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Camilo e o Teatro de Vila Real
Em 1858, Francisco Gomes da
Fonseca, um editor nascido em terras da Feira e estabelecido no Porto,
reeditava a primeira obra dramática de Camilo Castelo Branco, o Agostinho de
Ceuta. O autor, que na época já havia conquistado um importante lugar no
panorama das letras, entendeu anteceder o drama de um prólogo – em substituição
do que escrevera para a edição original de 1847 – , visando conquistar a
benevolência do público para a incipiente obra juvenil que
constituíra o seu primeiro ensaio
nos domínios da dramaturgia:
Há doze anos que um rapaz, sem
leitura, sem meditação, sem crítica, nem gosto escreveu um drama para ser
representado em teatro de província.
Logo adiante, revelava que a
primeira edição havia sido composta nas “tipografias de Bragança”, “de onde
nunca tinha saído coisa melhor, nem pior”, tendo depois sido enviada a um
livreiro portuense que a “comprou a peso”; recordava as suas “alegrias e quimeras”
da época em que escrevera o drama e as “vítimas que imolou ao seu orgulho de
dramaturgo”, por considerar “que tinha jus a impingir a leitura da sua tragédia
à família, e aos vizinhos”; citava entre estes o nome de Luís de Bessa Correia
“que ainda hoje me faz chorar o coração, como ele então chorava de riso; e
terminava perguntando-se se o livro, escrito em 1846, seria ou não “menos tolo
que outros escritos em 1858” .
Certo é que Camilo, pouco antes
de escrever este Prólogo da 2.ª edição, tinha a obra por medíocre, pois, em
1857 e dirigindo-se pela imprensa a um amigo que iniciava carreira nas letras
com um drama, afirmara que “isso é pecado que tem levado muito escritor ao
inferno... das vulgaridades, e eu creio que já lá estou vestido e calçado com
aqueles Agostinho de Ceuta e Marquês de Torres Novas, que não posso dizer de
horrível memória, porque ninguém se lembra deles”. O jovem autor era José Maria
Dias Guimarães, o Dias da Feira, que havia representado o primeiro papel do
Agostinho de Ceuta aquando da sua estreia portuense no Teatro de Camões, em
Dezembro de 1848, e Camilo, mais tarde, nos Serões de São Miguel de Seide, ao
evocar a amizade que os uniu, uma vez mais depreciaria os méritos da obra:
Fomos ambos sublimes! Eu
espatifava a gramática, a história e o bom senso. Ele espatifava os corações
das plateias remoendo nos dentes as minhas frases até as fazer espirrar grumes
de sangue às caras mais insensíveis da rua das Flores e travessas
circunjacentes.
Há que dizer, contudo, que o
drama publicado em 1858 seria talvez mais tolo que as suas produções literárias
desse ano, mas era-o por certo menos que aquele que fora impresso em 1847, pois
surgia já corrigido de alguns dos seus mais óbvios defeitos, apontados por
Camilo Aureliano da Silva e Sousa logo após
a sua estreia no Porto, em
benevolente apreciação crítica cuja pertinência o autor reconheceu e da qual
fez bom proveito.
Não muito depois da vinda a
público da segunda edição do Agostinho de Ceuta, quando, em 1861, Camilo e Ana
Plácido se encontravam na cadeia da Relação a aguardar julgamento por crime de
adultério, Vieira de Castro publicou a primeira biografia do Romancista, obra
destinada a atenuar a generalizada animadversão para com os amantes e a
influenciar o júri, a quem pertenceria a última palavra sobre a culpabilidade.
O parágrafo onde se refere ao
drama revelou, em primeira mão, matéria que não constava em qualquer dos dois
prólogos que Camilo havia escrito:
O teatro de Vila Real foi
construído adrede para ser lá representado o Agostinho de Ceuta. O livro foi
pois a estrela núncia de duas auroras formosíssimas; prometeu um nome ilustre
ao mundo das letras, e celebrou n’um monumento o primeiro passo da civilização
de um povo. Foi mandado fazer aquele teatro por um tio do autor, a quem este
dedicou o seu primeiro volume.
[...]
--
Fonte:
Manuel Tavares Teles:
"Camilo e o Teatro de Vila Real". In: Revista Tellus, nº 49.
Disponível em www.cm-vilareal.pt
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