04/04/2015

A Chave do Enigma, de Antônio Feliciano de Castilho

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Dezembro de 1861:
Digam embora que me biografei; vou escrever uma página da minha vida.
Se mais ninguém a ler, lê-la-ão os meus amigos. Ela também, erma de interesses grandes, desenfeitada de estilo, e só atendível, se o for, por verdade e afeto, aspira unicamente a cativar a atenção dos poucos para quem um murmúrio de folhas num retiro de estio, e de vez em quando uns gorjeios ou pios de duas aves que se entrereclamam emboscadas, suprem conversações, leituras, e até pensar.
Enfim, se nem para os meus íntimos valer o que eu tenho de bosquejar, muito saudoso de tempos que lá vão, ficará sendo só para mim, e para quem m'o inspirou; ¡ah! quem m'o inspirou já m'o não pode ler, mas por ventura o ouve. Será um devaneio, e um solilóquio; será uma folha solta de uma deliciosa árvore longínqua, hospedeira minha há muitos dias; folha que uma viração despegou, volveu nos ares, me atirou à fronte, e me lançou aos pés, para aí fenecer esquecida.

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