25/01/2016

Os Africanos no Brasil, de Raimundo Nina Rodrigues

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O perfil do degenerado

Nina Rodrigues era defensor da liberdade cultural dos negros e de suas práticas religiosas, contudo, era partidário das teorias de superioridade e inferioridade das raças. Ele era contra a miscigenação, pois acreditava que esta era degenerativa, um problema biológico que suscitava as maiores discussões, postas no campo das ciências humanas por levantar a questão da origem do homem. Os poligenistas apoiavam o hibridismo e os monogenistas a mestiçagem, porém, com a teoria do evolucionismo este debate perdeu o interesse.

A psicologia buscava compreender se os mestiços eram ou não inferiores, entretanto, foi a psicologia criminal que mostrou a influência degenerativa do negro, mas para Nina Rodrigues faltavam estudos apoiados em provas: os estudiosos dessa teoria não tocavam no assunto da miscigenação por falta de documentação adequada.

Ao mesmo tempo em que existiam estudos contra mestiçagem, existiam também estudos a favor dela, Gobineau e Quatrefages respectivamente. Mas faltava, para o autor, um estudo observacional; este o propôs com o seguinte recorte: “estudar pequenas localidades e completar o estudo da capacidade social da população, examinando-se a capacidade biológica escalonada sobre a história médica”. As observações clínicas eram favoráveis à condição física e mental dos mestiços, mas tais observações não eram pautadas pelo empirismo.
Nina Rodrigues, em seus estudos na cidade de Serrinha-BA, “comprovou” que a mestiçagem era degenerativa. Lá se encontravam negros em sua maioria, poucos brancos e algumas evidências de embranquecimento. Serrinha foi considerada por ele como uma localidade de povo semibárbaro que se contentava em sobreviver, não possuía ambição alguma. Podia-se encontrar tendência à degenerescência em grau acentuado, esta era marcada por problemas psicológicos, deformidades físicas e vícios como sendo sinais de que a mistura de duas raças distantes fossem biologicamente conflitantes.

A incapacidade mental começa a manifestar-se apenas na adolescência: a neurastenia era a degenerescência mais comum na cidade de Serrinha, assim como a física (anomalias) e a mental. Ele desconsidera as condições climáticas, locais, sanitárias ou de consanguinidade como fatores para tal, contudo, o alcoolismo era relacionado a este fator, pois os mestiços eram, como diria Feré, “alcoolizáveis”.

 A consanguinidade era incapaz de, sozinha, gerar tais casos degenerados. Existiam em Serrinha famílias degeneradas sem nenhum laço consanguíneo, além do fator da hereditariedade, contudo, a real causa da degenerescência são os maus cruzamentos raciais. O cruzamento entre as raças branca, negra e vermelha fragilizou a resistência física e moral dessa população impedindo, dessa forma, a adaptação climática e as condições de luta social das raças superiores. Existem, porém, exceções, nem todos os mestiços são totalmente degenerados: entre eles há os superiores e os inferiores, os superiores são aqueles que apresentam “brilhantes manifestações de inteligência” e os inferiores são aqueles que apresentam alto grau de enfermidade, desequilíbrio mental e anomalias físicas, são os degenerados-enfermos e estes últimos predominam na cidade de Serrinha, gerando uma fragilidade congênita e impedindo uma organização social. Os degenerados superiores são inteligentes, mas são limitados, pois, são incapazes de uma ação continuada e durável. Todos esses “fatores” são provas, para o autor, de que a degenerescência não é apenas um fenômeno mal interpretado.

 As características das duas raças não podem se harmonizar, juntas elas resultam sempre num produto médio que afeta características físicas e morais. Existem, entretanto, casos em que uma sobressai a outra, ou seja, um mestiço pode herdar a inteligência da raça superior. O cruzamento de raças muito diferentes produz um tipo humano que não pode nem ser superior e nem inferior, se as raças não forem tão afastadas, por exemplo, povos com a mesma origem que viveram em circunstâncias diferentes por poucas gerações, podem se reproduzir através do cruzamento em um tipo mental superior.

 A inadaptação das raças a determinados climas e lugares não é favorecida pela mestiçagem, ao contrário, a raça branca, sempre que se une a raças nativas, degenera-se e se extingue quando limitada aos climas tropicais, além do que, o sangue branco misturado não impede a degenerescência.

No que tange à criminalidade, nos povos mestiços, esta é violenta. Os mestiços não racionalizavam a respeito de suas ações e eram dados à impulsividade, não se adequavam às regras sociais e não possuíam consciência, o que os tornava inteligentes no que se refere à criminalidade. A degenerescência é, porém, determinante na qualidade dos crimes e não na quantidade. Existem dados estatísticos que comprovam que o maior índice de criminalidade se dá entre as populações de cor:

Podemos, então, concluir que o crime, como as outras manifestações de degenerescência dos povos mestiços, tais como a teratologia, a degenerescência-enfermidade e a degenerescência simples de incapacidade social, está intimamente ligado, no Brasil, à decadência produzida pela mestiçagem defeituosa das raças antropologicamente muito diferentes e cada uma não adaptável, ou pouco adaptável, a um dos climas extremos do país: a branca ao norte, e negra ao sul.

Apesar do racismo cientificista, Nina Rodrigues estudava com afinco a cultura negra, o processo de adaptação das outras raças e a interiorização do elemento branco.


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Fonte:

Elaine M. e S. Oliveira, Karine Dutra Rocha Viana e  Nathaly Pereira de Oliveira: "Reflexos da obra de Nina Rodrigues no pensamento social brasileiro". Revista Digital "Sem Aspas":  Araraquara, v. 2, n. 1, 2, p. 23-29, 2013. Disponível em: www.abfhib.org

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