19/06/2014

O cerco de Corinto, de Lord Byron

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A Fortuna Crítica da obra de Lord Byron

No que tange à bibliografia crítica existente acerca de Lord Byron e de Don Juan à qual recorreremos, podemos dividi-la em três segmentos distintos: a) estudos dedicados à vida de Lord Byron; b) estudos dedicados à obra de Byron como um todo; c) estudos dedicados especificamente ao Byron de Don Juan.

Embora tal distinção soe, a princípio, algo arbitrária, visto que algumas biografias do poeta não se restringem a fatos de sua vida, discorrendo freqüentemente também sobre aspectos de sua obra, assim como alguns trabalhos acerca desta última abordem com insistência instantes de sua vida e, por fim, determinadas reflexões voltadas sobre a

derradeira obra byroniana não se atenham exclusivamente a ela e discutam-na à luz de suas outras realizações, para o intuito da elaboração de uma clara e pertinente exposição da fortuna crítica do autor de Don Juan, ela nos parece bastante útil.

Sendo assim, comecemos por listar algumas obras dedicadas à vida do poeta. Byron: a Biography, de Leslie Alexis Marchand (BYRON: A BYOGRAPHY, LESLIE ALEXIS MARCHAND, 1957), obra dividida em três volumes é um documento a um só tempo factual e reflexivo acerca do percurso byroniano. Também Byron Child of Passion Fool of Fame, recente estudo biográfico de Benita Eisler (BYRON CHILD OF PASSION, FOOL OF FAME, BENITA EISLER, 1999) traz dados bastante esclarecedores sobre a vida do poeta.

Particularmente cara à nossa investigação é Byron, Poetics and History, tese de doutoramento recentemente defendida por Jane Stabler (Byron, Poetics and History ; JANE STABLER, 2002), que trata da componente digressiva na obra do autor, notadamente em sua derradeira fase. Stabler atêm-se especialmente à veia crítico-satírica do Byron de Don Juan dirigida à cultura e à monarquia inglesas.

Childe Harold’s Pilgrimage and Don Juan (Childe Harold’s Pilgrimage and Don Juan, JOHN JUMP, 1973), coletânea de ensaios críticos acerca dos dois Byrons maiores – o de Childe Harold’s Pilgrimage, poema que lhe traria fama imediata, e o do Don Juan da maturidade – é a obra com a qual abrimos nossa fortuna crítica sobre o objeto da presente investigação.

O ensaio homônimo de C. M. Bowra sobre Don Juan (DON JUAN , C. M. BOWRA,1950) é uma visada bastante esclarecedora acerca da linguagem de Don Juan, não somente em relação à dicção romântica vigente como um todo, mas também em relação à poesia anterior do próprio Byron. E o interesse maior pelo estudo bowraniano cresce em muito na medida em que a discussão sobre o poema vem precedida por uma contextualização do Romantismo enquanto movimento dominado pela imaginação (ensaio-título da obra) e por análises de alguns dos grandes poemas compostos pelos autores do período, tais quais Wordsworth, Coleridge, Blake, etc.

Dentre a fortuna crítica sobre a vida e a obra de Lord Byron e especificamente sobre seu Don Juan, bem como sobre outros tópicos relacionados com a obra do autor, há determinadas abordagens para com as quais nosso débito é particularmente grande. São os textos teórico-metalingüísticos que adotamos como base para o desenvolvimento de nossa pesquisa.

No que diz respeito às biografias existentes sobre o poeta, procuramos não incorrer no risco de adotar aquelas voltadas total e exclusivamente, ou mesmo preponderantemente para os acontecimentos de sua vida, tocando apenas superficialmente, aqui e ali, em sua obra; preferimos, antes, optar por outras que, à luz dos acontecimentos biográficos, esclarecem e ajudam a compreender a sua poesia. Dentro deste critério, duas obras nos foram de particular relevância: Byron: a Biography, de Leslie Alexis Marchand (MARCHAND, 1957) e Byron, Child of Passion, Fool of Fame, de Benita Eisler (EISLER, 2000).

Dividido em três volumes, o primeiro dos dois estudos – pois é de estudos biográficos, antes do que mero relato de fatos da vida do autor, que se tratam – é normalmente considerado o mais completo apanhado da vida de Byron. Marchand, além de biógrafo, é também editor do epistolário do poeta (compendiado em doze volumes, abrangendo os anos de 1800 até 1824 (MARCHAND, 1994)) e crítico de sua obra, com importantes estudos publicados acerca dela, como aquele do qual nos utilizamos na apresentação de Childe Harold’s Pilgrimage.

Já Benita Eisler, embora não sendo uma scholar como Marchand, e sim exclusivamente uma biógrafa (com estudos de semelhante natureza publicados sobre a vida e a obra de artistas de outros códigos, tais quais o compositor Fredèric Chopin e a artista plástica Georgia O’Keeffe), tem o mérito de esclarecer aspectos do universo byroniano que a visada de Marchand, dada a época em que foi escrita (mais de quarenta anos separam as publicações de ambos os trabalhos) não havia logrado fazê-lo. Outro ponto de destaque de seu estudo é o seu epílogo; intitulado Postscript: Afterlife, é um apanhado das obras e impressões críticas de artistas posteriores dedicadas a Byron, aí incluídos nomes de relevância para a modernidade, tais quais o poeta W. H. Auden (autor de um poema-homenagem, em oitava-rima, ao autor de Don Juan, transcrito na biografia de Eisler) e a ficcionista Virginia Woolf.

A justaposição de ambas as abordagens crítico-biográficas foi de extrema valia para nosso estudo, e não cremos que nenhum trabalho que se pretenda argumentativo e consistente sobre a obra byroniana possa delas prescindir. Importante frisar, no entanto, embora o critério exposto para a seleção das duas biografias em questão já tenha, cremos, apontado para a questão, que nossa investigação apenas se servirá de fatos da vida de Lord Byron quando estes apresentarem algum nexo com o aspecto da obra que estivermos analisando.

No que tange à obra do poeta como um todo, nossa fonte central de referência foi o compêndio de ensaios Childe Harold’s Pilgrimage and Don Juan (JUMP, 1973). Aqui, estudos que abordam a complexidade dos dois principais poemas byronianos.

Sobre Childe Harold, há três estudos que nos foram de particular estima: Childe Harold, Cantos I-II , do biógrafo e crítico L. A. Marchand por nós acima citado (idem: 217-225); Childe Harold’s Pilgrimage, Canto III, de Andrew Rutherford (idem:181-198) e Childe Harold’ Pilgrimage, Canto IV, de M.K.Joseph (idem:199-216). Obra de natureza serial, escrita, pode-se dizer a 6 mãos – uma vez que lhes perpassa um viés comum, qual seja, a natureza sentimento-confessional dos quatro cantos da obra.

Spenserian Stanza and Ottava Rima, de Paul West (idem: 153-158), é a visada do compêndio que trata da transição Harold-Juan na obra de Byron. West desvenda as circunstâncias que levaram o poeta a adotar a rima spenseriana em Harold e a oitava rima em Juan e discorre sobre as implicâncias de ambas para a sua dicção. Conciso e abrangente a um só tempo, este ensaio a nós foi fundamental para compreender a utilização de ambas as estrofes na obra byroniana.

Especificamente sobre Don Juan encontramos Byron’s Don Juan: Poem or Hold-All?, de autoria do organizador da coletânea J. D. Jump (idem: 226-244). Seu interesse para nossa pesquisa reside no fato de que Jump aponta para a natureza digressiva (anti-linear do ponto de vista da narratividade) do Juan de Byron, chegando a questionar sua condição mesma de poema – o próprio título é por si só este questionamento –, para concluir que, em que pese a pletora de digressões, a narrativa, nele, ainda resiste, embora problematizada.

Fora da coletânea editada em 1973, outro estudo para com o qual nosso trabalho guarda débito é Don Juan, de C.W.Bowra (in BOWRA, 1950: 149-173). Se considerarmos que somente nas três últimas décadas a crítica de língua inglesa em geral voltou os olhos de Childe Harold’s Pilgrimage para o último poema de Byron como sua obra maior, rompedora da tradição romântica, o estudo de Bowra pode ser tomado como avant la lettre, uma vez que ele ali já toca neste ponto crucial da poética byroniana, afirmando inclusive, embora sem aprofundar a hipótese (o estudo é apenas um segmento de uma obra mais abrangente sobre a imaginação criadora do romantismo) que o Juan pode ser tomado como uma crítica à primeira poesia de Byron.

Migrando para as relações entre Lord Byron e o período romântico, podemos afirmar que nossa compreensão do romantismo, não somente enquanto movimento literário, mas enquanto corrente artística que, originada nas últimas décadas do século VIII, perdura, em certo sentido, até nossos dias, viu-se deveras enriquecida pela coletânea de ensaios O Romantismo (GUINSBURG, 2002). Aqui, nos interessou particularmente o estudo O Sentimento e a Razão nas Poéticas e na Poesia do Romantismo, de Paulo Vizzioli (idem, 137-156), no qual a dualidade razão – emoção / neoclassicismo – romantismo é tema dominante. A abordagem de Vizzioli muito nos auxiliou a determinar em que medida o Byron de Don Juan supera o credo romântico. Da mesma coletânea, o ensaio Fundamentos Históricos do Romantismo, de Nachman Falbel (idem, 23-50), que situa o romantismo em face das revoluções francesa e industrial, bem como da ascensão da burguesia, nos foi extremamente elucidativo para a compreensão do contexto sócio-cultural no qual emergiu e solidificou-se a poesia de Lord Byron.

Ainda na seara romântica, o influxo de The Mirror and the Lamp, de M. H. Abrams (ABRAMS, 1971) sobre nossa visada foi considerável. Não obstante o fato de que o autor nele pouco se detenha sob a poética de Byron e não faça, ao longo de todo o estudo, uma menção sequer a      Don Juan, valemo-nos muito das exposições e reflexões aqui desenvolvidas sobre as teorias artísticas dominantes, da cultura greco-romana até nossos dias, com ênfase na romântica, na qual, afirma o autor, as questões estéticas são pela primeira vez na história colocadas e respondidas em termos da relação da arte com o artista e não com o público, com o tema ou com o objeto artístico em si. Os paralelos entre a estética romântica e suas precedentes e sucessoras é vital para quem, como nós, reflete acerca da componente teórico-crítica em um dos principais poetas do romantismo europeu.

Já no que toca à relação entre a metalinguagem e a modernidade, as conferências ministradas pelo poeta e crítico mexicano Octavio Paz, na Universidade de Harvard em 1972, reunidas em livro sob o título de Los Hijos del Limo (Del Romanticismo a la Vanguardia) (PAZ : 1995, págs.321-485), trazem alentadas reflexões acerca do percurso romantismo – vanguarda. Para Paz, a modernidade tem início no período romântico e isto justamente em função de que é ali que a poesia começa a refletir sobre si mesma; é ali que ela começa, portanto, a ser uma poesia crítica. Como situar, dentro deste panorama, a obra de Byron, é tópico que o contacto com o ensaio de Paz muito nos esclareceu.

Para uma adequada compreensão da sátira menipéia, utilizamos o estudo basilar de Mikhail Bakhtin intitulado Epic and Novel (in BAKHTIN, 1981). Aqui, pela primeira vez, a sátira em questão foi apresentada e conceituada –  mormente, como o próprio título indica, à luz de suas manifestações no romance. Bakhtin, no entanto, menciona, embora sem aprofundamento, as narrativas em verso de Byron como tipicamente menipéicas.

Uma tese de doutoramento sobre as relações entre a sátira menipéia e a obra de Machado de Assis – O Calundu e a Panacéia (SÁ REGO, 1986) – foi de extrema valia, como extensão do estudo bakhtiniano, para aprofundar nossa compreensão desta forma de manifestação satírica na qual, segundo o pensador russo – e nós, aqui, compartilhamos de sua opinião – , está inserido o humor do Byron de Don Juan. O ensaio de Enylton de Sá Rego, em seu primeiro capítulo, apresenta e reflete sobre as nuances da sátira menipéia e, indo além da visada de Bakhtin, exemplifica-a por via de alguns dos romances menipéicos de língua inglesa, entre os quais The Life and Opinions of Tristram Shandy, de Laurence Sterne, obra com a qual nosso estudo aproxima o Don Juan de Byron. Fundamental, portanto, para a nossa visada da sátira menipéia, e, consqüentemente, do Lord Byron último (como já afirmamos o de Don Juan, mas também o de Beppo e o de The Vision of Judgement) as teorizações de Bakhtin aliadas às exemplificações de Sá Rego.

Embora outras obras que constem de nossas referencias bibliográficas nos tenham sido extremamente caras, estas que acabamos de apresentar argumentativamente, justificando suas imprescindibilidades, são o fio-condutor, a medula crítica de nossa argüição, sem as quais ela certamente não teria sido levada a cabo.

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Fonte:
Daniel Lacerda: “Lord Byron – Poeta Crítico: As Di(Trans)gressões Metalingüísticas em Don Juan”. (Tese apresentada à Banca Examinadora da Universidade Federal do Paraná, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Estudos Literários, sob orientação do Prof. Dr. Édison José da Costa). Curitiba, 2008.

Notas:A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese. As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra. O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho. Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade. Disponível em: dspace.c3sl.ufpr.br

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