20/11/2014

Poemas de Cordel (Literatura de Cordel), Leandro Gomes de Barros

 Poemas de Cordel (Literatura de Cordel), Leandro Gomes de Barros
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Leandro, o que “fala”: a passagem do poeta para ator político

Leandro, o que “fala”: a passagem do poeta para ator político Se os acontecimentos da Primeira República constituem a espinha dorsal de grande parte da obra poética de Leandro Gomes de Barros isso nos leva a caracterizá-lo substancialmente como um homem de palavra, no sentido de usar a habilidade retórica para fazer a leitura de sua própria época de acordo com a ótica do popular.

Poderíamos estabelecer um paralelo interessante entre o poeta, o cantador e o repentista, figuras importantes na base da Literatura de Cordel. Enquanto os dois últimos são encarregados da transmissão dos versos alheios e responsáveis pela improvisação no momento da cantoria, de tirar o repente, o poeta é, ao contrário, o senhor de seu discurso, o dono da palavra. Em Leandro essa maestria já lhe fora reconhecida em vida pelos próprios contemporâneos, que viam nele a eloqüência personificada embora não fosse propriamente cantador. João Martins de Athayde, aquele que o plagiaria desde o início, usava a expressão “o primeiro sem segundo”, para se referir a Leandro.

A associação entre política e oratória é particularmente fecunda nesse Brasil do século XIX, através de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, Rui Barbosa, dentre tantos outros. Já no século XX o prestígio da verve política continuaria através de nomes como Mangabeira, Artur Bernardes, Afonso Arinos, Aliomar Baleeiro, Nestor Duarte e Carlos Lacerda, principalmente.

Comentando seu desempenho como representante da UDN a partir de 1945, Afonso Arinos de Mello Franco define-se mais como um político de palavra, do que um político de ação, entendendo-se aí a familiaridade com a tribuna e o prestígio das idéias em detrimento dos fatos. E afirma que “falando, era um militante, não agindo”.

Gostaríamos de reter a afirmação para aplicá-la ao caso de Leandro Gomes, na perspectiva de análise que privilegiamos de ora em diante e que se baseia na mudança de um status – o de poeta – para outro – o de ator político. Em outro trecho da longa entrevista, Arinos melhor explicita sua função ao se auto-nomear, aquele que falava, o que dizia o que queria, embora algumas vezes fosse “mandado falar pela bancada ” e enxerga essa postura como a única possível de livrá-lo dos compromissos com os setores partidários, pairando como observador bem situado acima do jogo de influências políticas, dos fatos, e sustentando-se apenas pelo dom da palavra.

No entanto, o que seria garantia de isenção do jogo partidário e da máquina política para o entrevistado, não o será para o entrevistador. Analisando as declarações enfáticas de Arinos, que afirma desconhecer os fatos e ser incapaz de analisar as minúcias que os envolvem, Verena Alberti levanta o episódio do célebre discurso proferido por ele em 1954 e vê aí o mote paradoxal contrário à postura do analisado desde o início:

“Ser ‘aquele que falava’ na UDN significava estar acima dos interesses políticos imediatos responsáveis pelas ações do partido, e suficientemente mal-informado para adotar uma postura de afastamento. O único momento em que tal padrão parece oferecer dificuldades é o discurso de 13-8-1954 pedindo a renúncia de Getúlio Vargas. Neste, as palavras se transformam em ação, não só ‘derrubam o governo’, como desembocam em um ato trágico - o suicídio de Vargas - , onde emudecem em sentido”.

A aproximação de Arinos com Leandro deve ser feita com ressalvas. Embora analiticamente o poeta paraibano passe a ser visto agora como o “homem que falava”, isto não significa, no entanto, que dizia o que os outros queriam ou que servia para falar o que queriam que fosse dito. O alter de Leandro é o próprio compromisso assumido com os leitores, como um poeta atento à situação política de sua época, como um observador privilegiado dentre seus pares, que não chegaram a explorar com tamanha verve os assuntos que lhe são caros em sua poética.

Nesse sentido sua produção é exemplar, visto que denuncia os fatos, que iriam se perpetuar como males do próprio regime republicano, colocando-se no lugar do povo. A literatura ou os versos representam, portanto, a tribuna de onde ele fala aos que querem ouvir/ler as histórias reais ou inventadas e em que o fio condutor será sempre os acontecimentos políticos.
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Fonte:
Ivone da Silva Ramos Maya: “O poeta de cordel e a primeira república: a voz visível do popular”. (Dissertação de mestrado apresentada ao Mestrado profissionalizante em história política, bens culturais e projetos sociais do Centro de Pesquisa e Documentação Histórica da Fundação Getúlio Vargas do Rio de janeiro. Orientadora: Profa. Dra. Marly Silva da Motta). Rio de janeiro, 2006.

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