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O Progresso e a Educação Nacional
O desenvolvimento material
esboçado na segunda metade do século XIX foi decisivo para aguçar o
desequilíbrio entre o econômico e o poder político instituído, minando as bases
sobre as quais se assentava a Monarquia. Nesse contexto, as elites urbanas e os
representantes das oligarquias cafeeiras, apesar de gerarem grande parte da
riqueza do país, sentiam-se prejudicados pela estrutura política vigente, que
cerceava o avanço de seus empreendimentos econômicos. Pela primeira vez,
republicanos e abolicionistas adotaram um novo estilo de fazer política,
deixando os estreitos limites do “aconchego familiar’’ para enveredar por
espaços mais amplos, que congregassem maior contingente populacional, como era
o caso das praças públicas. Apesar das tentativas de mobilização popular, a
República fora resultante de um golpe militar, instituída sem a participação
das massas. Aos olhos das elites instruídas, o exército brasileiro se
apresentava como o instrumento ideal para derrubar a Monarquia e conduzi-las ao
poder. Convém lembrar que, desde a Guerra do Paraguai, setores ligados ao exército
haviam se contraposto à Monarquia. Os militares, convictos de que os políticos
civis eram corruptos, apresentavam-se à sociedade como os redentores
nacionais.63. As alianças momentâneas, firmadas entre uma parcela do exército,
fazendeiros do oeste paulista e representantes das camadas médias, pôs fim ao
regime monárquico que, por questões de ordem estrutural, já estava bastante
debilitado e enfraquecido.
As mudanças econômicas e sociais
presentes na sociedade brasileira, nas últimas décadas do Império, foram
decisivas para minar as bases sobre as quais se assentava a Monarquia. Muitos
fatores contribuíram para a derrocada desse regime político que, por questões
de ordem diversas, passava a ser visto como um empecilho ao avanço das relações
capitalistas de produção no país.
Nesse contexto, assistimos ao
surgimento de novos grupos sociais com interesses divergentes, que lutavam por
maior participação política e econômica. Tais grupos, representados
principalmente pelos fazendeiros do oeste paulista, por elementos ligados à incipiente
indústria brasileira, profissionais liberais e militares, desejosos de fazer
valer seus empreendimentos, sobretudo econômicos, aliaram-se para pôr fim a
esse regime político.
A Proclamação da República (1889)
nada mais foi do que uma rearticulação de poder por meio da qual se buscou
adequar a ordem política a uma situação econômica já esboçada desde o segundo
reinado, com o desenvolvimento da lavoura cafeeira, recuperadora das finanças
do país. Os cafeicultores, que durante décadas haviam dividido o poder com as oligarquias
açucareiras em franca decadência, conquistaram a direção absoluta do aparelho
de Estado.
As expectativas iniciais, geradas
pelo novo sistema de governo, que prometia renovação política e maior
participação no poder de segmentos sociais antes excluídos do jogo político,
foram sendo ao longo dos anos sistematicamente negadas. Desapontavam-se os intelectuais
com as perseguições empreendidas pelo Governo Floriano Peixoto, assim como os operários,
principalmente as lideranças socialistas, diante das dificuldades de se
organizarem em partidos políticos, e a população, relegada à miséria e à
opressão. Diante desse estado de coisas, os intelectuais abandonaram a política
militante para se dedicarem à literatura, passando muitos deles a engrossar as
fileiras dos serviços burocráticos. Os operários se dividiram em duas
correntes; a dos anarquistas, que se contrapunham radicalmente à ordem instituída,
que os renegava, e a dos que foram cooptados pelo estado. Os jacobinos foram eliminados
da cena política e a grande massa da população ficou entregue a sua própria sorte.
Os grandes temas nacionais, que
marcaram os debates entre os intelectuais brasileiros das mais variadas
filiações teóricas nos anos finais do Império e que se mantiveram ainda presentes
logo após a Proclamação da República, foram deixados de lado. O que interessava
às oligarquias cafeeiras consolidadas no poder era a produção e a
comercialização do café. As discussões sobre questões educacionais ficaram
travadas nesse período. Somente a partir dos anos 10, do século XX, é que
voltaram a ser inseridas no âmbito das grandes preocupações nacionais.
De uma maneira geral, pode-se
dizer que as “deposições”, “exílios”, “deportações” e “perseguições” de toda a
ordem atingiram não só as elites tradicionais do Império, que buscavam
restaurar seus privilégios, mas todos aqueles que defendiam reformas sociais
mais amplas. Os elementos considerados nefastos ao regime republicano foram
afastados para que ele se realizasse dentro da ordem.
Havia no país, nessa época, três
correntes políticas e ideológicas que disputavam a constituição do novo regime:
o jacobinismo à francesa, o liberalismo à americana e o positivismo. José
Murilo de Carvalho, analisando os modelos de República e organização da sociedade
propostas por essas forças políticas e ideológicas, diz que:
Embora fundamentalmente de
natureza discursiva, as justificativas ideológicas possuíam também elementos
que extravasavam o meramente discursivo, o cientificamente demonstrável. No
caso do jacobinismo, por exemplo, havia a idealização da democracia clássica, a
utopia da democracia direta, do governo por intermédio da participação direta
de todos os cidadãos.
No caso do liberalismo, a utopia
era outra, era a de uma sociedade composta por indivíduos autônomos, cujos
interesses eram compatibilizados pela mão invisível na vida do cidadão. Nessa
versão cabia ao governo interferir o menos possível na vida dos cidadãos. O
positivismo possuía ingredientes utópicos ainda mais salientes. A república era
aí vista dentro de uma perspectiva mais ampla que postulava uma futura idade de
ouro em que os seres humanos se realizariam plenamente no seio de uma
humanidade mitificada.
Como discurso, as ideologias
republicanas permaneciam enclausuradas no fechado circulo das elites educadas.
Mas seja pelo próprio conteúdo do discurso, seja pelos elementos utópicos, elas
acabavam por postular a saída do fechado e restrito mundo das elites, acabavam
por defender cada uma a sua maneira, o envolvimento popular na vida política.
Os modelos de organização social
propostos por essas correntes ideológicas, apesar de divergirem quanto à maior
ou menor participação popular e do Estado na construção do novo regime
político, tinham algo em comum, que era a afirmação e justificação da ordem capitalista.
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Fonte:
Fonte:
Maria do Perpetuo Socorro Gomes
de Souza Avelino de França: “José Veríssimo (1857-1916) e a educação brasileira
republicana: raízes da renovação escolar conservadora”. (Tese de Doutorado. Orientadora:
Profa. Dra. Maria Elizabete Sampaio Prado Xavier. Universidade Estadual de
Campinas Faculdade de Educação). Campinas, 2004. Disponível em: www.bibliotecadigital.unicamp.br
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