Para baixar o livro, clique na imagem e selecione-o em:
↓
---
Disponível também em "GoogleDrive", no link abaixo:
↓
---
O Barroco
O Barroco surgiu em conseqüência de uma série de
acontecimentos do Renascimento, como
o antropocentrismo, o materialismo, o sensualismo. A Reforma Protestante tinha
por objetivo trazer a Igreja de volta à simplicidade da fé e da prática cristã,
o que provocou um grande cisma na cristandade. A Contra-Reforma foi a reação
católica, no sentido de impedir o avanço da Reforma Protestante, e ao mesmo
tempo, propôs o retorno à espiritualidade medieval, em oposição ao paganismo do
Renascimento.
Essa postura teocêntrica, porém, criou um conflito no
homem barroco, pois ele não queria perder as conquistas renascentistas, mas por
outro lado, ansiava recuperar a religiosidade medieval. A tensão entre o antigo
(tese) e o novo (antítese) forçou a procura de uma conciliação (síntese),
muitas vezes difícil de conseguir. Por isso houve essa dualidade, a tentativa
de conciliar fé e razão, espiritualismo e materialismo. A própria arte barroca
refletiu esse dualismo; primeiro se manifestou nas artes plásticas, passando
depois a outras formas de expressão e influenciando toda a vida social.
O conhecimento da realidade, no Barroco, operava-se
através dos sentidos, mediadores das impressões sensoriais transmitidas pelas
palavras que designam sensações ligadas aos olhos, aos ouvidos, ao tato, ao
olfato e ao gosto. A efemeridade, a transitoriedade da vida, foi um tema
constante; tendo consciência da sua fragilidade, o homem barroco cedia ao apelo
do carpe diem (aproveite o dia presente), ou tornava-se pessimista,
vendo apenas o lado trágico da vida, ou ele também podia voltar-se à religião;
tudo isso podia ser motivo de angústia e incertezas.
A procura da síntese determinava uma série de
características decorrentes desse fato: largo uso de antíteses e paradoxos;
oposição entre realidade material e espiritual; conflito entre fé e razão;
gosto pelo uso de frases interrogativas; culto ao contraste e jogo de cores do
claro-escuro; dualidade estética expressa pelo conceptismo e o cultismo. A
inversão e a repetição violenta da ordem das palavras, a ordem indireta, a
exuberância de formas, o detalhismo, o gosto pelos raciocínios
complexos
desenvolvidos a partir de alegorias e narrativas bíblicas, o emprego de grande
número de palavras semelhantes quanto à grafia e à sonoridade, a descrição de
cenas trágicas e grandiosas, tudo isso fazia parte do ideário e dos recursos
amplamente usados para dar expressividade à arte e ao empírico do Barroco.
Pelo
que se observa no acima exposto, a arte barroca apresentava algumas
características, no caso da literatura, ligadas ao conteúdo e outras fortemente
marcadas pelo aspecto formal; a ênfase de um ou outro desses aspectos pode ser
constatado no conceptismo e no cultismo, as duas grandes correntes estético-estilísticas
do Barroco.
O cultismo e o conceptismo eram dois estilos
literários opostos que se desenvolveram nessa época na Espanha, passando depois
para Portugal .
A realidade abordava-se de duas maneiras diferentes; uma era sensorial e
descritiva; a outra conceptual; a atitude diante do ser era: como é?; a outra, indagava: o que é?
Díaz Plaja (1960, p. 227) declara que o cultismo
preocupava-se com a forma, a riqueza e a ordem das palavras e seu principal
fundamento estava voltado aos sentidos; o conceptismo, por sua vez, tinha como
base o fundo, as idéias, deixando as palavras reduzidas ao indispensável, e os
escritos visavam atingir a inteligência.
A linguagem do cultismo foi preciosa e rebuscada,
abusava das hipérboles, hipérbatos, metáforas, antíteses e paradoxos; consistia
em um jogo de palavras dirigido aos sentidos, criando, por vezes, uma falsa
realidade. O espanhol Luís de Gôngora foi um dos grandes poetas cultistas,
motivo pelo qual o cultismo também é conhecido com o nome de gongorismo, embora
este termo tenha até sido usado como
sinônimo de Barroco na Espanha. Ferreira (1971, p. 521) assinala que os
gongóricos não estavam interessados em esclarecer a inteligência do auditório,
mas em deslumbrá-lo com antíteses, ambigüidades e fraseologia pomposa dos
conceitos.
O
conceptismo era um jogo de idéias e sutilezas, um rebuscamento do raciocínio, o
uso de técnicas de argumentação. Era comum o emprego de antíteses, paradoxos ou
analogias para criar realidades que, mesmo quando contrárias ao
senso comum,
o raciocínio tinha aparência de verossimilhança pela arte. Um grande nome do
conceptismo na Espanha foi Quevedo. Ele combateu o cultismo por achá-lo
excessivamente carregado de palavras e vazio de idéias.
Outro conceptista espanhol de renome, jesuíta como o P. Vieira em Portugal , foi Baltazar Gracián.
Díaz-Plaja (1960, p. 240) opina que, se Quevedo foi o primeiro conceptista,
Gracián foi o mais extremado, pois converteu esse estilo em doutrina literária
no seu livro Agudeza y arte de ingenio. Por meio de uma alegoria, ele
apresenta o discurso como
uma árvore; as vozes seriam as folhas; o conceito, o fruto. Contra o abuso das
vozes do cultismo, o conceptista propunha que o verso seja extensivamente
profundo; significa dizer as coisas mais elevadas e filosóficas com o mínimo de
linguagem. Para Gracián, mais pesam as quinta-essências (o éter, as coisas mais
essenciais) do que farragens (miscelâneas de coisas).
Contudo, ainda que
vigorassem esses dois estilos, o cultismo e o conceptismo podiam coexistir e
interpenetrar-se; isto criava um efeito ambíguo e contraditório, característico
da visão barroca de mundo em constante conflito.
----
----
--
Fonte:Roberto Teodoro Jung: “Retórica e pregação religiosa no Sermão da Sexagésima do Padre Antonio Vieira”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras – Mestrado, Área de Concentração em Leitura e Cognição, Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Letras. Orientador: Prof. Dr. Jorge Molina).Santa Cruz do Sul, 2008.
Fonte:Roberto Teodoro Jung: “Retórica e pregação religiosa no Sermão da Sexagésima do Padre Antonio Vieira”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras – Mestrado, Área de Concentração em Leitura e Cognição, Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Letras. Orientador: Prof. Dr. Jorge Molina).
Nota:
A imagem inicial inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
A imagem inicial inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário