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Dezembro
de 1861:
Digam
embora que me biografei; vou escrever uma página da minha vida.
Se
mais ninguém a ler, lê-la-ão os meus amigos. Ela também, erma de interesses
grandes, desenfeitada de estilo, e só atendível, se o for, por verdade e afeto,
aspira unicamente a cativar a atenção dos poucos para quem um murmúrio de
folhas num retiro de estio, e de vez em quando uns gorjeios ou pios de duas
aves que se entrereclamam emboscadas, suprem conversações, leituras, e até
pensar.
Enfim,
se nem para os meus íntimos valer o que eu tenho de bosquejar, muito saudoso de
tempos que lá vão, ficará sendo só para mim, e para quem m'o inspirou; ¡ah!
quem m'o inspirou já m'o não pode ler, mas por ventura o ouve. Será um
devaneio, e um solilóquio; será uma folha solta de uma deliciosa árvore longínqua,
hospedeira minha há muitos dias; folha que uma viração despegou, volveu nos
ares, me atirou à fronte, e me lançou aos pés, para aí fenecer esquecida.
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