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Para Sandra Dias
Inclinado sobre o caderno, o poeta contempla o breve
repouso das frases perante a luz monótona dos dias indistintos, como são
indistintos e dispersos os ferimentos da alma, ainda por cicatrizar; como um
calafrio perante a lâmina reluzente, fora da bainha. Este é o lugar por onde o
último alento vislumbra uma tímida esperança, para que possa volver o terno
olhar sobre a terra da translúcida neblina.
Neste instante, inclinado sobre o caderno, o poeta
rodeia-se de sons como se fossem frutos maduros para que a voz se vá
escapulindo entre as grades das cordas vocais e do meio da cinza do silêncio se
inscreva e emerja a sonoridade do poema.
Faça-se, pois, silêncio em minha alma com esse
desapego de um cristal embaciado pelo último suspiro e aconteçam tréguas dentro
em mim, como fragmentos de horizontes sanguíneos sobre a tela de uma folha em
branco.
Inclinado sobre o caderno, o poeta estanca as
imprecisões dos espaços por entre os escombros da alegria e dos assombrados
delírios a lembrar derrocadas e estilhaços perturbando a quietude dos lagos…
E o poeta ergue-se, como coluna, e na busca interior,
pela solidão das palavras, depara-se consigo mesmo, como angústia embaciada,
sobre o espelho.
Salvè, templos imemoráveis da longa frescura, quando o
pensamento deslizava sobre a face da ribeira, verdenho como jade e tal breve
quanto o olhar.
Eis-me regressado, por dentro, nos sísmicos segredos,
para que a terra se rasgue num vulcão menstruado estremecendo as águas do
silêncio.
Salvè, templos imemoráveis da longa frescura pois que
ainda me visto de azul pálido e de branco par que apele mourisca se ostente
mais terrosa, posto que há vendavais dentro de mim que me quebram os mastros e
a madeira, por dentro, cheira aos boquejos do Verão e ao perfume, inexistente,
da rosa.
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