12/06/2024

A influência das Luzes e Trevas nas Minas Gerais do Século XVIII


A INFLUÊNCIA DAS LUZES E TREVAS NAS MINAS GERAIS DO SÉCULO XVIII 

O Iluminismo foi um movimento cultural e intelectual cujo centro irradiador desse movimento foi a França, embora tenha nascido na Inglaterra. Havia neste período o desprezo pelas instituições humanas existentes, consideradas como produto da ignorância e barbárie e crença de que a razão poderia reformulá-las. Todas as atividades intelectuais discutiam temas reformistas, como a literatura, a vida acadêmica, o teatro, a imprensa. Havia a crítica violenta aos poderes do clero, da nobreza e do soberano.

Minas Gerais também não evitava essas manifestações trazidas pelos intelectuais que iam estudar na Universidade de Coimbra. Estes estudantes entraram em contato com obras consideradas pecaminosas e que iam contra a ideologia do poder dominante da época. Os estudantes da Universidade de Coimbra tinham acesso a Locke, escritor que destruiu as ideias filosóficas que sustentavam a teoria do Direito Divino dos Reis, demolindo a teoria de que o direito dos monarcas à autoridade absoluta deriva de um poder além dos limites do homem.

As ideias de Locke foram o arcabouço de todas as teses revolucionárias do século XVIII. A obra de Locke estava presente na estante do inconfidente Luís Vieira da Silva (1735-1809) e na mente de todos os outros revolucionários mineiros. As ideias iluministas de Locke vinham de confronto às ideias fundamentais da teoria do Absolutismo.

A Igreja também participava desse momento intelectual e a Universidade de Coimbra tinha importância decisiva na divulgação dessas ideias e os intelectuais mineiros em Coimbra participaram do movimento revolucionário de 1789. 

Entre 1772 e 1785, trezentos estudantes brasileiros haviam- se matriculado ali; parte deles estudara também na França, em Montpellier, onde havia quinze brasileiros entre 1767 e 1793. Em 1786, em Montpellier estavam três estudantes diretamente envolvidos na Inconfidência: Domingos Vidal de Barbosa Laje, José Mariano Leal (do Rio de Janeiro) e José Joaquim da Maia e Barbalho (do Rio de Janeiro). (JARDIM 1989: 43) 

Ressalta-se que os estudantes brasileiros que absorveram as reformas iluministas da Universidade de Coimbra, promovidas pelo Marquês de Pombal, foram os mesmos que participaram do movimento inconfidente de 1789. Para tanto, faz-se necessário observar que muitos aspectos influenciaram o pensamento desses homens, principalmente, as ideias de Tomás Antônio Gonzaga. Um outro item que se considera importante demonstrar é o de que houve outras influências como o livro de Thomas Guillaume François (1713-1796), conhecido como Abade Raynal: 

Influência decisiva no movimento mineiro de 1789 teve também o livro do francês Thomas Guillaume François (1713-1796), conhecido como Abade Raynal: Historie philosophique et politique des établissements e du commerce des  Européens dans lês deux Indes”, de 1770 (Amsterdam). É o mais citado nos Autos da Devassa. Seu livro era uma denúncia dos crimes do colonialismo europeu; denunciava o Tratado de Methuen e a dependência de Portugal à Inglaterra, o tráfico negreiro, a política fiscal abusiva e os excessos do clero. Dedicava 136 páginas ao Brasil, para o qual defendia a liberdade de comércio. Fora, praticamente, o único livro com grandes informações de ordem econômica, demográfica e político-administrativo sobre o Brasil do século XVIII a que tiveram acesso os estudantes brasileiros; o livro de Antonil (“Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas”) tinha sido recolhido após sua impressão, em 1711. Não obstante a influência de Mably e Rousseau, Raynal punha em questão o próprio direito de colonizar; seu livro cristalizava todas as linhas de pensamento iluminista que visavam a revolta dos colonizadores; aparece nos Autos da Devassa como o “motor da ação revolucionária”. Domingos Vidal de Barbosa Laje sabia de cor várias de sua passagens. (JARDIM 1989: 43-44) 

Verifica-se, então, que as ideias iluministas eram absorvidas em Minas Gerais de forma rápida, pois existiam pessoas aptas a receberem- na como: doutores, filósofos, artistas, poetas, historiadores, padres esclarecidos.


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Fonte:
SANDRA APARECIDA PIRES FRANCO: “O IDEÁRIO GONZAGUIANO NA OBRA TRATADO DE DIREITO NATURAL” (Tese apresentada ao curso de Pós- graduação em Letras da Universidade Estadual de Londrina). Londrina, setembro de 2008.

Notas:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
Disponível digitalmente no site: Domínio Público

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