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Autópsia psicológica da escrita de Mário de Sá Carneiro
Autópsia: do gr. Autopsía, «acto de ver com os próprios olhos».
Se o espírito da nossa análise é também o de ver / ler com
os próprios olhos, julgamos pertinente adotarmos a perspectiva do sentido
figurado de ‗autópsia‘. Diz Maiakóvski: «Nesta vida morrer não
é difícil. O difícil é a vida e o seu ofício». Lembrou-nos Albert Camus,
quando se remete ao mito de Sísifo, comparando o esforço
inócuo de se viver a vida sem um sentido, uma «enfadonha monotonia do
dia-a-dia». Essa desolação e, ao mesmo tempo, a ideia que se sabe que cada hora
que passa nos deixa mais próximos do desfecho dessa jornada, aliada à vivência
de sofrimento, podem levar o indivíduo a um problema existencial e a uma desestruturação
psíquica momentânea, quando ele não é psicótico.
Haim Grunspun faz uma exposição de fatores suicidógenos e elabora
uma avaliação sobre os riscos de suicídios. Aproveitamos os
dados apresentados na leitura do discurso epistolar de Sá-Carneiro ao fazermos uma
autópsia psicológica do mesmo, ainda que saibamos, ou justamente
porque sabemos, não ser fidedigna para a Psicanálise, por se tratar de relatos e
afirmações somente presentes na escrita, e, portanto, impossíveis de serem
arguidos. Logo, o nosso imaginário poderia contaminar o material, impedindo a assepsia
necessária para a intervenção psicanalítica, salvo se apenas fizéssemos uma
avaliação dos riscos, obviamente sem a intervenção in loco, mas mediante o que desvelamos de sua escrita. Todavia, a partir de uma
nova leitura mais apurada das cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando
Pessoa, sob a égide do Modernismo encetado por ambos os escritores, alertamos
para a possibilidade de um jogo de representação, na medida em
que os textos, ainda que aparentemente confessionais, se apresentam mais como
construções literárias.
A finalidade da autópsia enquanto «ato
de ver com os próprios olhos», tal como no sentido etimológico, foi a de
conhecer melhor nosso escritor em sua obra, e, quem sabe, fazer confluir a nossa interpretação ao que se propôs com
essa investigação em suas hipóteses. O fator de risco «é um elo numa cadeia de
associações que conduzem a um evento mórbido ou indicador desse evento», sendo importante o fato de serem observáveis e identificáveis
aquelas associações, antes da potencialização do evento predito.
Assim, tentamos, através de um inquérito retrospectivo à mais
famosa correspondência de Sá-Carneiro, verificar se o escritor
chegou a manifestar um desejo declarado de causar a sua própria morte e a partir
de que momento, em sua escrita epistolar (de potencial conexão com a sua escrita
outra de ficcionalidade narrativa e lírica), pudemos perceber tal evento. Nesta
óptica, revisitamos todo o livro Cartas
de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa fazendo o percurso,
depurando eventos circunstanciais que evidenciassem a ideia de morte que
poderia, através de defesas do Eu, tais como projeções e possíveis sublimações,
adiar o sentimento de morte, este um condutor certo para o ato suicida.
Para realizarmos essa autópsia na forma
que foi por nós proposta, utilizamos os fatores considerados por Grunspum: (a)
«eventos circunstanciais»; (b) «ideia de morte»; (c) «sentimento de morte»; (d)
«distúrbios afetivos»; e «imperiosidade dos atos». Porém, não desprezamos os
comentários dos biográfos de Mário de Sá-Carneiro e parte de sua
obra, expondo os tais fatores que apontaram para o risco do suicídio.
---
Fonte:
Vera Lúcia Viana de Macedo: “Loucura,
de Mário de Sá-Carneiro: Metáforas psicanalíticas na obra de Mário de
Sá-Carneiro - Uma hermenêutica da morte em vida”. (Dissertação de Doutoramento
em Literatura Portuguesa (Investigação e Ensino) Orientador: Professor Doutor
José Carlos Seabra Pereira. Universidade de Coimbra - Faculdade de Letras).
Coimbra, 2011.
Notas:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese. As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra. O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho. Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade. Disponível em: estudogeral.sib.uc.pt
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese. As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra. O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho. Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade. Disponível em: estudogeral.sib.uc.pt
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