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A formação humanista do Padre Antônio Vieira
Antônio Vieira nasceu em 6 de
fevereiro de 1608 em Lisboa, mas aos seis anos de vida foi trazido para o
Brasil por sua família, pois seu pai assumiria o cargo de escrivão da Relação
na Baía. Em 1623 ingressaria no Colégio dos Jesuítas e permaneceria vinculado a
essa Ordem até 1663. É nesse ambiente espiritual que desenvolveria sua vocação
religiosa e iniciaria sua formação humanista à luz das obras de Santo
Agostinho, Tomás de Aquino, Francisco Suarez e outros pensadores cujas obras
possuíam um primado ético-jurídico. Daí adviria também o seu jusnaturalismo
cristão, presente em seus Sermões e que fundamentaria suas teses
jurídico-políticas na defesa dos índios, escravos e cristãos novos, como
veremos mais adiante.
Em 1643, apresenta sua
"Proposta a El-Rei D. João IV" pela qual revela sua tolerância para
com os cristãos novos, a importância de se reconhecer no gentio a condição de
pessoa e os males da escravidão, apresentando sugestões para a recuperação
econômica de Portugal.
A partir desse documento, seria
nomeado pregador régio, ao mesmo tempo em que iniciaria suas atividades
diplomáticas. Em 1654 profere o Sermão de Santo Antônio aos peixes, pelo qual
apresenta argumentos contrários às grandes propriedades senhoriais,
comparando-as aos grandes peixes, que necessitam de muitos peixinhos para se
alimentarem, ao passo que um peixe grande poderia servir de alimento para
muitos peixes pequenos. No ano de 1655, prega na capital, entre outros, o
Sermão da Epifania; onde demonstra a necessidade da Coroa em reconhecer a
condição humana do índio e do escravo. Nesse Sermão, observa que os três Reis
Magos representavam a união dos três continentes e as três etnias conhecidas: o
homem africano, o asiático e o europeu. Mas onde estaria então o aborígene americano?
Ao responder esta questão, d estaca a importância da missão destinada o povo
português: o aborígene americano viria ao Pai pelas mãos do homem lusitano que,
por seu trabalho de catequese, desempenharia sua mais elevada missão, a de
integrar o índio aos ensinamentos e aos ideais cristãos. Para tanto, fazia-se
necessário seu pleno reconhecimento enquanto homem e filho de Deus.
Em 1665, por suas posições
políticas firmes em defesa dos cristãos novos, dos índios e por entender que o
homem verdadeiramente cristão não poderia aceitar o instituto da escravidão, é
preso pela Inquisição, depois mantido em custódia. Entrega a sua defesa ao
Tribunal. É interrogado inúmeras vezes e acaba por ser condenado em sua
liberdade de pregar. Alguns anos depois, mesmo anistiado, é impedido de falar
ou escrever sobre certos assuntos. Ainda assim, escreve vários Sermões com os
quais combate os métodos da Inquisição em Portugal e Espanha. Convencido de que
seus préstimos seriam mais valiosos no Brasil, retorna à Baía em 1681, onde
prossegue em sua luta em favor dos índios, contra a escravidão e em seu
trabalho de evangelização. Morre em 1697, na Baía, a 18 de Julho, com 89 anos
de idade.
Sua obra possui nítida inspiração
augustiniana. Talvez por isso Vieira revela um considerável conhecimento do
pensamento dos clássicos da Antigüidade, como Platão, Aristóteles e autores
estóicos como Séneca e Marco Aurélio. Sob o aspecto jurídico, seus Sermões
transmitem a convicção de que conhecia os principais autores do jusnaturalismo
de sua época, corrente jurídica da qual se utilizaria para buscar argumentos
para sua ação política, ainda que suas teses fossem temperadas pela influência
de autores escolásticos como Suarez e Molina, enriquecidas por sua vivência no
Brasil.
Aliás, a vivência no Brasil
parece ter-lhe conferido uma formação humanista fundada numa concepção
filosófica e teológica muito à frente de seu tempo. Seu posicionamento sobre o
reconhecimento do índio enquanto pessoa, seu inconformismo para com o
vergonhoso instituto da escravidão, sua tolerância religiosa em relação à
questão do judaísmo nas sociedades luso-brasileiras, ficaram consignadas em
seus Sermões e revelam posições políticas de uma dimensão humana pouco comum
para sua época. Por manifestar em sua obra convicções e entendimentos
progressistas, muitos de seus argumentos seriam utilizados pela Inquisição
contra a sua própria pessoa e Vieira seria perseguido e condenado pelos donos
do poder político e religioso. Contudo, jamais renunciaria às suas idéias e
convicções políticas e humanistas.
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Fonte:
Fonte:
Everaldo T. Quilici Gonzalez (Professor
do Curso de Mestrado em Direito da Unimep, doutor em Filosofia e Teoria Geral
do Direito. E-mail: equilici@unimep.br):
“Pensamiento Jurídico-Político de Padre Antonio Vieira”. Disponível em: www.metodista.br/revistas/revistas-unimep/
Nota:
A imagem inicial inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
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