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A perda de fiéis, em conseqüência da Reforma
Protestante, levou a Igreja Católica a se organizar num movimento denominado
Contra-Reforma, partindo principalmente da Espanha (onde o catolicismo e a
pátria formavam uma unidade inseparável) e Portugal, países que ainda conservavam
uma forte tradição do cristianismo medieval.
Frente a aquilo que se considerava uma ameaça à
unidade do mundo católico, a Igreja católica expressou claramente os limites
que a separavam das novas doutrinas; confirmou o princípio da unidade com a
conservação do latim para o culto em todos os países; reafirmou o poder supremo
do sumo pontífice como pastor universal e único intérprete das Escrituras;
corruptos foram expulsos da Igreja e a venda das indulgências proibida; foram
fundadas ordens religiosas com severas disciplinas que dependiam diretamente do
Papa; foi criada a Comissão do Index, encarregada de examinar os livros
publicados e elaborar um catálogo de obras, cuja leitura ou posse era vedada.
Para tomar posição frente à Reforma Protestante, a
Igreja Católica convocou o Concílio de Trento, uma grande assembléia de
prelados, cujas sessões realizaram-se, com grandes intervalos, de 1545 a 1563. Embora
decidisse a favor de uma melhor preparação do clero e a depuração dos costumes,
o Concílio manteve os dogmas medievais e aquilo que causou a Reforma
Protestante.
O Concílio de Trento também revigorou o Tribunal do
Santo Ofício ou Santa Inquisição, criado no século XII; tinha o objetivo de
investigar e combater as heresias. O costume de queimar os hereges em
autos-de-fé fora instituído pelo Papa Inocêncio IV, em 1252. Eram crimes para o
Santo Ofício: judaísmo, heresia protestante, feitiçaria, usura, blasfêmia,
bigamia, entre outros. Aquele que tinha ciência da prática desses fatos e não
denunciava, também sofria a punição. Até denúncias anônimas, de testemunhas de
ouvida ou denúncias de meros indícios ou presunções eram aceitas. Ao preso
não era comunicado o motivo da prisão, nem o nome do denunciante; o defensor
era nomeado pelo próprio Tribunal; os réus que se declaravam arrependidos eram
absolvidos, sob o juramento de jamais declarar o que acontecera portas adentro
da Instituição; quebrar esse segredo era comparado ao crime
de heresia. Os que persistiam em negar a Cristo eram queimados vivos. A pena dos
condenados recaía também sobre os descendentes por algumas gerações, sendo que
não poderiam exercer funções na Igreja, no Estado, usar jóias valiosas, nem
andar a cavalo; a conseqüência da transgressão de uma falta grave resultava em
confisco de bens. Os autos públicos eram realizados com grandes pompas festivas
na praça da cidade, às vezes em homenagem aos monarcas.
O Tribunal da Santa Inquisição foi muito ativo na
Espanha a partir de 1480, e em Portugal
foi instituído em 1536. O solo espanhol foi regado com muito sangue nos 18 anos
do comando de Torquemada. Nos Países Baixos, o Santo Ofício, sob o comando do
Duque de Alba, executou 1800 indivíduos em 3 meses e após a tomada de Haarlem,
foram massacrados 15000 sitiados.
Referente
à perseguição em Portugal ,
Ferreira (1971, p. 470) sustenta:
Ninguém estava forro de tão sanguissedento tribunal.
Os espiões não afrouxavam a vigilância, os fanáticos acorriam a declarar os
suspeitos. Por um vago dito de há anos, um gesto inconsiderado, qualquer pessoa
poderia ver-se sepultada viva nos ergástulos do Santo Ofício. Estão publicados
nos processos contra alguns homens eminentes da literatura nacional. Neles se
descobrem a mesquinhez das acusações e o perigo que a todos cercava. Um terror
pânico devia estrangular as almas .
Um exemplo, entre muitos outros, foi o julgamento e
condenação do P. Vieira, após um longo processo, porém, absolvido
posteriormente.
Esse implacável Tribunal, poderoso instrumento da
Contra-Reforma, espalhava medo, castigo e morte, com o objetivo de dominar as
consciências dos desprotegidos mortais.
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Fonte:
Roberto Teodoro Jung: “Retórica e pregação religiosa no Sermão da Sexagésima do Padre Antonio Vieira”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras – Mestrado, Área de Concentração em Leitura e Cognição, Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Letras. Orientador: Prof. Dr. Jorge Molina). Santa Cruz do Sul, 2008.
Nota:
A imagem inicial inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
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