05/07/2014

A Alma Nova (Poesia), de Guilherme de Azevedo

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Um poeta “assassinado” por um jornalista?

“Guilherme de Azevedo foi um poeta
assassinado por um jornalista. O jornalista
com o correr dos anos irá sensivelmente
diminuindo. O poeta, esse há-de ressurgir
vitorioso, destacando-se com originalidade
entre os mais altos do seu tempo.”

GUERRA JUNQUEIRO


“Guilherme de Azevedo foi um poeta assassinado por um jornalista” ― eis uma das frases que se constituiu quase como um rótulo sem o qual o nome do poeta não pode ser mencionado. Contudo, é a partir dela que podem inferir-se três ideias distintas.

A primeira provém de uma ausência: ao nome de Guilherme de Azevedo estará sempre ligado o título de poeta e o de jornalista, mas nunca o de autor teatral. Não foi esse o género literário que lhe deu glória, nem dele dependeu a sua inserção na história da nossa literatura. Quando muito, esta faceta de comediógrafo servirá apenas para acentuar, completar e/ou clarificar certos aspectos presentes no restante da sua obra. Entre estes, saliente-se a crítica social cuja agressividade, característica dos homens de 70, parece estar na razão inversa do estado letárgico das gerações anteriores.

A segunda deriva da oposição entre as duas facetas, a de poeta e a de jornalista, devidamente conotada pelo verbo “assassinar”. A maior parte dos críticos tem tomado esta frase como exprimindo, em termos absolutos, uma incompatibilidade real entre os dois termos. Consequentemente, têm negado essa oposição, procurando, alguns deles, ver, não no jornalismo em si, mas talvez na forma como ele foi encarado e realizado por Guilherme de Azevedo, a marca desse antagonismo. A este propósito, lembremos as palavras elucidativas de Ramalho Ortigão: “Todos aqueles que conhecem um pouco o ofício de escrever sabem que enorme esforço, absorvente e fibrante, precisa de empregar um escritor sobre todos os artifícios de linguagem, sobre todos os meios de estilo, sobre todos os poderes da palavra para conseguir este efeito: ― fazer rir em cada dia uma pouca de tinta posta sobre um pouco de papel”.

A nosso ver, toda a violência da frase de Guerra Junqueiro se prende directamente a dois factores fundamentais. Em primeiro lugar     ― lembremo-lo novamente ― as duas facetas de Guilherme de Azevedo revelaram-se isolada e não simultaneamente: ao grande êxito do poeta seguiu-se o do jornalista, sem que mais verso nenhum tenha saído da sua pena. Além disso ― e este parece ser o ponto fulcral ― à data da sua morte, Guilherme de Azevedo era mais conhecido como jornalista do que como poeta. Para chegar a esta conclusão, bastará passar os olhos pelas principais críticas dos contemporâneos a partir de 1882: explicitamente o afirmam e, mesmo quando pretendem dar conta de toda a actividade literária do autor, é no valor do jornalista que insistem.

Com efeito, foi enquanto jornalista que o seu nome se tornou conhecido em Portugal e no Brasil e ficou gravado, entre o de outras individualidades da época, no Álbum das Glórias. Foi enquanto jornalista que   O António Maria  e quase todos os jornais do tempo choraram a sua morte. Neste sentido, as palavras de Guerra Junqueiro encerram a verdade: a glória do jornalista ultrapassou e quase aniquilou a do poeta. E não é menos certa a previsão que se lhes segue: com o decorrer dos anos, o jornalista daria, progressivamente, lugar à valorização do poeta.

Tal como Guerra Junqueiro, outros homens de letras não se deixaram ludibriar pelo sucesso do prosador. Teófilo Braga, ao pedir exemplares de poemas de Cesário Verde e do poeta santareno, afirmou ser este o único que no futuro poderia representar a poesia moderna; Cândido de Figueiredo inseriu o seu nome na obra  Homens e Letras, publicada antes da morte de Guilherme de Azevedo. Era enquanto poeta que Guilherme de Azevedo seria posteriormente lembrado. E foi o que aconteceu.

Nos nossos dias, o seu nome surge quase sempre ligado à poesia revolucionária que caracterizou a geração de 70. É como poeta que ele aparece nos nossos manuais e nas histórias da nossa literatura. Quando muito, numa pequena ficha bio-bibliográfica, lá consta, como simples apontamento, a sua colaboração nos jornais e revistas da época. Este facto dá origem a que, daquela pequena frase de Guerra Junqueiro, possamos inferir uma outra ideia: a reversibilidade dos dois temas nela presentes imposta pela máquina do tempo. Um século passado sobre as palavras de Guerra Junqueiro, poder-se-á perguntar se, actualmente, não estará o poeta a “assassinar” o jornalista…

Num aspecto, porém, se enganaram aqueles críticos: se hoje Guilherme de Azevedo é mais lembrado como poeta, nem o seu nome se destaca com originalidade entre os mais altos do seu tempo, nem é o único a representar a poesia moderna de então.

Autor menor da nossa história da literatura, o significado da sua obra poética tem sido alvo de alguma controvérsia. Procuram alguns enaltecê-la com uma grandiosidade que ela, porventura, não possui; pretendem outros, talvez como reacção, negar-lhe o lugar ― maior ou menor         ― que lhe assiste por direito.
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Fonte:
Maria das Graças Moreira de Sá: “Guilherme de Azevedo na  Geração de 70”. Biblioteca Breve. Série Literatura. Ministério da Educação e Cultura. 1.ª edição ― 1986. Instituto de Cultura e Língua Portuguesa - Divisão de Publicações. Lisboa, 1986. Disponível em: cvc.instituto-camoes.pt

Notas
A imagem inserida no texto não se inclui na referida obra. As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra. O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho. Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da obra em sua totalidade.

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