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A Autoria de Cristal
A tradição reconheceu Cristóvão
Falcão como discípulo de Bernardim e autor da Cristal. A reivindicação da autoria a Bernardim se deve a Delfim
Guimarães (Bernardim Ribeiro, o Poeta Cristal, Lisboa, 1908). Cristóvão Falcão
não a poderia ter escrito por ser autor de duas cartas cheias de erros
dirigidas da Itália a D. João III e o título não passaria de crisma falso. Em 1909, a tese de Delfim
Guimarães foi rebatida pelo brasileiro Raul Soares, com «diligência notável e
habilidade», no dizer de Rodrigues Lapa. Em 1923 D. Carolina Michaelis (Obras
de Bernardim Ribeiro e Cristóvão Falcão. Vol. I, Coimbra), também contradisse
Delfim Guimarães. Em 1941, Antônio José Saraiva mostrou contra os argumentos de
Raul Soares, (O Poeta Crisfal,
Campinas, 1908), a possibilidade literária da autoria de Bernardim. Rodrigues
Lapa, em 1962, após avaliar a intricada situação, conclui: «Fica, pois,
demonstrado, sem sombra de dúvida, a nosso ver, que foi Cristóvão Falcão de
Sousa, fidalgo de Portalegre, o autor da écloga Crisfal e da carta em verso. As outras hipóteses apresentadas, em
torno da questão, não têm fundamento. Uma, de Patrocínio Ribeiro, formulada em
1917, pretendeu ver no poema uma composição de Luís de Camões, no entrecho a
narração dos amores de Jorge da Silva pela infanta D. Maria. E um produto
daquela imaginação delirante, que estraga muitas vezes o crítico em Portugal. A
outra, apresentada em 1940 pelo prof. Antônio José Saraiva, supõe o Cristal
composto por Bernadim Ribeiro, em torno dos amores de Cristóvão Falcão. Além de
tudo quanto se tem dito sobre as circuns-tâncias da vida e particularismos do
estilo, não é razoável figurarmos um homem como Bernardim, já velho, torturado
pelo seu drama pessoal, de que só saiba
falar, metido a celebrante dos amores escandalosos dum rapaz. Isto, admitindo
mesmo que B.R. estivesse em estado mental de o fazer, o que é duvidoso».
(Cristal, seleção, prefácio e notas de Rodrigues Lapa, 2a. ed., Lisboa, 1962,
XVI). A questão permanece, ainda, insolúvel. Outro editor da Cristal, F. Costa
Marques, inclina-se para a posição de António José Saraiva que pretende ver a
Cristal como «uma composição objetiva de Bernardim, com base nos temas
esboçados na carta de Cristóvão Falcão, e não uma obra de caráter puramente
subjetivo». (Cristal, F. Costa Marques, Coimbra, 1964).
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Fonte:
Edgard Pereira: A poesia bucólica
do renascimento: Bernardim Ribeiro. Disponível em: periodicos.letras.ufmg.br
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