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Por que ler as Memórias de Raul Brandão?
A leitura das Memórias, de Raul Brandão, leva a
pensar que há algo de ontológico que impele o escritor português à prática da
escrita. Com efeito, o texto literário pode ser interpretado como “derradeiro
abrigo contra o esquecimento e o silêncio, contra a indiferença da morte” (GAGNEBIN,
2009, p. 112). O fato de aparentemente lutar contra a morte, repeli-la, pode parecer
contraditório quando se observa que a escrita brandoniana tem por um de seus
mais destacados pilares a tensão morte/vida, ao abrigo de narradores que,
incessantemente, chamam-na para perto de si:
Aqui cumpriu a condenação perpétua de escrever, de escrever
sempre [...]. Estou a vê-lo a entrar por aquela porta a dentro – tenho medo desta grande figura dolorida. Mete-me medo desde depois de morto. Vejo diante dos
meus olhos o fantasma quase cego, com a boca amarga, só ossos e pele, só osso e
desespero. (BRANDÃO, 1998, p. 164).
No fluir da escritura, o autor de Guimarães luta contra a morte
porque a compreende na forma da derrota final, porque “o esquecimento é a morte
definitiva” (VIÇOSO, 1994, p. 177) dos homens. Raul Brandão encarna o
narrador-sucateiro, aquele que recolhe os destroços do passado no intuito de
não permitir que nada se perca.
Esse narrador-sucateiro, que também poderia ser o
historiador, “não tem por alvo recolher os grandes feitos. Deve muito mais
apanhar tudo aquilo que é deixado de lado como algo que não tem significação,
[...] algo com que a história oficial não sabe o que fazer” (GAGNEBIN, 2009, p.
54). É somente na encruzilhada da escrita, seja ela de cariz literário,
histórico, memorialístico e ainda (auto)biográfico, que o desejo benjaminiano
de apokatastasis, isto de “recoleção
de todas as almas no Paraíso” (Ibidem) pode se tornar viável. Pensar esse
resgate das almas dos que soçobraram no decurso da história é, em última
análise, mirar a redenção dos vencidos, a que o filósofo alemão faz alusão nas
suas teses “Sobre o conceito da história”.
Posto isto, torna-se possível vislumbrar a escritura memorialística
de Raul Brandão na forma de contributo original para o resgate dos portugueses
que fizeram e fizeram-se nas primeiras décadas do século XX. Original não apenas porque põe em foco o levante
dos vencidos, mas ainda porque se constitui de forma singular ou, como pontua
Álvaro Manuel Machado, uma “poética de memória que [...] revoluciona as memórias
como gênero instituído.” (1996, p. 135). O escritor da Foz do Douro, como bem
sublinha Clara Rocha, produz seu relato como “diálogo de instâncias v rias” (1992,
p. 49), no qual revela “suas ambigüidades, sua contradições, a natureza híbrida
de sua composição” (MOLLOY, 2003, p. 15).
As inquietações sentidas pelos críticos literários quando se
debruçam sobre o texto brandoniano apontam para o mesmo sentido daquelas que
são acalentadas pelos teóricos dos escritos intimistas, porque residem
nesse tipo de texto agudas polêmicas, entre as quais a problemática do estatuto
literário. Por isso, faz-se preciso abrir caminhos teóricos que dêem conta da diversidade
dos escritos intimistas, assim como dos pontos que os definem como textos
literários, que é, por conseguinte, a qualidade que mais interessa a esta
investigação.
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Fonte:
Otávio Rios Portela: “De trapeiros e vencidos: efabulação e história em Raul Brandão”. (Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Doutor em Letras Vernáculas (Literaturas Portuguesa e Africanas. Orientador: Profa. Doutora Luci Ruas Pereira). Rio de Janeiro, 2012.
Nota:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese. As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra. O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho. Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade. Disponível digitalmente no site: www.letras.ufrj.br
Otávio Rios Portela: “De trapeiros e vencidos: efabulação e história em Raul Brandão”. (Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Doutor em Letras Vernáculas (Literaturas Portuguesa e Africanas. Orientador: Profa. Doutora Luci Ruas Pereira). Rio de Janeiro, 2012.
Nota:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese. As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra. O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho. Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade. Disponível digitalmente no site: www.letras.ufrj.br
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