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O pioneiro Sousândrade e suas contribuições no domínio das inovações do
léxico: audácias que o projetaram para fora do seu tempo
Para a construção
do glossário a partir de neologismos extraídos das obras Harpas Selvagens (1857)
e Harpa de ouro (1889/1899), de Sousândrade, torna-se necessária a busca por informações
sobre o autor e sobre e seu estilo, já que o contexto sócio-histórico-cultural reflete e influencia o léxico do
falante. Nesse caso, tais informações
podem contribuir para uma análise mais acurada e para a montagem das definições dos neologismos encontrados nessas obras.
Assim, neste
capítulo, buscaremos apresentar informações biográficas do autor, contudo,
pautar-nos-emos apenas nas informações elucidativas de seu estilo e que
esclareçam a alta incidência dos efeitos obtidos por meio de suas criações
lexicais inusitadas. Isso pelo fato de o interesse de nosso trabalho estar pautado
exclusivamente no campo da criação lexical que envolve todo o trabalho de
Sousândrade. Nessa parte do trabalho, apresentaremos, também, breves considerações sobre cada uma
das obras analisadas a fim de ressaltar a temática de cada uma e suas principais características levando informações
relevantes ao conhecimento o
leitor. Começaremos pelo contexto que abrangeu a criação das obras.
Apesar de Joaquim de Sousa Andrade Sousândrade
(1832-1902), esteticamente, não ter se enquadrado no período literário em que viveu
e ser um autor de estilo divergente e à frente de sua época, se partirmos da
data de produção das obras analisadas, percebemos que ele viveu em plena era do Romantismo.
Sabe-se que
o período romântico representou um tempo de grandes transformações para o Brasil,
e que foi uma época de carência de evolução industrial. Dessa forma, o Romantismo
representou a tendência de um povo que vinha de um colonialismo puro e que ainda
mantinha colunas do poder agrário e uma monarquia conservadora apesar dos surtos
republicanos. Essa situação gerou temas representativos que circundaram
aquele período, caracterizado como segunda geração romântica.
Temas como:
amor, pátria, a natureza, religião, o povo, e o passado, afloraram por diversas
vezes na poesia romântica e foram tematizados também na obra de Sousândrade, principalmente, temas relativos à pátria. Outros temas, bastante
recorrentes desde a primeira obra publicada Harpas Selvagens de 1857, os quais,
segundo Williams (1976), podem ser considerados como prediletos são: as saudades
da terra natal, as aventuras amorosas desastrosas e as belezas da natureza
sempre comparadas a alguma mulher amada. Trata-se de temas basicamente românticos
que sempre se relacionam com as vivências do poeta, traduzindo-se, assim, num
certo subjetivismo biográfico, característica bem marcante da obra de Sousândrade.
Adicionalmente,
tal biografia abre a possibilidade de um olhar mais detido para um americanismo sousandradino um dos aspectos
mais marcantes e menos estudados da obra desse autor. O amor desse poeta pela América,
como um todo, é bastante aparente em sua obra Harpa de Ouro , publicada postumamente.
Enquanto a maioria dos autores brasileiros de sua época não conseguia estabelecer
relação com o exterior senão como extensão e prolongamento das tendências
européias, Sousândrade, que manifesta um acentuado amor ao Brasil e ao
Maranhão, observou a situação e elegeu como pátria toda a América, unida por
seu ideário de liberdade.
Nesse contexto,
a originalidade do trabalho desse autor está na extraordinária visão das Américas,
desde os tempos pré-colombianos, pois tinha
amplo conhecimento da cultura que regia aqueles povos. Ele detinha um vasto conhecimento
de vários idiomas adquiridos por meio das inúmeras e variadas viagens
realizadas em diversos lugares do planeta, além do amplo conhecimento de história, mitologia, filosofia, literatura
e várias outras áreas de conhecimento consideradas como ciência daquela época.
Sousândrade
foi novidade em uma época em que os poetas brasileiros seguiam o caminho dos moldes acadêmicos num contexto fechado
e provinciano. Este poeta fez inúmeras viagens à Europa e viveu bastante tempo nos
Estados Unidos e, por isso, pôde conhecer de perto o mundo diferenciado da ascensão
industrial e capitalista, das concentrações urbanas de cidades como Nova
Iorque, além de conviver com a democracia da competição e do dinheiro. Dessa experiência, surgiu-lhe o
desejo e a utopia da República livre e comunitária que conservasse certa inocência, diferente das competições
por dinheiro que testemunhou em suas viagens. Ele foi, então, testemunha das
mudanças que ocorreram após a Guerra
da Secessão (1861-65), sendo contemporâneo da expansão industrial
norte-americana e dos
escândalos financeiros que marcaram aquele país. Sua presença in loco
foi fundamental para a matéria prima que recolheu em sua obra. Seu retorno ao
Brasil, contudo, coincidiu com sua
ruína financeira.
Sousândrade
viveu em uma época conturbada em que a burguesia marginalizou e neutralizou alguns
grandes escritores que se diziam contra a ideologia capitalista que se especulava
naquele tempo. De origem da elite latifundiária, este poeta desde cedo se
rebelava contra a condição desumana em que o escravo era tratado e já
preconizava a República que segundo
ele República é menina bonita/ diamante incorruptível HO. Segundo Willians e Moraes
(2003) a obra Harpa de Ouro é tida
como a canção republicana de Sousândrade que saúda o novo sistema de governo, com
o qual o poeta já sonhava há muitos anos. Contudo, apesar de ser uma louvação, também
nessa obra, ele faz graves acusações criticando os problemas que se acirravam na
aplicação desse regime no Brasil. A princípio, a obra Harpa de Ouro seria uma
declaração de amor à princesa Isabel: Acordar! Não entr isteças/ Ao esplendor de tanta
luz!/ Sou o ideal em que pensas/ - Oiço Isabel ou Jesus . Entretanto, os temas do sonho republicano e da abolição
da escravatura prevaleceram na maior
parte da obra.
Já a obra Harpas Selvagens (1857),
o livro de estréia de Sousândrade, é considerada a mais bem realizada sob um ponto
de vista técnico. Revelador de fortes características românticas, esta obra traduz grande beleza plástica
e apresenta uma variedade temática abordando filosofia, religião, viagens, escravidão,
além de descrever cenas lúgubres e até macabras. Tem-se também o mar, a morte, a
sombra, a noite, a saudade e desespero, amor erótico, como outros temas que são
marcantes nessa obra cuja temática se apresenta sempre num tom bucólico
contextualizado num ambiente de solidão, desespero e sofrimento: E dum lado o demônio e o anjo doutro/ E eu no meio,
minhalma despedaçam/ (...) Cândidas salva-me: o demônio embora/ Me persiga mostrando-me os meus dias/ Como são
desgraçados... porém, antes/
Falaz espe rança, que a descrença eterna . Diacronicamente, o brasileiro, ante a recente independência, proclamada
em 1822, ansiava por uma resposta à pergunta sobre sua origem. Diante de uma sociedade
desestruturada, carente e necessitada de uma identidade própria surge, então, Sousândrade,
numa época em que uma pequena
e privilegiada elite do Maranhão vivia um bem-estar material buscando sempre nos modelos
europeus as bases de criação dos filhos. Era comum entre a elite formar seus filhos
em universidades estrangeiras, como ocorreu com Sousândrade.
Todavia,
este cenário engendrou, por outro lado, o surgimento de um escritor crítico, lúcido,
ativo, antecipador das formas da poesia moderna, mas marginalizado. E toda essa
experiência o colocou a frente dos outros poetas daquela época, pois lhe abriu vastíssimos
horizontes possibilitando criação de obras inovadoras e irreverentes, distintas
de toda a poesia brasileira do século XIX. Assim, criou obras recheadas com
palavras formadas de diferentes processos de composição, arranjos sonoros incomuns,
palavras plurilingüísticas, além de agressivos conjuntos verbais e até inusitadas
montagens sintáticas. Por tudo isso, segundo Bosi (2001, p. 126) o poeta não podia ser assimilado no seu tempo
e, de fato, não o foi... .
Sousândrade
preferiu não seguir os moldes acadêmicos que a tradição romântica legara. Sousândrade criou obras representativas de sua
ideologia frente àquela sociedade especuladora e capitalista que era representada
pela burguesia triunfante e, por isso, traz arraigado e manifestado em todo seu trabalho muito de sua história, de
seu tempo e de seu ponto de vista. Sendo assim, é indiscutível a riqueza
literária, histórica e cultural dessas obras e o que elas representam para a arte
brasileira, todavia trabalharemos no campo lexical, sobretudo no que tange à criação
neológica.
Ao analisar
a estilística sousandradina, na área pertinente ao léxico percebe-se que há uma
inusitada forma de conceber a sonoridade em seus poemas, e ainda utilização de
ousadas invenções vocabulares, principalmente na criação de palavras compostas.
Trata-se de uma obra em que a
criação de neologismos e associação de palavras é freqüente, em uma constante busca
de novas formas de expressão. Segundo os irmãos Campos (2002)
O léxico de
Sousândrade chama logo a atenção, pela alta incidência e pelo inusitado dos
efeitos obtidos, um procedimento morfológico: a composição de palavras. (...) Trata-se, pois, na microestética, de
uma constante sousandradina (CAMPOS,
2002, p. 107).
Na maioria das
vezes, o fato de implementar em suas obras valores típicos de seu estilo e conhecimentos
de língua, idiomas e culturas diversas levou o autor a criar novos vocábulos ou
dar novos significados à palavras já existentes no léxico português. Mas, foi
no campo da criação lexical, e especificamente, usando o processo de composição
de palavras que surge o diferencial deste poeta. Assim, Sousândrade além de montar
anagramas com palavras estrangeiras e portuguesas ainda misturou o léxico de
outros idiomas com o nosso, fazendo jogos sonoros e também dando formas e sentidos
diferenciados ao juntar partes de palavras estrangeiras entre si ou com outra parte de palavra portuguesa.
Ou seja, ele antecipou, com sua
riqueza lingüística e imagética, a poesia 'participante' que se faria no século 20. O poeta recorreu a várias línguas, entre vivas e mortas,
para captar os efeitos de sentido
inusitados de suas criações neológicas. Sua poética não só perpetua o espírito libertário e revolucionário
do movimento romântico, como também pode ser incluída num Romantismo forte e contestador.
A partir desse romantismo racional, a poética de Sousândrade pode ser compreendida como precursora da
modernidade. Assim, podemos perceber que muito da criatividade de Sousândrade, inclusive
os compostos criados por ele surgem como projeção da linha imagista
do poeta e brotam a partir do seu vasto conhecimento da estrutura da língua em
vários idiomas. Ou seja, há um encontro de vários planos semânticos que, ao
invés de se desdobrarem um de cada vez, fundem-se
em um único signo. Contudo, ele
parte de construções lexicalizadas ou semilexicalizadas.
Diríamos
com os irmãos Campos (2002) que apenas a inversão de termos determinantes em relação
aos determinados já é um fator de perturbação da norma lingüística como na
palavra doce-elétrica , por exemplo: (Todos) olhando os céus de ti/ Luz
doce-elétrica irradiando... (HO p.434). Outras vezes, são os anagramas produzidos
pelo poeta em sua estilística que causa perturbação e refletem a microestrutura
léxica desse autor. Em Harpas de Ouro ele
fala do Brasil como se fosse um navio, segundo Jomar Moraes (2003, p. 424),
navio era uma alegoria comum nos Estados Unidos. Então ele cria o anagrama
(navio/noiva): E do navio no anagrama/ Co a noiva estou... vendo navios . (HO, p.436).
Sousândrade
criou compostos e inúmeras palavras neológicas em toda sua obra, contudo, tais criações
teve um aumento bastante significativo nas últimas obras produzidas por ele. Diante
disso, não podemos, contudo, perceber o aumento de tais criações como se fosse
apenas excentricidade do poeta haja vista as criações de Sousândrade ter sempre
função expressiva. Por isso, os irmãos Campos (2003) advertem que
Deve-se
assinalar que esses compostos não atuam como meras extravagâncias, mas têm função
expressiva no contexto respectivo, correspondendo
geralmente a momentos de especial intensidade criativa na poética sousandradina
(CAMPOS, 2002, p. 110).
Assim, em relação
à estilística de Sousândrade, verificamos, em consonância com a teoria citada pela obra acima, que o poeta aciona
a linguagem utilizando inúmeras potencialidades da língua. Por isso, é fácil encontrar
em sua obra características de diversas tendências estéticas como: Barroco, Neoclassicismo,
Romantismo, Simbolismo, Realismo, Parnasianismo e, inclusive, tendências modernas.
Nesse caso, a obra sousandradina é recheada de palavras arcaicas, atuais,
estrangeiras, palavras novas originadas de línguas vivas e/ou mortas, inclusive
palavras que fundem dois idiomas como na palavra wifezita. Nesta palavra,
o poeta funde um substantivo da língua inglesa Wife com um sufixo indicador de diminutivo do
Português zita apresentando a idéia
de esposinha termo criado para caracterizar
carinhosamente a República, então, recentemente proclamada.
Na
jacarândea árvor da vida
Trepa; eu
desenho o resplendor
D Wifezita
Syke-Hamadryada
Que atira
flores no pintor
- Vem ver
o fiel quadro, querida -
Nonsenses fruit I give you for (SOUSÂNDRADE,
1888, p. 436)
Os irmãos Campos
(2002) esclarecem que Sousândrade substitui as partes fracas ou gastas da
língua fazendo nominalizações de adjetivos, introjetando substantivos no centro
de ações verbais. Tal procedimento
rompe o fluxo das convenções da norma criando as denominadas palavas-ilhas ou palavras-coisas, como se fosse blocos autônomos. Tudo isso carregado de sentido e possibilidades de interpretação, pois a informação,
trazida por esses blocos, transcende a semântica, além de ser imprevisível causando
inúmeras surpresas nas ordenações
dos signos. Segundo os irmãos Campos (2002), a linguagem sousandradina apresenta níveis estilísticos vários, uma linguagem
sincrética por excelência, abrindo-se num verdadeiro feixe de dicções, que tanto
vai se alimentar nos clássicos
da língua, quanto se projeta em invenções premonitórias do futuro dapoesia
(CAMPOS, 2002, p. 32).
Nesse caso,
os irmãos Campos, estudiosos da obra sousandradina, ainda esclarecem que o barroquismo é uma das grandes linhas que
se pode discernir na obra desse poeta. Contudo, não se trata do estilo barroco histórico, mas num estilo
abstrato que se manifesta nos cultismos
léxicos e sintáticos (palavras raras e arcaizantes, neologismos, hibridismos, hipérbatos,
elipses violentas, elusões e alusões etc.) num arrojado processo metafórico, na
recarga de figuras retóricas, na tessitura sonora que incorpora as onomatopéias
e a dissonância, na importação constante de recursos sintáticos e morfológicos de
extração estrangeira, além de interpolações idiomáticas que vão beber em outras
fontes como o tupi, o quíchua, o espanhol, o italiano, o holandês. Assim, corroborando
com nosso pressuposto de que Sousândrade apresenta em sua obra um subjetivismo biográfico,
os irmãos Campos (2002, p. 33)
acrescentam que o poeta maranhense possuía arrojos formais que tinham um lastro
emocional em sua vida acidentada e peregrinante, e um lastro intelectual na sua
experiência de civilizações variadas e na sua vasta e multilingüe área de leitura,
o que se configura bastante perceptível em toda extensão da obra sousandradina,
inclusive nas primeiras publicações.
Augusto e Haroldo
de Campos (2002), ainda, assinalam nessa referida obra, que sob uma análise mais
detida dos compostos e dos contextos onde opera, Sousândrade recorreu a processos
formais extraídos de línguas estrangeiras, principalmente do Inglês. Nesse
caso, ele se aproxima de línguas isolantes como o chinês que tende à criação de
palavras compostas, já que constituem em unidades mais complexas, e cria em parte,
um novo e único organismo verbal ou nominal. Esses autores enfatizam que essas
observações derivam do fato de que o chinês é uma linguagem relacional, não
flexionada e possui a estrutura baseada na ordem das palavras. Assim, o Inglês também
tem sido comparado nesse aspecto como o Chinês. Os irmãos Campos (2002) afirmam
que no Chinês a posição do vocábulo na frase pode determinar a classe gramatical
dos vocábulos, isso sem necessidade de morfemas especiais, ou seja, nessa língua, a ordem das palavras se traduz em morfemas:
sol + lua = brilho, copo sol + lua = o copo
brilha; sol + lua copo = copo brilhante. Já no Inglês, com certa
semelhança, temos: Mountain wheat
= trigo da montanha, literalmente: montanha trigo. Nesse caso, os substantivos funcionam
como adjetivos, mediante a simples anteposição na frase. Estas são construções que
facilmente, segundo os Campos, se convertem em compostos e se lexicalizam. Nessa perspectiva, os irmãos
Campos concluem que
Sousândrade,
além de se inspirar, em muitas de suas criações, em processos morfológicos desta índole: terra-amor
(amor terreno ou telúrico); lança mão de uma sintaxe típica de línguas isolantes ao manipular seus compostos
dentro dos contextos respectivos copos cristal-diamantes (com dois substantivos justapostos em função adjetiva) é a sua construção para copos cristalinos-adamantinos
(CAMPOS, 2002, p. 111).
Essas
colocações de Haroldo e Augusto de Campos, considerados grandes estudiosos da obra
desse poeta, levam-nos a crer que Sousândrade, conhecedor e estudioso de vários
idiomas que era, pôde realmente ter utilizado em suas criações neológicas esse
conhecimento das estruturas de formação de palavras de outros idiomas e também do
Português. Ele frequentemente usa anteposições, traz compostos verbais com substantivos
ou adjetivos antepostos ao verbo agindo como um prefixo radical completando a ação
verbal e/ou adjetivando, forjando assim, neologismos verbais com bases de substantivos
ou adjetivos verbificados, como no verso: Sinto o coração livre-abrindo (HO p. 430).
Também cria neologismos
forjados de nomes próprios: Izabelzinha, Zeus-trovador.
É notório, entretanto,
que a obra Harpa de Ouro apresenta
muitos versos recheados de palavras, expressões e até compostos em outros idiomas.
O Inglês é o que prevalece, contudo, é perceptível uma grande utilização do
Grego Clássico. Segundo os irmãos Campos (2002,
p. 113) Sousândrade era helenista e latinista exímio, na grande tradição
humanista maranhense de um Odorico Mendes, do qual certamente conhecia as
traduções de Virgílio e Homero.
Importante
ressaltar, todavia, que várias fabricações de palavras e/ou compostos neológicos de Sousândrade não decorrem de nenhuma
importação ou aclimatação de processos morfológicos de outras línguas, surgem do
sintetismo, redução ou ampliação semântica, e cadeias metafóricas resumidas em
um, dois, três ou mais palavras ou expressões justapostas e até aglutinadas em uma
única palavra-ilha. Essas criações apresentam novas combinações de palavras
existentes, em algumas vezes contrações de novas combinações de metáforas demonstrando
uma imagética resultante da expressividade desse autor. Ele junta, aglutina, justapõe
as classes de palavras simultaneamente num mesmo impulso como se quisesse
dizê-las de uma única vez. Nesse caso, blocos de sintagmas são reduzidos a uma
só unidade, o que permite a
Sousândrade fundir numa imagem complexa toda uma série de ações ou estados.
Diante disso,
percebemos que Sousândrade consegue elevar a tensão estrutural e semântica de sua
poesia a níveis raramente atingidos entre os poetas. Possuidor de sensibilidade
moderna, esse poeta apresenta, de um ponto de vista estético e estilístico, um alto
teor de criatividade que até a atualidade é tido como sem paralelo entre seus contemporâneos
brasileiros. Assim, a obra de Sousândrade marca a independência da literatura
brasileira em plena era romântica, o que ocorreria apenas no século seguinte
com os modernistas. Por isso, como já mencionamos, ele é considerado um dos precursores do modernismo brasileiro.
Sendo a criação
lexical sousandradina base de nossa pesquisa, no próximo capítulo desse trabalho,
traremos estudos sobre o neologismo, apresentando-o como fator representativo da
expansão do léxico e, ainda, autores que fundamentaram teoricamente as reflexões
sobre esse tema, demonstrando os pontos de vista, conceituações e divergências entre
esses estudiosos da língua.
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Fonte:
Fonte:
Eliamar Godói: “Para a
construção de um glossário na obra Sousandradina: uma contribuição”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Lingüística - Curso de Mestrado em Lingüística da Universidade Federal de Uberlândia,
como requisito parcial à obtenção do título
de Mestre em Lingüística. Área de Concentração:
Estudos em Lingüística e Lingüística Aplicada. Orientador: Professor Dr.
Evandro Silva Martins). Uberlândia –
MG, 2007.
Notas:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida obra. As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra. O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho. Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da obra em sua totalidade.
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