26/04/2014

História da Literatura Brasileira, de José Veríssimo

 História da Literatura Brasileira, de José Veríssimo
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O Progresso e a Educação Nacional

O desenvolvimento material esboçado na segunda metade do século XIX foi decisivo para aguçar o desequilíbrio entre o econômico e o poder político instituído, minando as bases sobre as quais se assentava a Monarquia. Nesse contexto, as elites urbanas e os representantes das oligarquias cafeeiras, apesar de gerarem grande parte da riqueza do país, sentiam-se prejudicados pela estrutura política vigente, que cerceava o avanço de seus empreendimentos econômicos. Pela primeira vez, republicanos e abolicionistas adotaram um novo estilo de fazer política, deixando os estreitos limites do “aconchego familiar’’ para enveredar por espaços mais amplos, que congregassem maior contingente populacional, como era o caso das praças públicas. Apesar das tentativas de mobilização popular, a República fora resultante de um golpe militar, instituída sem a participação das massas. Aos olhos das elites instruídas, o exército brasileiro se apresentava como o instrumento ideal para derrubar a Monarquia e conduzi-las ao poder. Convém lembrar que, desde a Guerra do Paraguai, setores ligados ao exército haviam se contraposto à Monarquia. Os militares, convictos de que os políticos civis eram corruptos, apresentavam-se à sociedade como os redentores nacionais.63. As alianças momentâneas, firmadas entre uma parcela do exército, fazendeiros do oeste paulista e representantes das camadas médias, pôs fim ao regime monárquico que, por questões de ordem estrutural, já estava bastante debilitado e enfraquecido.

As mudanças econômicas e sociais presentes na sociedade brasileira, nas últimas décadas do Império, foram decisivas para minar as bases sobre as quais se assentava a Monarquia. Muitos fatores contribuíram para a derrocada desse regime político que, por questões de ordem diversas, passava a ser visto como um empecilho ao avanço das relações capitalistas de produção no país.

Nesse contexto, assistimos ao surgimento de novos grupos sociais com interesses divergentes, que lutavam por maior participação política e econômica. Tais grupos, representados principalmente pelos fazendeiros do oeste paulista, por elementos ligados à incipiente indústria brasileira, profissionais liberais e militares, desejosos de fazer valer seus empreendimentos, sobretudo econômicos, aliaram-se para pôr fim a esse regime político.

A Proclamação da República (1889) nada mais foi do que uma rearticulação de poder por meio da qual se buscou adequar a ordem política a uma situação econômica já esboçada desde o segundo reinado, com o desenvolvimento da lavoura cafeeira, recuperadora das finanças do país. Os cafeicultores, que durante décadas haviam dividido o poder com as oligarquias açucareiras em franca decadência, conquistaram a direção absoluta do aparelho de Estado.
As expectativas iniciais, geradas pelo novo sistema de governo, que prometia renovação política e maior participação no poder de segmentos sociais antes excluídos do jogo político, foram sendo ao longo dos anos sistematicamente negadas. Desapontavam-se os intelectuais com as perseguições empreendidas pelo Governo Floriano Peixoto, assim como os operários, principalmente as lideranças socialistas, diante das dificuldades de se organizarem em partidos políticos, e a população, relegada à miséria e à opressão. Diante desse estado de coisas, os intelectuais abandonaram a política militante para se dedicarem à literatura, passando muitos deles a engrossar as fileiras dos serviços burocráticos. Os operários se dividiram em duas correntes; a dos anarquistas, que se contrapunham radicalmente à ordem instituída, que os renegava, e a dos que foram cooptados pelo estado. Os jacobinos foram eliminados da cena política e a grande massa da população ficou entregue a sua própria sorte.

Os grandes temas nacionais, que marcaram os debates entre os intelectuais brasileiros das mais variadas filiações teóricas nos anos finais do Império e que se mantiveram ainda presentes logo após a Proclamação da República, foram deixados de lado. O que interessava às oligarquias cafeeiras consolidadas no poder era a produção e a comercialização do café. As discussões sobre questões educacionais ficaram travadas nesse período. Somente a partir dos anos 10, do século XX, é que voltaram a ser inseridas no âmbito das grandes preocupações nacionais.

De uma maneira geral, pode-se dizer que as “deposições”, “exílios”, “deportações” e “perseguições” de toda a ordem atingiram não só as elites tradicionais do Império, que buscavam restaurar seus privilégios, mas todos aqueles que defendiam reformas sociais mais amplas. Os elementos considerados nefastos ao regime republicano foram afastados para que ele se realizasse dentro da ordem.

Havia no país, nessa época, três correntes políticas e ideológicas que disputavam a constituição do novo regime: o jacobinismo à francesa, o liberalismo à americana e o positivismo. José Murilo de Carvalho, analisando os modelos de República e organização da sociedade propostas por essas forças políticas e ideológicas, diz que:

Embora fundamentalmente de natureza discursiva, as justificativas ideológicas possuíam também elementos que extravasavam o meramente discursivo, o cientificamente demonstrável. No caso do jacobinismo, por exemplo, havia a idealização da democracia clássica, a utopia da democracia direta, do governo por intermédio da participação direta de todos os cidadãos.

No caso do liberalismo, a utopia era outra, era a de uma sociedade composta por indivíduos autônomos, cujos interesses eram compatibilizados pela mão invisível na vida do cidadão. Nessa versão cabia ao governo interferir o menos possível na vida dos cidadãos. O positivismo possuía ingredientes utópicos ainda mais salientes. A república era aí vista dentro de uma perspectiva mais ampla que postulava uma futura idade de ouro em que os seres humanos se realizariam plenamente no seio de uma humanidade mitificada.

Como discurso, as ideologias republicanas permaneciam enclausuradas no fechado circulo das elites educadas. Mas seja pelo próprio conteúdo do discurso, seja pelos elementos utópicos, elas acabavam por postular a saída do fechado e restrito mundo das elites, acabavam por defender cada uma a sua maneira, o envolvimento popular na vida política.

Os modelos de organização social propostos por essas correntes ideológicas, apesar de divergirem quanto à maior ou menor participação popular e do Estado na construção do novo regime político, tinham algo em comum, que era a afirmação e justificação da ordem capitalista.

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Fonte:

Maria do Perpetuo Socorro Gomes de Souza Avelino de França: “José Veríssimo (1857-1916) e a educação brasileira republicana: raízes da renovação escolar conservadora”. (Tese de Doutorado. Orientadora: Profa. Dra. Maria Elizabete Sampaio Prado Xavier. Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Educação). Campinas, 2004. Disponível em: www.bibliotecadigital.unicamp.br

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