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O Padre Antônio
Vieira
Nascido em Lisboa, em 1608, o P. Vieira veio ao Brasil, à Bahia , em 1614. Iniciou seu noviciado no colégio dos
jesuítas, em Salvador, aos 15 anos; em 1626 assumiu uma cadeira de retórica em
Olinda, e aos 27 anos foi ordenado sacerdote.
Durante 5 anos esteve no sertão adentro
ensinando os índios na sua própria língua. Em 1641 partiu para Portugal ,
tornando-se pessoa de confiança do novo rei, D. João IV. Voltou ao Brasil, em
1652, como missionário; expulso do Maranhão, retornou a Portugal, onde sofreu
perseguições políticas, e a condenação religiosa por parte da Inquisição; após
sua absolvição, pregou com sucesso em Roma, de 1669 a 1675. Os seus últimos
16 anos viveu no Brasil, onde foi nomeado Visitor da Província do Brasil,
dedicando-se ao preparo dos seus sermões para serem publicados; faleceu na Bahia , com 89 anos de idade.
O P. Vieira foi, sem a menor sombra de
dúvida, uma das maiores figuras do século XVII, já seja como
escritor, orador sacro, missionário ou como
estrategista econômico e político. Dotado de uma inteligência privilegiada, foi
capaz de compreender os problemas cruciais da sua época. Tratava com
desenvoltura, maestria e firmeza as questões religiosas, morais, políticas,
sociais e econômicas. Sendo polêmico, de gênero combativo, enfrentava seus
adversários com coragem e redobrada energia; homem de ação, estava sempre
pronto para atacar ou se defender dos seus opositores. Por se tornar pregador
da corte e confidente do rei, atribuindo-lhe certos encargos diplomáticos,
despertou a inveja e ambição de políticos e cortesãos.
O manuscrito As esperanças de Portugal ,
Quinto Império do Mundo, foi a base para Vieira ser condenado pela
Inquisição. Ele aceitava o mito do
Sebastianismo, baseado nas trovas de Bandarra, um sapateiro de Troncoso;
segundo essa crença, D. Sebastião (morto na luta contra os mouros em 1578)
ressuscitaria, se bem que Vieira mais tarde transferiu essa volta
para D. João IV, e depois para o seu sucessor. Em conseqüência do seu
pragmatismo, o jesuíta queria tolerância para os cristãos-novos, a fim de
conseguir apoio financeiro para Portugal ;
a imigração dos judeus traria grandes fortunas ao país, o que realmente
aconteceu. O processo do julgamento de Vieira durou vários anos; em 1667 foi
condenado pelo Tribunal do Santo Ofício por heresia judaizante. A respeito dos
fundamentos e da própria condenação, Ferreira (1971, p. 27) expressa sua
desaprovação com as seguintes palavras:
Isto se narra no processo do mais ilustre orador do século XVII,
inteligência profunda e glória da Companhia de Jesus! Ficou prisioneiro do
Santo Ofício... Assim pagava o réu a generosa e patriótica defesa que votara à
nação judaica. A tolerância, filha dileta de Jesus, era então crime expiável
nos calabouços.
No Brasil, Vieira dedicou-se totalmente ao
trabalho missionário; atuou incansavelmente no Maranhão, chegando até Pará;
tinha em mira a conversão do gentio na sua própria língua, tendo, inclusive,
redigido os rudimentos do Catecismo em seis dialetos indígenas; granjeou-se a
confiança dos nativos, que o chamavam “pai grande”, na língua deles. A
preocupação pelo Brasil levou-o a buscar solução para problemas de âmbito
geral, como a
invasão holandesa; engajou-se com sua palavra na luta pela expulsão dos
invasores; mais tarde, porém, pensando no desenvolvimento econômico do país,
ele propôs um acordo comercial com os holandeses, em troca de sua permanência
em Pernambuco. Outra proposta era a criação de duas companhias de comércio, uma
para o Oriente e a outra para o Ocidente. Esta última foi criada e favoreceu
muito o comércio.
Um grave problema enfrentado, cuja solução
Vieira se empenhou com uma tenacidade ímpar, foi a questão da escravidão dos
negros e índios. Com relação aos primeiros, denunciou o aviltamento das
péssimas condições humanas, embora ele se rendesse ao princípio da época do
cativeiro justo, pois as leis civis e religiosas impediam a liberdade, mas isto
era compensado, segundo ele, com a sua conversão. Quanto aos índios, Vieira
advogava a favor da sua liberdade, mas temporariamente deviam estar nas
colônias dos jesuítas, para depois, como
cristãos, serem integrados na sociedade. Isto não agradou aos colonos, pois nas
entradas aos sertões os índios foram caçados aos milhares e vendidos como escravos aos colonos.
O “pai grande” teve que pagar caro pela defesa aos índios, pois a sede dos
jesuítas foi invadida e os missionários expulsos, temporariamente. Vieira levou
todos esses fatos ao púlpito.
Mesmo que se considere a prosa de Vieira
ainda não superada, devesse levar em conta que ele não era um intelectual
livre; estava preso ao absolutismo real e eclesiástico e pelo rigorismo da sua
Ordem; seus escritos (como
de resto sua vida e obra) mostram um vassalo fiel, um católico convicto e um
jesuíta dedicado. Seguindo os meandros da dialética, esmerava-se em harmonizar
os textos bíblicos com suas teses, sempre empenhado numa ardente luta em defesa
do reino, da Igreja e da sua Ordem.
Vieira possuía a singular capacidade de
converter suas idéias em fortes argumentos teológicos por meio de um rebuscado
processo de harmonização de analogias entre textos da Bíblia e o fato histórico
do seu tempo em apreço; usava essas explicações tanto para pregar a respeito do
maravilhoso e sobrenatural, como para corrigir os costumes da época. Nas suas
pregações valia-se da aplicação literal das Escrituras, mas principalmente, das
interpretações figurativas. Notamos casos nos quais Vieira força a
interpretação de textos, na sua incansável procura por autoridade para sua
argumentação. Outras vezes, o raciocínio torna-se tão sutil que compromete a
sua compreensão; também aparecem casos insólitos, difíceis de aceitar. Em face
desse método de interpretação de Vieira, Gomes (In: VIEIRA, 1975, p.8) assim se
expressa: “... apesar dos excessos a que foi consecutivamente impelido pela
imaginação poética, o pregador nunca sacrificava a base fundamental de seus
raciocínios, cuja lógica subsiste a todas as audácias.”.
Quanto à linguagem, Ferreira (1971, p.
529-530) caracteriza a oratória da prosa de Vieira, afirmando que sua linguagem
é aprazível, viril; o estilo flui enérgico, de ritmos fortes, expressões
vigorosas; seus lábios não se emocionavam, mas discutiam, expunham raciocínios,
demonstravam; as criações era vivas e envolviam os sentidos; o vocabulário era abundante e
próprio, usado de forma precisa, numa sucessão rítmica de idéias.
Mendes (In: VIEIRA, 1978, p. 21-22) aponta
certas características da linguagem de Inácio de Loyola, presentes nos seus Exercícios
espirituais, que foram incorporadas e assimiladas no sermonário de Vieira.
Para Mendes, é uma linguagem freqüentemente interrogativa, como no discurso da oratória, já seja para
manter o contato com o auditório, para fazer progredir o discurso ou para
questionar; o próprio Deus é muitas vezes questionado ou algum interlocutor
fisicamente ausente. Outra característica, reflexo dos Exercícios, a
serviço do parenética (discurso moral, exortação) consiste na divisão em partes
com excessivas delimitações da matéria, seguindo o exemplo escolástico; esse
impulso incontido da divisão de todas as partes tinha em vista a ocupação de
todo o espaço mental, transformando o discurso numa árvore com ramificações
binárias, como um organograma, segundo Barthes, citado aqui pelo autor. Os Exercícios
também sugerem o uso de imagens sensoriais, que dariam suporte concreto às
meditações sobre cenas bíblicas ou da tradição religiosa; a origem dessas
imagens, portanto, não se reveste de um caráter espontâneo, resultado da
imaginação, mas em Vieira funcionam como
alegorias. Das imagens sensoriais, a da visão recebe maior destaque.
O processo imagístico define o estilo retórico de Vieira; suas metáforas
desdobram-se em diversas alegorias; o orador ornava seus discursos com recursos
da língua como
hipérboles, homonímias, trocadilhos, perífrases, causando impacto no auditório,
tudo cuidadosamente calculado para conseguir o efeito da persuasão.
Vieira foi considerado conceptista. No
prefácio do primeiro volume dos Sermões, ele aconselhava que não o
lessem os que gostavam da afetação, da pompa das palavras e do estilo
chamado culto. Lançava duras críticas contra o cultismo, como fizera no Sermão da Sexagésima, conforme
será mostrado mais adiante. Mas, apesar da violenta condenação, o próprio
Vieira não estava imune aos vícios desse estilo, conforme é possível verificar
nos artifícios formais por vezes utilizados, prejudicando a clareza do seu
estilo.
Os Sermões converteram-se em modelos
a serem seguidos do “método português” de pregar, oposto a outros, como o
“método francês” representado por Bossuet; esses sermões foram exaustivamente
estudados nos colégios e publicados em numerosas edições.
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Fonte:
ROBERTO TEODORO JUNG: “RETÓRICA E PREGAÇÃO RELIGIOSA NO SERMÃO DA SEXAGÉSIMA DO PADRE ANTONIO VIEIRA”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras – Mestrado, Área de Concentração em Leitura e Cognição, Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Letras. Orientador: Prof. Dr. Jorge Molina).Santa Cruz do Sul, 2008.
Fonte:
ROBERTO TEODORO JUNG: “RETÓRICA E PREGAÇÃO RELIGIOSA NO SERMÃO DA SEXAGÉSIMA DO PADRE ANTONIO VIEIRA”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras – Mestrado, Área de Concentração em Leitura e Cognição, Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Letras. Orientador: Prof. Dr. Jorge Molina).
Nota:
A imagem inicial inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
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