Para baixar este livro gratuitamente em formato PDF, acessar o
site do “Projeto Livro Livre”: http://www.projetolivrolivre.com/
(Download)
↓
(Download)
↓
Os livros estão em ordem alfabética: AUTOR/TÍTULO (coluna à
esquerda) e TÍTULO/AUTOR (coluna à direita).
---
Leandro, o que “fala”: a passagem do poeta para ator político
Leandro, o que “fala”: a passagem
do poeta para ator político Se os acontecimentos da Primeira República
constituem a espinha dorsal de grande parte da obra poética de Leandro Gomes de
Barros isso nos leva a caracterizá-lo substancialmente como um homem de
palavra, no sentido de usar a habilidade retórica para fazer a leitura de sua
própria época de acordo com a ótica do popular.
Poderíamos estabelecer um
paralelo interessante entre o poeta, o cantador e o repentista, figuras
importantes na base da Literatura de Cordel. Enquanto os dois últimos são
encarregados da transmissão dos versos alheios e responsáveis pela improvisação
no momento da cantoria, de tirar o repente, o poeta é, ao contrário, o senhor
de seu discurso, o dono da palavra. Em Leandro essa maestria já lhe fora
reconhecida em vida pelos próprios contemporâneos, que viam nele a eloqüência
personificada embora não fosse propriamente cantador. João Martins de Athayde,
aquele que o plagiaria desde o início, usava a expressão “o primeiro sem
segundo”, para se referir a Leandro.
A associação entre política e
oratória é particularmente fecunda nesse Brasil do século XIX, através de Joaquim
Nabuco, José do Patrocínio, Rui Barbosa, dentre tantos outros. Já no século XX
o prestígio da verve política continuaria através de nomes como Mangabeira,
Artur Bernardes, Afonso Arinos, Aliomar Baleeiro, Nestor Duarte e Carlos
Lacerda, principalmente.
Comentando seu desempenho como
representante da UDN a partir de 1945, Afonso Arinos de Mello Franco define-se
mais como um político de palavra, do que um político de ação, entendendo-se aí
a familiaridade com a tribuna e o prestígio das idéias em detrimento dos fatos.
E afirma que “falando, era um militante, não agindo”.
Gostaríamos de reter a afirmação
para aplicá-la ao caso de Leandro Gomes, na perspectiva de análise que
privilegiamos de ora em diante e que se baseia na mudança de um status – o de
poeta – para outro – o de ator político. Em outro trecho da longa entrevista,
Arinos melhor explicita sua função ao se auto-nomear, aquele que falava, o que
dizia o que queria, embora algumas vezes fosse “mandado falar pela bancada ” e
enxerga essa postura como a única possível de livrá-lo dos compromissos com os
setores partidários, pairando como observador bem situado acima do jogo de
influências políticas, dos fatos, e sustentando-se apenas pelo dom da palavra.
No entanto, o que seria garantia
de isenção do jogo partidário e da máquina política para o entrevistado, não o
será para o entrevistador. Analisando as declarações enfáticas de Arinos, que
afirma desconhecer os fatos e ser incapaz de analisar as minúcias que os
envolvem, Verena Alberti levanta o episódio do célebre discurso proferido por
ele em 1954 e vê aí o mote paradoxal contrário à postura do analisado desde o
início:
“Ser ‘aquele que falava’ na UDN
significava estar acima dos interesses políticos imediatos responsáveis pelas
ações do partido, e suficientemente mal-informado para adotar uma postura de
afastamento. O único momento em que tal padrão parece oferecer dificuldades é o
discurso de 13-8-1954 pedindo a renúncia de Getúlio Vargas. Neste, as palavras
se transformam em ação, não só ‘derrubam o governo’, como desembocam em um ato
trágico - o suicídio de Vargas - , onde emudecem em sentido”.
A aproximação de Arinos com
Leandro deve ser feita com ressalvas. Embora analiticamente o poeta paraibano
passe a ser visto agora como o “homem que falava”, isto não significa, no
entanto, que dizia o que os outros queriam ou que servia para falar o que
queriam que fosse dito. O alter de Leandro é o próprio compromisso assumido com
os leitores, como um poeta atento à situação política de sua época, como um
observador privilegiado dentre seus pares, que não chegaram a explorar com
tamanha verve os assuntos que lhe são caros em sua poética.
Nesse sentido sua produção é
exemplar, visto que denuncia os fatos, que iriam se perpetuar como males do
próprio regime republicano, colocando-se no lugar do povo. A literatura ou os
versos representam, portanto, a tribuna de onde ele fala aos que querem
ouvir/ler as histórias reais ou inventadas e em que o fio condutor será sempre
os acontecimentos políticos.
[...]
---
Fonte:
Ivone da Silva Ramos Maya: “O
poeta de cordel e a primeira república: a voz visível do popular”. (Dissertação
de mestrado apresentada ao Mestrado profissionalizante em história política,
bens culturais e projetos sociais do Centro de Pesquisa e Documentação
Histórica da Fundação Getúlio Vargas do Rio de janeiro. Orientadora: Profa.
Dra. Marly Silva da Motta). Rio de janeiro, 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário