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Bocage
Manuel Maria Barbosa du Bocage, o
ilustre poeta português, nasceu em Setúbal, em 15 de setembro de 1765, vindo a
falecer em 21 de dezembro de 1805. Nesses breves quarenta anos, porém, sua fama
de boêmio, seus versos eróticos e o folclore de suas piadas construíram “...uma
espécie de mito... quase uma metáfora: seu nome acoberta tudo o que de
pornografia e libertinagem corre anônimo por aí...” No mesmo sentido, Esther de
Lemos: “...para o povo inculto, para os que não lhe leram nunca os versos mais
belos, para os que mal sabem quem ele foi – o nome de Bocage ficou sempre
ligado à graça pesada e suja das anedotas que se vendem pelas ruas em folhetos
mal impressos... imagem tosca fixada na tradição”. A essa imagem de um BOCAGE
popular opõe-se tão enérgica e vigorosamente a figura do BOCAGE literário que
até mesmo Almeida Garrett, um dos mais destacados escritores lusitanos,
sublinhou a enorme distância que os separa, registrando, no prefácio da sua
“Lírica de João Mínimo”: “O excêntrico, ininteligível, estapafúrdico...” Bocage
“...dos cafés... não pode ser o mesmo que o tradutor de Ovídio, o autor do Leandro
e Hero, de Tritão e de tanta cousa bela” (sic).
Voltados para o BOCAGE literário,
principiemos por frisar o “...modo de produção poética típico do século XVIII,
quando os poetas, reunidos em academias, dependiam do financiamento dos ricos e
poderosos aos quais, em troca, cumpria dedicar versos elogiosos”; e versos que
atendiam às rígidas lições dos clássicos gregos e latinos, adotavam-lhes o
código mitológico, e caracterizavam-se pelo convencionalismo, pelo
artificialismo e pelo formalismo – em verdade, “...um excesso de forma sobre
fundo...”. Não foi diferente com BOCAGE, que, sob o nome poético de Elmano
Sadino, integrou a Academia das Belas-Artes de Lisboa ou Nova Arcádia; mas de
cuja produção acadêmica veio a penitenciar-se mais tarde, em conhecido soneto:
“Incultas produções da mocidade... versos... que foram... Escritos pela mão do
Fingimento, Cantados pela voz da Dependência”.
Vivia-se, então, o que António
Hernâni Cidade chamou de “...fase intercalar de duas culturas sucessivas...”:
de um lado, os derradeiros estertores do mundo clássico, com sua vigorosa
preocupação racional; de outro, os frêmitos inaugurais do mundo romântico, com
seu intenso cuidado e desvelo para com o sentimento.
Embora um árcade, como o
demonstra, por exemplo, a sua métrica rigorosa, BOCAGE foi também e sobretudo
um pré- romântico, como o revela a sólida repercussão que sua vida e
circunstâncias pessoais tiveram em sua obra; constituindo, de fato, uma rebelião
pessoal, uma insurreição poética, um rompimento literário com a idade clássica.
Afirma-o Maria Helena da Rocha Pereira: “...um dos poucos setecentistas
portugueses a merecer a designação de pré- romântico”; e reafirma-o Guerreiro
Murta: “Bocage foi, sem dúvida, no seu tempo o poeta que mais contribuiu para a
formação do Romantismo” (sic); com o apoio de respeitados estudiosos, como
Hernâni Cidade e Vitorino Nemésio.
Com um pé no arcadismo e outro no
romantismo, BOCAGE encontrava-se numa encruzilhada, em que conviviam o ambiente
clássico, conseqüência da sua cultura, e as pulsações típicas do romântico,
fruto de suas inclinações pessoais. Por isso Hernâni Cidade afirma que o poeta
tem “...a herança da serenidade clássica, misturada ao tumulto romântico...”.
Por isso Maria Helena da Rocha Pereira compara-o a OVÍDIO, para descrevê-lo
como “...um poeta entre dois mundos”
(grifamos).
Embora tenha ganho destaque
também com suas traduções – “...Bocage foi inexcedível na arte de traduzir” – é
com seus versos que o poeta, dando livre curso às emoções, alça os vôos mais
elevados. Não foram poucos os especialistas que o reconheceram e proclamaram,
como Vitorino Nemésio – “...um gênio... que está ao mesmo tempo ao nível e
acima da emotividade de sua época...” (sic) – e como Esther de Lemos – “...um
dos maiores líricos portugueses – o maior do século XVIII”. Nenhum, todavia,
foi tão eloqüente ao fazê-lo quanto o nosso Olavo Bilac: “Em Portugal, a arte
de fazer versos chegou ao apogeu com Bocage e depois dele decaiu. Da sua
geração, e das que a precederam, foi ele o máximo cinzelador da métrica...
Depois dele, Portugal teve talvez poetas mais fortes, de surto mais alto, de
mais fecunda imaginação. Mas nenhum o
excedeu nem o igualou no brilho da expressão” (grifamos).
[...]
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Fonte:
José Roberto Vieira (Professor de Direito Tributário da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Faculdade de Direito das Faculdades Integradas Curitiba (graduação, especialização, mestrado e doutorado); Mestre e Doutor em Direito do Estado – Direito Tributário (PUC/SP); Estudos pós-graduados no Instituto de Estudios Fiscales (Madri, Espanha); Ex-membro do Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda (Brasília, DF); Auditor da Receita Federal - Curitiba, PR): “Bocage e as medidas provisórias: a emenda pior do que o soneto”.
Fonte:
José Roberto Vieira (Professor de Direito Tributário da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Faculdade de Direito das Faculdades Integradas Curitiba (graduação, especialização, mestrado e doutorado); Mestre e Doutor em Direito do Estado – Direito Tributário (PUC/SP); Estudos pós-graduados no Instituto de Estudios Fiscales (Madri, Espanha); Ex-membro do Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda (Brasília, DF); Auditor da Receita Federal - Curitiba, PR): “Bocage e as medidas provisórias: a emenda pior do que o soneto”.
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