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Prefácio
Pela
pessoa de Pedro II professava o Visconde de Taunay a mais profunda admiração,
sentimento que lhe vinha da infância e constantemente acendrado desde os
primeiros contatos com o monarca.
Era-lhe
esta feição bastante de procedência atávica pois seu Pai, um dos preceptores do
Imperador, passara durante quarenta anos a ser o constante e fiel amigo do
Soberano, seu antigo aluno, e de várias disciplinas. E igualmente dedicara as
veras de um apreço extraordinário às faculdades intelectuais e ao caráter do
augusto discípulo que, aliás, numerosas vezes, e publicamente, lhe retribuiu
esta expressão de elevadíssirna estima, nos termos do mais alevantado apreço e
reconhecimento de méritos.
Em Pedro II via o Visconde de Taunay não só o homem de rara cultura, sumida por larga inteligência e prodigiosa memória. O que nele de mais notável enxergava vinha a ser a estatura moral.
No Bragança magnânimo percebia uns dos mais acabados tipos representativos da grandeza humana. Tinha-o como a encarnação, a mais eminente do patriotismo, da honestidade, da retidão e do amor a tudo quanto considerava nobre e belo.
Jamais de sua parte houve cortesania na exteriorização destes sentimentos e sim apenas a expansão do entusiasmo e da sinceridade.
Se a Pedro II, reinante, frequentes vezes se dirigira, em laudatória frase, de Dom Pedro de Alcântara, destronado pobre, semissolitário e exilado, muito mais arroubadamente falou numa época em que o dinasta deposto contava restrito número de amigos.
Poucos destes houve tão constantes e pertinazes quanto o cortesão da desgraça, autor deste volume.
As
notícias da superioridade imensa com que Pedro II suportava "o rigor da
iníqua sorte", e a perda "do trono e da majestade, quando a dois
passos só se sentia da Morte", comoviam ao último ponto e deslumbravam o
seu já tão arroubado admirador. E este sentimento provocava a sua contínua
proclamação de um espanto causado pelo espetáculo de tamanha grandeza de alma
muito acima de qualquer expectativa.
A morte do grande Bragança causou-lhe a maior e a mais violenta dor. Ouvi-o soluçar longo e longo tempo à tarde de 5 de dezembro. E viveu imerso, dias e dias a fio, na mais negra melancolia.
Pouco antes de sua morte disse-me no tom da mais profunda convicção: "Não sei se te caberá a grande felicidade que alcancei: a convivência próxima, e prolongada, com os homens de imensa elevação como o Imperador e Rio Branco, tipos verdadeiramente grandiosos."
Neste
novo volume da póstuma de meu Pai reuni os seus discursos de saudação a D.
Pedro II, esparsos na Revista do Instituto Histórico Brasileiro, algumas páginas por ele publicadas sobre o soberano,
pouco antes de 15 de novembro, páginas aliás de errada psicologia em que se
afirma da robustez do trono brasileiro, condições já então inexistentes. E
adicionei-lhes os excertos inéditos do Diário íntimo,
relativos à convivência do Senador por Santa Catarina com o monarca, em 1889 e
a uma série de fatos referentes ao soberano destronado até à sua morte, a 5 de
dezembro de 1891. Como apenso estampei a Fé
de ofício de Imperador do Brasil,
documento nobilíssimo da lavra do imperante deposto e hoje quase inteiramente
esquecido, e as Cartas do exílio, endereçadas pelo magnânimo príncipe ao seu fiel partidário.
Pelo tom de diversos tópicos destas páginas íntimas verá o leitor que quem as redigiu não era um cortesão do poder. Discutia com o seu monarca e dele às vezes discordava e divergia, largamente, com toda a franqueza e convicção. Não era, aliás, dos que confiavam na persistência da instituição monárquica no Brasil, após a morte do segundo Imperador, como diversos tópicos de seu Diário íntimo documentam.
A largueza da visão bem lhe permitia divisar quanto o prazo do império brasileiro estava intimamente ligado ao da vida do filho de Pedro I.
Em outro volume espero completar este depoimento das relações do autor de Inocência com Dom Pedro II, por meio da publicação de novos trechos inéditos seus e de outros do punho do Imperador, colecionados e divulgados pelo amigo dos dias de fastígio e sobretudo dos da adversidade e solidão.
S. Paulo, 10 de março de 1933.
AFFONSO DE E. TAUNAY
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