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O perfil do degenerado
Nina Rodrigues era defensor da
liberdade cultural dos negros e de suas práticas religiosas, contudo, era
partidário das teorias de superioridade e inferioridade das raças. Ele era
contra a miscigenação, pois acreditava que esta era degenerativa, um problema
biológico que suscitava as maiores discussões, postas no campo das ciências
humanas por levantar a questão da origem do homem. Os poligenistas apoiavam o
hibridismo e os monogenistas a mestiçagem, porém, com a teoria do evolucionismo
este debate perdeu o interesse.
A psicologia buscava
compreender se os mestiços eram ou não inferiores, entretanto, foi a psicologia
criminal que mostrou a influência degenerativa do negro, mas para Nina
Rodrigues faltavam estudos apoiados em provas: os estudiosos dessa teoria não
tocavam no assunto da miscigenação por falta de documentação adequada.
Ao mesmo tempo em que existiam
estudos contra mestiçagem, existiam também estudos a favor dela, Gobineau e
Quatrefages respectivamente. Mas faltava, para o autor, um estudo
observacional; este o propôs com o seguinte recorte: “estudar pequenas localidades
e completar o estudo da capacidade social da população, examinando-se a
capacidade biológica escalonada sobre a história médica”. As observações
clínicas eram favoráveis à condição física e mental dos mestiços, mas tais
observações não eram pautadas pelo empirismo.
Nina Rodrigues, em seus
estudos na cidade de Serrinha-BA, “comprovou” que a mestiçagem era
degenerativa. Lá se encontravam negros em sua maioria, poucos brancos e algumas
evidências de embranquecimento. Serrinha foi considerada por ele como uma
localidade de povo semibárbaro que se contentava em sobreviver, não possuía
ambição alguma. Podia-se encontrar tendência à degenerescência em grau
acentuado, esta era marcada por problemas psicológicos, deformidades físicas e
vícios como sendo sinais de que a mistura de duas raças distantes fossem
biologicamente conflitantes.
A incapacidade mental começa a
manifestar-se apenas na adolescência: a neurastenia era a degenerescência mais
comum na cidade de Serrinha, assim como a física (anomalias) e a mental. Ele
desconsidera as condições climáticas, locais, sanitárias ou de consanguinidade
como fatores para tal, contudo, o alcoolismo era relacionado a este fator, pois
os mestiços eram, como diria Feré, “alcoolizáveis”.
A consanguinidade era incapaz de, sozinha,
gerar tais casos degenerados. Existiam em Serrinha famílias degeneradas sem
nenhum laço consanguíneo, além do fator da hereditariedade, contudo, a real
causa da degenerescência são os maus cruzamentos raciais. O cruzamento entre as
raças branca, negra e vermelha fragilizou a resistência física e moral dessa
população impedindo, dessa forma, a adaptação climática e as condições de luta
social das raças superiores. Existem, porém, exceções, nem todos os mestiços
são totalmente degenerados: entre eles há os superiores e os inferiores, os
superiores são aqueles que apresentam “brilhantes manifestações de
inteligência” e os inferiores são aqueles que apresentam alto grau de
enfermidade, desequilíbrio mental e anomalias físicas, são os degenerados-enfermos
e estes últimos predominam na cidade de Serrinha, gerando uma fragilidade
congênita e impedindo uma organização social. Os degenerados superiores são
inteligentes, mas são limitados, pois, são incapazes de uma ação continuada e
durável. Todos esses “fatores” são provas, para o autor, de que a
degenerescência não é apenas um fenômeno mal interpretado.
As características das duas raças não podem se
harmonizar, juntas elas resultam sempre num produto médio que afeta
características físicas e morais. Existem, entretanto, casos em que uma
sobressai a outra, ou seja, um mestiço pode herdar a inteligência da raça
superior. O cruzamento de raças muito diferentes produz um tipo humano que não
pode nem ser superior e nem inferior, se as raças não forem tão afastadas, por
exemplo, povos com a mesma origem que viveram em circunstâncias diferentes por
poucas gerações, podem se reproduzir através do cruzamento em um tipo mental
superior.
A inadaptação das raças a determinados climas
e lugares não é favorecida pela mestiçagem, ao contrário, a raça branca, sempre
que se une a raças nativas, degenera-se e se extingue quando limitada aos
climas tropicais, além do que, o sangue branco misturado não impede a
degenerescência.
No que tange à criminalidade,
nos povos mestiços, esta é violenta. Os mestiços não racionalizavam a respeito
de suas ações e eram dados à impulsividade, não se adequavam às regras sociais
e não possuíam consciência, o que os tornava inteligentes no que se refere à
criminalidade. A degenerescência é, porém, determinante na qualidade dos crimes
e não na quantidade. Existem dados estatísticos que comprovam que o maior
índice de criminalidade se dá entre as populações de cor:
Podemos, então, concluir que o crime, como as outras manifestações de
degenerescência dos povos mestiços, tais como a teratologia, a
degenerescência-enfermidade e a degenerescência simples de incapacidade social,
está intimamente ligado, no Brasil, à decadência produzida pela mestiçagem
defeituosa das raças antropologicamente muito diferentes e cada uma não
adaptável, ou pouco adaptável, a um dos climas extremos do país: a branca ao
norte, e negra ao sul.
Apesar do racismo cientificista,
Nina Rodrigues estudava com afinco a cultura negra, o processo de adaptação das
outras raças e a interiorização do elemento branco.
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Fonte:
Fonte:
Elaine M. e S. Oliveira, Karine
Dutra Rocha Viana e Nathaly Pereira de Oliveira:
"Reflexos da obra de Nina Rodrigues no pensamento social brasileiro".
Revista Digital "Sem Aspas": Araraquara, v. 2, n. 1, 2, p. 23-29, 2013.
Disponível em: www.abfhib.org
Bom texto !
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