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A escrita de Mário Beirão
Na escrita de Mário Beirão, mais
concretamente, a palavra ressoa uma religião, um evangelho interior, um sacramento do qual
se pode retirar uma outra ordem de vida.
Mário Beirão utiliza para tal o
anafórico apelo ao “Senhor”, vocábulos que são a imagem da paixão de Cristo
(“Morro na cruz por ti”) e de Nossa Senhora (“Ah, deixa-me rezar,/ungir teus
pés, imagem de oiro fino!/ A minha voz é a luz do teu altar;/ Rezar a ti, mulher, é ser divino”), a contemplação
da cruz (“Na cruz, ao alto, a Dor me deificou”), a sagração da passionalidade
que justifica o repetido emprego de “Ó Piedosa”, “Eleita do Senhor”, “Sê
clemente”, “sê como Cristo”, “por ti”. Por outro lado, a profusão de lírios
(“Irmã das queixas dúlcidas dum lírio,/Irmã dos ais nascidos do Martírio”), de
açucenas (“Exala a viola em surdina/Brandas queixas de açucenas...” ), de
círios (“Ó pálido círio,/Aos pés de uma cruz,...”) são vocábulos-imagens do martírio, da chaga viva do remorso e fado
miserando. A palavra neste autor assume um valor purgante e ascético. Ela é mediadora de
estados de consciência religiosos.
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Fonte:
Fonte:
Gilda Maria dos Reis Gomes Nunes
Barata: “A presença na ausência em Teixeira de Pascoaes e Mário Beirão”. Lisboa,
2004. Disponível em: repositorio.ul.pt
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