta, então, conhecer a vida de alguns inconfidentes e das obras que
produziram, para que seja possível
analisar como foi a repercussão dessas novas ideias no Brasil. Entre eles destaca-se: Cláudio Manuel da Costa, Basílio da Gama, Alvarenga Peixoto e Silva Alvarenga.
Cláudio Manuel da Costa
(1726-1789), filho de portugueses ligados à mineração. Estudou com os jesuítas do Rio de Janeiro e cursou
Direito em Coimbra. Voltando para Vila Rica, exerceu a advocacia e geriu os
bens fundiários que herdou. Era ardente pombalino e certamente foi lateral o seu papel na Inconfidência: preso e interrogado uma só vez, foi encontrado
morto no cárcere, o que não se atribui a suicídio. Foi o primeiro e mais
acabado poeta neoclássico, assumia o pseudônimo árcade de Glauceste Satúrnio.
Tinha uma sobriedade de caráter, a sólida cultura humanística, a formação
literária portuguesa e italiana e o talento de versejar. Conheceu Coimbra ainda
quando era adolescente e partiu
para Minas, em 1753, antes da fundação
da Arcádia Lusitana.
Interessante ressaltar
que, segundo Bosi (1997: 68), datam desse período
o Minúsculo Métrico, romance heróico,
o Epicédio em memória de Frei Gaspar
da Encarnação, o Labirinto
do Amor, o Culto Métrico e os
Números harmônicos, todos escritos
entre 1751 e 1753.
Cláudio Manuel da Costa elaborou
suas obras em Coimbra, escreveu poesias narrativas como a Fábula do Ribeirão do Carmo e o poemeto épico Vila Rica; ambos retratam a oscilação em que vivia o escritor entre
prestigiar a Arcádia e as suas montanhas mineiras, algo presente no prólogo de suas obras,
apresentado por Bosi: “Não são estas
as venturosas praias da Arcádia, onde o som das águas inspirava a harmonia
dos versos. Turva e feia a corrente destes ribeiros primeiro que arrebate
as ideias de um Poeta, deixa ponderar a ambiciosa fadiga de minerar a terra que
lhes tem pervertido as cores” (1997: 71). Cláudio Manuel da Costa era bastante admirador das ideias pombalinas e dentre os poetas
mineiros era aquele
que mais preso ficou às emoções e valores
da terra.
Basílio da Gama (1740-1795) foi
outro poeta mineiro, estudante jesuíta quando o decreto da expulsão dos padres o atingiu. Viajou
para a Itália e Portugal,
buscando obter a proteção do Marquês de Pombal. Pode-se verificar
em O Uraguai
(1769), um poemeto épico, que Basílio da Gama tentou
conciliar a louvação
de Pombal e o heroísmo
do indígena. Com versos decassílabos brancos, parecendo mais um lírico-narrativo do que
épico, não nos lembrando em nada da estrutura épica tradicional, demonstra o
moderno e os motivos mais importantes da época como o antijesuitísmo, a ação de Pombal, os litígios de fronteiras,
a altivez guerreira do índio entre outros fatos. Há no O Uraguai de Basílio da Gama, um episódio que vai ao encontro do
mesmo tema exposto por Silva Alvarenga em O Desertor.
Trata-se do episódio em que, após a morte
de Cacambo, a índia Lindóia procura a morte, mas, antes disso, uma feiticeira
conduz a jovem Lindóia a uma gruta, permitindo-lhe ter uma visão de Lisboa, reconstruída pelo Marquês de Pombal, mostrando-
lhe as grandes reformas por ele produzidas. Neste caso, a expulsão dos jesuítas é apresentada como um evento através do qual Lindóia sentir-se-
ia vingada pela morte de Cacambo, seu amado: “vê destruída / a república infame e bem vingada / a
morte de Cacambo”
(GAMA 1769). Basílio da Gama em O Uraguai foi
quem deixou marcas
arcádicas que valem retomar
para poder estudar os árcades. Ele foi o motor que deu força a outros poetas.
O sentimento mediado
pelo bucólico e rococó foi comum a todos, como também todos
estão de acordo com o Iluminismo.
Alvarenga Peixoto (1744-1793)
também se doutorou na Universidade de Coimbra em 1767. Comprou lavras
no sul de Minas e como proprietário descontente com a
derrama, participou na Inconfidência. Também foi um poeta que começou a
escrever com um sincero entusiasmo a Pombal. Ao Marquês dedicou
uma trabalhada ode:
Grande Marquês, os Sátiros saltando
Por
entre verdes parra,
Defendidas por ti de estranhas garras;
Os
trigos ondeando
Nas fecundas searas;
Os incensos fumando sobre as aras,
À nascente a verdadeira heroicidade. (BOSI 1997: 84)
Segundo Bosi, ao quadro
da guerra, o horror, o estrago, o surto, o poeta
contrapõe o universo do labor e da ordem, tendo como fundo a paisagem arcádica.
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Fonte:
SANDRA APARECIDA PIRES FRANCO: “O IDEÁRIO GONZAGUIANO NA OBRA TRATADO DE
DIREITO NATURAL” (Tese apresentada ao curso de Pós- graduação em Letras da
Universidade Estadual de Londrina). Londrina, setembro de 2008.
Notas:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão
devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido
trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese
em sua totalidade.
Disponível digitalmente no site: Domínio Público
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