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Um poeta
“assassinado” por um jornalista?
“Guilherme
de Azevedo foi um poeta
assassinado
por um jornalista. O jornalista
com o
correr dos anos irá sensivelmente
diminuindo.
O poeta, esse há-de ressurgir
vitorioso,
destacando-se com originalidade
entre os
mais altos do seu tempo.”
GUERRA JUNQUEIRO
“Guilherme de Azevedo foi um poeta assassinado por um
jornalista” ― eis uma das frases que se constituiu quase como um rótulo sem o
qual o nome do poeta não pode ser mencionado. Contudo, é a partir dela que
podem inferir-se três ideias distintas.
A primeira provém de uma ausência: ao nome de Guilherme
de Azevedo estará sempre ligado o título de poeta e o de jornalista, mas nunca
o de autor teatral. Não foi esse o género literário que lhe deu glória, nem dele
dependeu a sua inserção na história da nossa literatura. Quando muito, esta
faceta de comediógrafo servirá apenas para acentuar, completar e/ou clarificar certos
aspectos presentes no restante da sua obra. Entre estes, saliente-se a crítica
social cuja agressividade, característica dos homens de 70, parece estar na
razão inversa do estado letárgico das gerações anteriores.
A segunda deriva da oposição entre as duas facetas, a de
poeta e a de jornalista, devidamente conotada pelo verbo “assassinar”. A maior
parte dos críticos tem tomado esta frase como exprimindo, em termos absolutos,
uma incompatibilidade real entre os dois termos. Consequentemente, têm negado
essa oposição, procurando, alguns deles, ver, não no jornalismo em si, mas
talvez na forma como ele foi encarado e realizado por Guilherme de Azevedo, a
marca desse antagonismo. A este propósito, lembremos as palavras elucidativas
de Ramalho Ortigão: “Todos aqueles que conhecem um pouco o ofício de escrever
sabem que enorme esforço, absorvente e fibrante, precisa de empregar um escritor
sobre todos os artifícios de linguagem, sobre todos os meios de estilo, sobre
todos os poderes da palavra para conseguir este efeito: ― fazer rir em cada dia
uma pouca de tinta posta sobre um pouco de papel”.
A nosso ver, toda a violência da frase de Guerra Junqueiro
se prende directamente a dois factores fundamentais. Em primeiro lugar ― lembremo-lo novamente ― as duas facetas
de Guilherme de Azevedo revelaram-se isolada e não simultaneamente: ao grande êxito
do poeta seguiu-se o do jornalista, sem que mais verso nenhum tenha saído da
sua pena. Além disso ― e este parece ser o ponto fulcral ― à data da sua morte,
Guilherme de Azevedo era mais conhecido como jornalista do que como poeta. Para
chegar a esta conclusão, bastará passar os olhos pelas principais críticas dos
contemporâneos a partir de 1882: explicitamente o afirmam e, mesmo quando pretendem dar
conta de toda a actividade literária do autor, é no valor do jornalista que
insistem.
Com efeito, foi enquanto jornalista que o seu nome se
tornou conhecido em Portugal e no Brasil e ficou gravado, entre o de outras
individualidades da época, no Álbum das Glórias. Foi
enquanto jornalista que O António Maria e quase
todos os jornais do tempo choraram a sua morte. Neste sentido, as palavras de Guerra
Junqueiro encerram a verdade: a glória do jornalista ultrapassou e quase
aniquilou a do poeta. E não é menos certa a previsão que se lhes segue: com o decorrer
dos anos, o jornalista daria, progressivamente, lugar à valorização do poeta.
Tal como Guerra Junqueiro, outros homens de letras não se
deixaram ludibriar pelo sucesso do prosador. Teófilo Braga, ao pedir exemplares
de poemas de Cesário Verde e do poeta santareno, afirmou ser este o único que
no futuro poderia representar a poesia moderna; Cândido de Figueiredo inseriu o
seu nome na obra Homens e Letras, publicada antes da morte de Guilherme de
Azevedo. Era enquanto poeta que Guilherme de Azevedo seria posteriormente
lembrado. E foi o que aconteceu.
Nos nossos dias, o seu nome surge quase sempre ligado à
poesia revolucionária que caracterizou a geração de 70. É como poeta que ele
aparece nos nossos manuais e nas histórias da nossa literatura. Quando muito,
numa pequena ficha bio-bibliográfica, lá consta, como simples apontamento, a
sua colaboração nos jornais e revistas da época. Este facto dá origem a que, daquela
pequena frase de Guerra Junqueiro, possamos inferir uma outra ideia: a
reversibilidade dos dois temas nela presentes imposta pela máquina do tempo. Um
século passado sobre as palavras de Guerra Junqueiro, poder-se-á perguntar se,
actualmente, não estará o poeta a “assassinar” o jornalista…
Num aspecto, porém, se enganaram aqueles críticos: se
hoje Guilherme de Azevedo é mais lembrado como poeta, nem o seu nome se destaca
com originalidade entre os mais altos do seu tempo, nem é o único a representar
a poesia moderna de então.
Autor menor da nossa história da literatura, o significado
da sua obra poética tem sido alvo de alguma controvérsia. Procuram alguns
enaltecê-la com uma grandiosidade que ela, porventura, não possui; pretendem
outros, talvez como reacção, negar-lhe o lugar ― maior ou menor ― que lhe assiste por direito.
[...]
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Fonte:
Maria das Graças Moreira de Sá: “Guilherme de Azevedo na Geração de70” . Biblioteca
Breve. Série Literatura. Ministério da Educação e Cultura. 1.ª edição ― 1986. Instituto de Cultura e Língua
Portuguesa - Divisão
de Publicações. Lisboa, 1986. Disponível em: cvc.instituto-camoes.pt
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Fonte:
Maria das Graças Moreira de Sá: “Guilherme de Azevedo na Geração de
Notas:
A
imagem inserida no texto não se inclui na referida obra. As notas e referências
bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na
citada obra. O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no
referido trabalho. Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a
leitura da obra em sua totalidade.
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