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Missa do Galo: impressão e equívoco x veleidade de desejos
“Missa do Galo”, outro conto machadiano recortado na nossa
pesquisa, focaliza oinsólito de uma situação, misto de
conversa e insinuações. Narra o fato que marcou a lembrança do
moço Nogueira. Trata-se do memorável encontro de uma senhora e um jovem e
dezessete anos numa véspera de Natal, pouco tempo antes da missa do galo. A
narrativa da conversação se faz sob o ponto de vista de Nogueira, que conta a
história com certo distanciamento temporal que, no
primeiro momento demonstra seu olhar de seduzido, comprometendo a narrativa:
“Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, h muitos anos
[...]” (2008, p. 199). Nogueira narra um fato ocorrido quando era jovem, ainda
na fase de descoberta da vida amorosa, narrado em primeira pessoa, muitos anos
depois. A personagem que narra, implica-se por envolver-se no contexto sensual
sob a convicção de sua imaginação interpretativa. Assim, a crítica de modo
geral concorda que em se tratando de um narrador machadiano, o leitor deve
precaver-se, pois este narrador pode não ser confiável. “Missa do Galo” um conto retrospectivo, de uma força erótica
extrema que confere ao texto a tradução digna da imaginação de um
personagem-narrador embebido de sensualidade. O narrador personagem conduz a
narrativa de modo que direciona o leitor a tirar suas próprias conclusões.
Nogueira, já adulto com mais experiência de vida, rememora umfato ocorrido na
sua mocidade, por isso, um narrador que oscila entre o tempo passado, o
ocorrido e o presente no qual narra. Daí as vozes de narradores diversos
contribuindo para os paradoxos do texto. Mesmo assim, o
conto em estudo tem como perspectiva estruturadora da narrativa um
núcleo centralizador, isto é, os elementos informativos são transmitidos pelo eu
narrante (narrador), que ao mesmo tempo, representa o eu narrado, um dos protagonistas. Disto decorre
que entre o sujeito e os eventos narrados se instalem, por um lado a distância produzida pela passagem do tempo e, por outro lado, a proximidade
das emoções, neste caso, um misto de insinuações e desejos, os quais uma vez
experimentados foram retomados pela memória.
Os registros narrados, com indícios de
egocentrismo, demonstram que a experiência deflagrada pelos fatos revividos na
subjetividade de quem conta, se sobrepõem, conforme o narrador, aos
próprios acontecimentos, centrando-se no sujeito (Nogueira) como seduzido e, em seu objeto de desejo (D. Conceição) a sedutora. Porém, há um
falseamento na constância do índice de verdade pré-estabelecida, constituindo
uma relação quer de ruptura, quer de continuidade entre o narrador e o
protagonista. A apreensão subjetiva dos fatos reproduz essa divisão ambígua de
possíveis verdades ou apenas impressões. Paralelamente, variam a qualidade e a
quantidade da informação narrada, desde o momento em que o eu enuncia
suas experiências pessoais, transpondo as alheias enquanto adulto
expectador-reflexivo e o jovem enredado pela paixão sob a sua ótica
constituída em um testemunho, no mínimo, falacioso.
O fato se deu quando aos dezessete
anos, estava o jovem Nogueira agregado na casa do escrivão Meneses, com o
objetivo de fazer os estudos preparatórios (seria hoje, uma espécie de preparação para o vestibular). Meneses vivia com
Conceição, uma meiga senhora que o narrador considera “uma santa”, esposa,
traída pelo marido. Vale observar que Conceição tinha conhecimento da
infidelidade do seu cônjuge. A linguagem figurada inaugura o texto; basta
lembrar que na casa todos sabiam, tanto que ao dizer que ia ao teatro, Nogueira por sua ingenuidade propõe ao dono da casa que gostaria
também de ir. A sogra e as escravas riram com desdém da inocência do rapaz. Era
noite de Natal do ano de 1861 ou 1862 e Nogueira combinou com um amigo que
iria assistir a missa do galo na Corte. Sendo assim,comprovamos a inexperiência do jovem Nogueira aos códigos sociais
masculinos do século XIX, que individualiza ao sexo masculino a malícia, o status
de apreço e prestígio social caso sustentasse uma relação extraconjugal.
A linguagem figurada, no conto em
questão, está estruturada como referencial denotativo subjetivo. Assim, quando
organizada de forma explícita pelo narrador-personagem relata o ocorrido com
vocábulos de sentidos, às vezes, vagos. Em cumplicidade com sua jovial
inocência, Nogueira apossa-se dos elementos figurados para, na condição de
adulto, requerer e aproximar a fantasia ficcional de uma realidade, no mínimo,
perversa. Então, progressivamente desnuda o fingimento mascarado da família
patriarcal oitocentista. Um exemplo legítimo dessa linguagem denotativa é a
palavra “teatro” (2008, p. 199). Esta denota o simulacro
das sutis mazelas do poder, cujo desvendamento requer a assimilação fidedigna
do conjunto da narrativa. Disto podemos entrever que, para instituir no texto
uma analogia dupla:
a auto-referencialidade implícita, o narrador
coloca em jogo o dualismo da linguagem, fazendo do segmento
referencial ou reflexivo o depositário de um sentido primeiro, literal e óbvio
que, por sua vez, tem um sentido segundo e figurado (SARAIVA, 2007, p. 123,
grifos da autora).
Ronaldes de Melo e Sousa assinala sobre a linguagem figurada
como forma representativa de Machado que, através da interação
dialética do narrador, exibe a perspectiva dual de encenação e concepção do
narrado:
Como ator, irrompe no palco da representação dramática.
Singularizado como mediador que se põe ironicamente
em ação como dramaturgo que não se mantém nos bastidores e como ator
que submete a atuação dos personagens a uma crítica corrosiva, o mediador ou
narrador machadiano assume o estatuto metateatral de quem se representa em tudo
que se apresenta. O aparecimento ostensivo do mediador crítico à cena dramática
transforma o narrador machadiano no personagem principal do romance concebido como drama de caracteres (2006, p. 76).
Ademais, este segmento, para o narrador
machadiano, não permite expressar diretamente no espaço contextual em que se
encontra, o conhecimento da narrativa como um todo. Então, precisa ser encenada e lapidada pelo viés literário. Sobre este
aspecto, devemos considerar a habilidade do autor do texto, que formula uma
representação dramática ao possibilitar o leitor intervir ideologicamente como
indicador de uma metassignificação, permitindo assim, recontextualizá-lo
e ressignificar sua função ou atribuir-lhe outra. Todos foram dormir cedo e o rapaz permaneceu na sala aguardando a
proximidade da meia-noite quando, de repente, Conceição entra no ambiente
vestindo um roupão branco. Essa foi uma imagem nova.
Para Bachelard em A poética do espaço “Ao recebermos uma imagem poética
nova, sentimos seu valor de intersubjetividade. Sabemos que a repetiremos para
comunicar nosso entusiasmo” (1993, p. 08). Assim, naquele momento os olhos de
Nogueira, ao deparar-se com aquela figura fantasmagórica, vinda do corredor,
prenunciam indícios de transformação ao olhar comum conforme a via até então.
Conceição tinha um ar de visa romântica comparando-a ao livro de aventuras que
lia. Nogueira lia Os Três Mosqueteiros, mas abdica da leitura diante da
presença daquela senhora. Ambos conversam sobre leituras, missa do galo na roça
e durante os diálogos ocorre um jogo de sedução. O leitor é levado a pensar que o adultério declarado do marido Meneses, propicia
condições para que ela própria deseje também prevaricar.
Nesse contexto propício à sedução, se
dá o encontro premeditado por Conceição, ao que tudo sugere o narrador adulto
em consonância com a memória do ocorrido ao Nogueira jovem. Aqui o
“olhar” come a a ganhar a dimensão que a presen a dela implicava. Bachelard
assinala que “A poesia nos d não tanto a nostalgia da juventude, que seria
vulgar, mas a nostalgia das expressões da juventude.
Oferece-nos imagens como deveríamos associá-las no impulso
inicial da juventude” (1993, p. 50, grifo nosso). Com base no que infere
Bachelard, podemos entender que o jovem Nogueira por simplicidade e
inexperiência, ou quem sabe, malícia, tenta captar e entender exatamente as
intenções da pacífica, mas traída Conceição. Ela, com sua roupa, gestos,
atitudes, andar e frases ambíguas parece disposta a seduzir o estudante
pueril.
Então, fascinado pelo momento oportuno,
Conceição cresce aos olhos de Nogueira: “Não estando abotoadas, as mangas,
caíram naturalmente, e eu vi-lhe metade dos braços, muito claros, e menos magros
do que se poderiam supor” (2008, p. 203). Observemos que os braços novamente
entram em cena. Esse fetiche por tal parte do corpo da mulher se faz presente
em vários textos machadianos, sem no momento considerarmos os seus romances.
Basta retrocedermos ao conto “Uns Bra os” e relembrarmos o fascínio do jovem
Inácio seduzido pelos braços de D. Severina. A proximidade entre Nogueira e
Conceição faz o moço lembrar que já havia passado por situações mais ou menos
semelhantes, mas não era comum uma senhora ficar de bate papo com alguém do
sexo oposto, sozinha, àquelas horas da noite, que não fosse seu marido:
“naquele momento, por m, a impressão que tive foi grande. As veias eram tão azuis, que apesar da pouca claridade, podia
contá-las do meu lugar” (2008, p. 203). O clima de envolvimento era tão forte
que ambos as personagens confundem um lugar social de conversas amenas e
cotidianas para se transportarem metaforicamente ao quarto, uma vez que a
proximidade e a sedução que as envolviam não se adequava àquele lugar. Bachelard
alude:
A consciência de estar em paz no seu canto propaga, por
assim dizer, uma imobilidade. A imobilidade irradia-se. Um quarto imaginário se
constrói ao redor do nosso corpo que acreditamos estar bem escondido quando nos
refugiamos num canto (1993, p. 146).
Ambos se deixaram levar pela eventual sedução e assim, não
distinguiam, ou melhor, não atinaram que esse evento era apropriado para outro
canto e idealizaram o quarto na sala. Como acrescenta Bachelard: “A intimidade
do quarto torna-se a nossa intimidade” (1993, p. 228).
Conforme Dirce Cortes Riedel no livro O tempo e metáfora
em Machado de Assis (2008), quando trata do conto “Missa do
Galo”, o conjunto de ideias que abrange a palavra e a significação propriamente
ligada à celebração da missa do galo é, no mínimo, intrigante e contraditória.
Pois, apesar de nomear o conto em discussão, a ideia da missa configura-se em
uma presença inexistente, quando relacionamos ao seu efetivo significado. Neste
conto, o que é proposto no início da narrativa, não é necessariamente o que o
encerra. O narrador e personagem Nogueira propõe a um vizinho acordá-lo à meia
noite para irem à missa do galo. Conforme o texto: “Havendo ajustado com um
vizinho irmos missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria
acordá-lo à meia-noite” (2008, p. 199, grifo nosso). Aqui, as antíteses ganham espaços em meio às forças contrárias, mudando o
curso do conto. É só observarmos que o inverso ocorre. Quem o acorda é o
vizinho e não de um sono real, já que pelo relato ele mesmo diz estar
embebido pela pessoa de Conceição “Subitamente, ouvi uma pancada na janela, do
lado de fora, e uma voz que bradava: “Missa do galo”! missa do galo!”(2008, p. 207). Se o vizinho não executasse determinada
tarefa, a missa teria sido descartada naquele momento de sedução. Nogueira, no
estado em que se encontrava, teria perdido a noção do tempo e,
provavelmente, ao dar-se conta da missa já teria há muito tempo perdido o horário. Assim, nessa expectativa, a missa do galo é uma
ideia metaforizada que não corresponde integralmente ao contexto tradicional, pois
surge esvaziada de sentido:
O conto, como metáfora, dá a chave para se apreenderem
possíveis significados em tensão, no jogo de relações entre o confessado “não
entender” do narrador e a construção da narrativa, que tem a sua leitura
interrompida pela senhora com quem ele conversa até que o chamem para a missa –
é um enredo que, como ação, poderia ser de uma simplicidade sem complexidade (RIEDEL, 2008, p. 73).
A analogia do título do conto e a missa propriamente dita
não é legítima. Entre a missa do galo que Nogueira ansiava
assistir e a expectativa de uma missa diferente da Corte, há um distanciamento
de descrição, do ambiente em que se encontravam, no que se refere à data. Mesmo
incluída na conversa de ambos, dura o tempo de um final de conversa na
concretização de um parágrafo. Pois, a missa é descartada pelo prévio
envolvimento de sedução em que os dois se encontram. Deste modo, “H uma
situação de humor construída pela relação (que é uma não-relação) entre o
título do conto – “Missa do galo” – e a inexistência das tradicionais imagens
natalinas, que são recusadas como base de emoções nobres”
(RIEDEL, 2008, p. 73).
Portanto, a missa do galo, no contexto
do conto, só é evidenciada pelo oportuno pretexto de um momento de espera, que
ocasionalmente, desencadeia a cena de conversação com um misto
de intenções lascivas que é o oposto do contexto religioso. A missa do galo,
simbolicamente, inaugura a transição do tempo, da não inocência e igenuidade.
Por isso, quando Nogueira assiste à missa não é envolvido pela homilia
discursiva da celebração, considerando que ele mesmo revela uma confusão de
sentidos ao substituir parte do sermão pela fantasmagórica imagem de
Conceição: “Durante a missa, a figura de Conceição interpôs-se mais de uma vez, entre mim e o padre; fique isto à conta dos
meus dezessete anos” (2008, p. 207).
É notória a ausência das alegorias
natalinas que perdem em evidências em toda ambientação espacial do conto,
tanto quanto na sensibilidade das pessoas. O clima natalino não é motivo de preocupação do narrador em momento algum do conto.
Tal desinteresse é justificável avaliando o tipo de emoções que o rapaz
experimentava. É fato, o que realmente lhe marcou a memória
nada tinha a ver com o momento de festa proporcionado pela comemoração do
nascimento de Jesus. O aspecto relevante é o elemento atenuante em que o narrador encontra-se em outro plano do tempo quando narra a
história, ou seja, na idade adulta e, por conseguinte, pode ter anulado essa
relação entre a missa e as emoções nobres de que trata Riedel. A emoção elevada
pode ser interpretada, neste conto, como o nascimento de algo que combate entre
um nascimento diferenciado de teor religioso de culto sagrado ou lascivo ao
corpo dependendo da visão social ou religiosa. A ênfase é dada a um novo nascimento, o
da maturidade advinda do aflorar da sexualidade.
É presumível esperar que o leitor
aferisse a Dona Conceição à condição mínima de sensibilidade atribuída a uma
senhora dona de casa, como em qualquer outra família. Essa probabilidade
intensifica-se cada vez mais diante do que é narrado. Não há nada nas palavras
da Senhora Meneses que promova o evento natalino. Entretanto, pressupõe que em
momentos festivos dessa ascendência as pessoas tornam-se, por via de regra,
saudosas. Portanto, é plausível ao leitor a expectativa com relação à Conceição,
que esta tivesse, no mínimo, assoberbada de trabalho já que
deveria, como dona de casa, organizar a ceia de natal, enfeitar a árvore e
promover a troca de presentes. Costumes já do período oitocentista. Contudo,
ignorando os apelos sociais que a data requer, há um silêncio aterrador na
casa. Observemos a citação: “Sentei-me à mesa que havia no centro da sala, e à
luz de um candeeiro de querosene, enquanto a casa dormia, trepei ainda
uma vez ao cavalo magro de D‟Artagnan e fui-me às aventuras” (grifo nosso,
2008, p. 200). O que podemos aferir diante do enfoque narrativo, há um velado
descuido pela conotação da data natalina. Talvez pelo fato de haver certa
desilusão na família Meneses relegada aos agravantes do casal não ter filhos e,
ainda, do marido ter um caso de amor extraconjugal.
A construção da narrativa se estabelece
como metáfora que interroga com um caráter figurativo o seu próprio discurso. O
narrador munido do recurso de rememorar as lembranças voluntárias, despista
mascarando-as. Essa eventual figura de linguagem é, por antítese, algo
intencional do autor Machado de Assis que tem por base desmascarar a
insegurança e a incerteza do ser humano. Composto pela tinta machadiana, o
narrador relembra e retoma o que necessariamente não sabe com veemência. Logo,
se contradiz diante daquilo que afirma e, ao mesmo tempo desmente, pois se
encontra incriminado na cena e só consegue reconstituir as supostas impressões
daquela noite remota. Avaliando que “Há impressões dessa noite, que me parecem
truncadas ou confusas” (2008, p. 206):
A busca do tempo perdido, como busca da verdade, deixa o
narrador perplexo: são impressões “truncadas ou confusas”. O que faz Nogueira
“contradizer-se” e “atrapalhar-se” a memória das sensações, aquela que intervém
somente em função dos signos que a solicitam (RIEDEL, 2008, p.74).
Riedel ainda refere-se à busca de
Nogueira por algo perdido no tempo que é de alguma forma, um tanto quanto,
excepcional e efêmero. A contradição que envolve o eu que narra torna
legítima a composição ilógica de tudo aquilo que se conta. A metáfora de que
trata a autora nos leva a pensar que o narrador pode estar realmente a insinuar
algo concreto principalmente quando ele diz que
Conceição era “a santa” (2008, p. 200). Ao considerar este aspecto metafórico,
o leitor encontra-se em dois dramas: se concorda ou não com o que o personagem-narrador
sugere; e, se tal suposição tem algum fundo de verdade. A mesma santa adjetivada por quem narra é apregoada durante toda a narrativa
pela possível intenção de seduzi-lo. A contradição é ainda maior quando
deparamos com essa outra comparação figurada: “Em verdade, era um temperamento
moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No capítulo de
que trato, dava para maometana; aceitaria um harém com as palavras salvas” (op.
cit.). Essa afirmativa do narrador configura mais uma de suas contradições,
considerando a comparação a uma mulher maometana; uma seguidora da doutrina
pregada pelo profeta Maomé, o islamismo, na qual as mulheres têm direitos
limitados e os homens podem ser poligâmicos.
Por conseguinte, se considerada sua
sujeição diante da insubordinação do marido Meneses, a afirmativa pode ser
aceitável, mas não satisfaz toda a ambiguidade do texto, principalmente porque na narração há uma série de outras
afirmações, que sobrepõe no texto, antíteses por antíteses. Vejamos nessa
suposta afirmação: “Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse
amar” (2008, p. 200) e “Duas outras vezes parecia que a via dormir; mas os
olhos, cerrados por um instante, abriam-se logo sem sono nem fadiga, como se
ela os houvesse fechados para me ver melhor” (2008, p. 205). Nesse
ínterim, a ideia de fechar os olhos para ver melhor, parece jocosa e cômica,
pois fica a cargo de Nogueira que elege Conceição, através dessa insinuação,
como um ser desprovido de qualquer sentimento. Sendo assim, o que
torna o texto conflitante é o que se narra depois. Nogueira, primeiramente, apresenta Conceição com adjetivos de uma mulher virtuosa, porém,
ao mesmo tempo, torna tais adjetivos contraditórios, considerando que infere,
nesse contexto, um confronto de ideias quando a promove como sedutora e de
intenções maliciosas, principalmente pelos atenuantes de, no outro
dia, dissimular o que pretendia.
Os personagens são construídos como metáforas – impressões,
metáforas sensações de seres “reais” na matéria narrada. O discurso do narrador
os faz imagens. Os bastidores a descoberto não permitiram ao leitor do texto
machadiano, preterir os personagens pelas pessoas na vida (RIEDEL, 2008, p.
75).
---
Fonte:
Fonte:
Edinaldo Flauzino de Matos: “A multiplicidade narrativa e o jogo da sedução nos contos “Uns braços” e
“Missa do Galo” de Machado de Assis”. (Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários –
PPGEL, da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT – como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em Estudos Literários, na área de
Letras sob a orientação Profª Drª Madalena Aparecida Machado). Tangará da Serra,
2011. Disponível em: ppgel.com.br
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