18/04/2014

Laranja da China, de Alcântara Machado

 Laranja da China, de Alcântara Machado
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Livro eixo: Laranja da China

Publicado em junho de 1928, Laranja da China, seu terceiro livro e o segundo de ficção, é composto por doze histórias, sendo que nove já haviam sido editadas em revistas e jornais, algumas com títulos deferentes, e outras três eram inéditas. Os contos já publicados são:  O Revoltado Robespierre (Senhor Natanael Robespierre dos Anjos) na revista modernista Terra Roxa... e outras terras, nº 6, de 6 de julho de 1926 e na revista Feira Literária, em “Trio Brasileiro” (p. 81-86), de junho de 1927; O Patriota Washington (Doutor Washington Coelho Penteado) na revista Feira Literária, em “Trio Brasileiro” (p. 87-99), de junho de 1927; O Filósofo Platão (Senhor Platão Soares) na revista Verde de Cataguases, nº 4 (p. 16), de dezembro de 1927; O Inteligente Cícero (Menino Cícero José Melo de Sá Ramos) no Jornal do Comércio, na seção “Cavaquinho”, com o título Conto de Natal, na edição de 25 de dezembro de 1926; O Mártir Jesus (Senhor Crispiniano B. de Jesus) no Jornal do Comércio, na seção “Cavaquinho”, com o título Conto de Carnaval, na edição de 26 de fevereiro de 1927; O Lírico Lamartine (Desembargador Lamartine de Campos) na revista Feira Literária, em “Trio Brasileiro” (p. 99-103), de junho de 1927; O Ingênuo Dagoberto (Seu Dagoberto Piedade)   no Jornal do    Comércio, na seção “Cavaquinho”, com o título Mystério de Fim de Ano, na edição de 8 de janeiro de 1927; O Aventureiro Ulisses (Ulisses Serapião Rodrigues) na revista Verde de Cataguases, nº 2 (p. 8-9), de outubro de 1927; A Piedosa Teresa (Dona Teresa Ferreira) em Terra Roxa... e outras terras, nº 1, de 20 de janeiro de 1926, com o título A Dança de São Gonçalo. Os contos A Apaixonada Elena (Senhorinha Elena Benedita de Faria),    A Insígne Cornélia (Dona Cornélia Castro Freitas) e O Tímido José (José Borba) são os inéditos, no sentido de não se conhecer até hoje versão anterior ao livro. A Piedosa Teresa (Dona Teresa Ferreira) foi incluso, após a sua morte, na primeira edição de Mana Maria/Contos de 1936, como fazendo parte de um conjunto de narrativas ficcionais até então inéditas em livro, histórias esparsas que foram recolhidas para completar o livro composto inicialmente do romance inacabado Mana Maria. O erro foi cometido devido uma confusão em relação aos títulos dos contos. Os organizadores da obra não perceberam que o conto intitulado a A dança de São Gonçalo, publicado primeiramente com esse título no nº 1 da revista Terra Roxa... e outras terras, era na verdade o conto A Piedosa Teresa (Dona Teresa Ferreira) já publicado em     Laranja da China de 1928. Para outras informações sobre a feitura e a estrutura do livro verificar o criterioso estudo da professora Cecília de Lara: Comentários e notas à edição fac-similar de 1982 de Laranja da China de António de Alcântara Machado. São Paulo: IMESP - Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e DAESP - Divisão de Arquivo do Estado de São Paulo, 1982.

Os títulos do livro e dos contos nos fornecem importantes pistas para o entendimento das suas intenções com a publicação da obra. Laranja da China é uma alusão à uma paródia, em voga na época, dos acordes iniciais do hino nacional. Mário de Andrade registrou esse efeito onomatopéico nos primeiros versos da última estrofe do seu poema O domador, publicado em Paulicea desvairada. A transcrição do trecho é literal e obedece a grafia da época:

“Laranja da China, laranja da China, laranja da China! / Abacate, cambucá e tangerina! / Guardate ! Aos aplausos do esfusiante clown, / heroico sucessor da raça heril dos bandeirantes, / passa galhardo um filho de imigrante, / loiramente domando um automóvel!” (Andrade, 1922, p. 79).

No título da obra, revelam-se através da paródia as idéias de pátria-patriotismo e de nação-nacionalismo, que nas histórias adquiriram um tom de crítica bem-humorada ao xenofobismo. Já os títulos dos contos são compostos de nomes extravagantes e estranhos, dessa maneira elaborados: um prenome, antecedido de um adjetivo que resume o traço principal da personalidade do ou da protagonista, a característica central que é explicitada nas situações e episódios da narrativa. Há ainda, entre parênteses, um pronome de tratamento que informa sobre a condição social ou a idade do personagem e, por fim, o seu nome completo, uma colagem de nomes próprios e sobrenomes de famílias mais ou menos comuns, alguns insinuando que certos heróis ou heroínas pertencem a uma linhagem familiar mais nobre, outros, não. Além disso, fica evidente a referência a alguns personagens históricos, míticos e literários. O efeito da graça se dá nesse amálgama de nomes históricos, tradicionais e comuns carregados de sentidos.

Tristão de Athayde, pseudônimo de Alceu Amoroso Lima, escreveu uma crítica sobre Laranja da China destacando a sua maestria na criação de personagens pitorescos, comparando-o a Arthur Azevedo. Reproduzida por Cecília de Lara em Comentários e notas à edição fac-similar de 1982 de Laranja da China de António de Alcântara Machado:

“Como todos sabem, o sr. Alcântara Machado, que é um dos mais moços e mais originais dos nossos contistas modernos, tem um sabor todo próprio no que escreve. E um senso da realidade extremamente vivo.

Pois bem, lendo este último livro seu, onde há mais pitoresco e mais sátira ligeira do que no ‘Brás, Bexiga e Barra Funda’, onde a ‘Morte do Caetaninho (sic)’ era pungente a ponto de nos fazer mal, - lendo o ‘O Revoltado Robespierre’, por exemplo, que é umapágina magistral de espírito, de verdade flagrante, de caráter nosso, a gente se lembra sem querer de Arthur Azevedo. Nunca, evidentemente, a sua prosa teve a graça lépida e sugestiva, o pitoresco espontâneo e nunca aguado da prosa do sr. Alcântara Machado. Mas ambos plantam diante da gente, em meia dúzia de traços, um tipo da vida quotidiana, como poucos são capazes de o fazer. Há neste, aliás, muito mais ‘intenções’ do que havia, na prosa ‘amena’, como ele gostava de dizer, do autor dos ‘contos fora da moda’. No livro do sr. Alcântara Machado não há apenas aquele realismo fácil do outro, embora perca um pouco por ficar também pela superfície. Mas tem muitas páginas, extremamente curiosas, como as do ‘aventureiro           Ulisses’, por exemplo. Pois sendo um criador de pitoresco, de tipos fora do comum, um pouco estranhos, um pouco aluados, é sempre de uma naturalidade flagrante e extremamente viva.” (Lara, 1982, p. 69-70).

Em Laranja da China, o seu olhar se desloca da colônia italiana, retratada em Brás, Bexiga e Barra Funda, dos arrabaldes pobres, para os bairros da pequena burguesia e da elite paulistana. O centro da cidade é o cenário e o personagem principal de alguns dos contos desse livro que satiriza o nacionalismo ufanista de parte da população paulistana. A sua obra é produto e produtora desse tempo e espaço.


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Fonte:
Eduardo Benzatti do Carmo: “A obra ficcional e jornalística do escritor António de Alcântara Machado: letras e imagens”. (Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Ciências Sociais (Antropologia), sob a orientação do Prof., Doutor Edgard de Assis Carvalho). São Paulo – 2004. Disponível em: http://www.sapientia.pucsp.br/

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