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Alcântara Machado e a
linguagem ítalo-paulista
O escritor e jornalista Antônio Castilho de Alcântara
Machado d’Oliveira (1901-1935) não se enquadrou dentro da filosofia do período
modernista por acaso. Podemos observar em seus contos o mais puro retrato de
uma época. Testemunhos são dados por vários escritores, como Alceu Amoroso Lima11, por
exemplo: “(...) O sr. Alcântara Machado nunca se perde. O que tem a dizer diz
logo. E vai direto ao que conta. (...) Os contos do sr.
Alcântara Machado são imagens do São Paulo de hoje, da italianização da
raça sobretudo.”
Alcântara,
em um de seus artigos no Diário da Noite, qualificou de “famigerado” o artigo
26 da Constituição de 1934, que revogou o acordo ortográfico oficializado pelo governo
da época.12 Essa atitude corrobora o seu caráter decidido.
Com esse perfil, só podia mesmo seguir a filosofia do Modernismo, ou seja “destruir
o convencionalismo literário, desmoralizar a inteligência empalhada e acabar
com os medalhões da cultura”.
Aliás, uma de suas viagens à Europa possibilitou-lhe um
contato direto com os modernistas europeus.
Desde criança, Alcântara já tinha o gosto pela leitura,
despertada pelas histórias em quadrinhos do Tico-Tico, uma das criações do
desenhista, caricaturista e escritor ítalo-brasileiro Angelo Agostini. Ao longo
de sua carreira como escritor e jornalista, manteve uma estreita ligação
estilística com os quadrinhos e com a linguagem visual, dialogando com artistas
como Angelo Agostini, Voltolino e, principalmente, Paim, co-autor de Pathé-Baby (obra que se caracteriza pela
reunião de impressões de viagem e de crônicas), com prefácio de Oswald de
Andrade e ilustrações de Antonio Paim, publicada em 1926 pela Editorial Hélios
Limitada, de São Paulo. De duas maneiras, Voltolino influenciou Alcântara:
pela maneira como desenhava e através de sua criação, o personagem JuóBananére,
que parodiava a colônia italiana de São Paulo.
As origens aristocráticas desse escritor cujo centenário
de nascimento foi em 2001 contribuíram para o que produziu, ou seja, o retrato
da vida do imigrante eternizado nos contos de Brás, Bexiga e Barra Funda.
As comemorações dos seus 100 anos de nascimento foram
marcadas pela reedição de seus livros. A editora Studio Nobel, em co-edição com
o IEB (Instituto de Estudos Brasileiros) da USP, e a Imesp lançaram os três
primeiros volumes, de um total de sete, das obras completas de Alcântara
Machado, com organização de Cecília de Lara e Djalma Cavalcante.
A posição de espectador de Alcântara foi fundamental
para o registro de um momento histórico e único, um universo que não mais
existe. O Brás do barbeiro Tranquillo Zampinetti, do conto “Nacionalidade”, já
não é mais um bairro maciçamente italiano. A inevitável mobilidade social de
São Paulo fez desaparecer traços de uma pequena Itália retratada de forma tão
original. O barbeiro e tantos outros que não foram personagens de Alcântara
mudaram-se para bairros de classe média. Restou-nos, além da obra-prima de Alcântara, o
livro de memórias de Zélia Gattai, Anarquistas Graças a Deus, e os depoimentos de Memórias e sociedade, dedicados a Ecléa Bosi.
Alcântara não participou da famosa Semana de 22,
surgindo apenas em 1925. Era já um escritor completo, cuja filosofia
misturava-se com a do Modernismo, um movimento que desenvolvia o espírito
revolucionário. Esse caráter inovador em Alcântara Machado, com seu
ítalo-paulistanismo, é o mesmo ideal inovador do chamado movimento Decadentista, que
surgiu com a consolidação de novas estratégias narrativas. Alcântara defendia,
tal como os “rapazes” paulistanos que participaram da Semana de 22, a liberdade de criação
artística, o direito de crítica, a livre expressão do pensamento, a literatura
militante. E era integrado com a alma popular. O fato de ser um escritor
paulista e paulistano o ajudou a descrever de forma clara, simples e objetiva a
vida do imigrado italiano que foi para São Paulo.
No que se refere à língua, as questões que mais chamam a
nossa atenção estão relacionadas com o uso dos vários códigos, ou seja, a
língua de origem, o dialeto de origem, a criação de um linguajar que se
adequasse à língua local, e a língua portuguesa propriamente dita. É
interessante como Alcântara soube colocar isso em seu livro, retratando a
chamada linguagem ítalo-paulista de forma a valorizar o imigrante. Ele soube combinar
raça e língua sem fazer ironias ou desvalorizá-lo.
Alcântara, em seu livro de contos intitulado Brás, Bexiga e Barra Funda: notícias de São Paulo,
traça histórias da vida cotidiana de pessoas comuns, moradoras de bairros humildes.
No livro, o imigrante italiano constitui a própria trama, o núcleo central da
obra literária, não é apenas um personagem episódico, como em Mário de Andrade,
ou um pretexto de sátira, como em Juó Bananére. A imagem do italiano é, em
geral, positiva em Alcântara.
Existia, como já se viu
anteriormente, uma idéia reinante entre os imigrantes e seus descendentes
(filhos, netos e bisnetos): a conquista da terra, a integração e absorção do imigrante
pobre, que estava contagiado com o ritmo acelerado do progresso. O sentimento
reinante era de progresso, novidade, velocidade e muito trabalho para todos. A
metrópole crescia e transformava-se em morada de vários povos, especialmente de
italianos. Era um sonho que se renovava através de exemplos dos barões da
indústria,
como os Matarazzo, Martinelli e
Crespi. Imigrantes que deram certo em suas conquistas e aventuras em uma terra distante da de origem e que eram
atentamente observados pelos olhos daquele que é considerado por muitos críticos
o precursor do modernismo brasileiro: Juó Bananére.

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Fonte:
Fonte:
Adriana Zanela Nunes (UFR): Alcântara
Machado: um escritor apaixonado pelos ítalo-brasileiros. Revista Eletrônica do
Instituto De Humanidades. Volume V - Número XIX - Out - Dez 2006. Disponível
em: publicacoes.unigranrio.com.br
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