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Os livros estão em ordem alfabética: AUTOR/TÍTULO (coluna à
esquerda) e TÍTULO/AUTOR (coluna à direita).
Livro eixo: Laranja da China
Publicado em junho de 1928,
Laranja da China, seu terceiro livro e o segundo de ficção, é composto
por doze histórias, sendo que nove já haviam sido editadas em revistas e jornais,
algumas com títulos deferentes, e outras três eram inéditas. Os contos já
publicados são: O Revoltado Robespierre
(Senhor Natanael Robespierre dos Anjos) na revista modernista Terra
Roxa... e outras terras, nº 6, de 6 de julho de 1926 e na revista Feira Literária,
em “Trio Brasileiro” (p. 81-86), de junho de 1927; O Patriota Washington (Doutor
Washington Coelho Penteado) na revista Feira Literária, em “Trio
Brasileiro” (p. 87-99), de junho de 1927; O Filósofo Platão (Senhor Platão
Soares) na revista Verde de Cataguases, nº 4 (p. 16), de dezembro de 1927; O Inteligente
Cícero (Menino Cícero José Melo de Sá Ramos) no Jornal do Comércio, na
seção “Cavaquinho”, com o título Conto de Natal, na edição de 25
de dezembro de 1926; O Mártir Jesus (Senhor Crispiniano B. de Jesus) no Jornal do Comércio, na seção “Cavaquinho”, com o título Conto
de Carnaval, na edição de 26 de fevereiro
de 1927; O Lírico Lamartine (Desembargador Lamartine de Campos) na
revista Feira Literária, em “Trio Brasileiro” (p. 99-103), de junho de
1927; O Ingênuo Dagoberto (Seu Dagoberto Piedade) no Jornal do Comércio, na
seção “Cavaquinho”, com o título Mystério de Fim de Ano, na edição de 8
de janeiro de 1927; O Aventureiro Ulisses (Ulisses Serapião
Rodrigues) na revista Verde de Cataguases, nº 2 (p. 8-9), de outubro
de 1927; A Piedosa Teresa (Dona Teresa Ferreira) em Terra Roxa... e outras
terras, nº 1, de 20 de janeiro de 1926, com o título A Dança de São
Gonçalo. Os contos A Apaixonada Elena (Senhorinha Elena Benedita de
Faria), A Insígne Cornélia (Dona
Cornélia Castro Freitas) e O Tímido José (José Borba) são os
inéditos, no sentido de não se conhecer até hoje versão anterior ao livro. A
Piedosa Teresa (Dona Teresa Ferreira) foi incluso, após a sua morte, na
primeira edição de Mana Maria/Contos de 1936, como fazendo parte de um
conjunto de narrativas ficcionais até então inéditas em livro, histórias
esparsas que foram recolhidas para completar o livro composto inicialmente do romance
inacabado Mana Maria. O erro foi cometido devido uma confusão em relação
aos títulos dos contos. Os organizadores da obra não perceberam que o conto
intitulado a A dança
de São Gonçalo, publicado
primeiramente com esse título no nº 1 da revista Terra Roxa... e outras
terras, era na verdade o conto A Piedosa Teresa (Dona Teresa Ferreira)
já publicado em Laranja da China de 1928. Para outras informações sobre a
feitura e a estrutura do livro verificar o criterioso estudo da professora
Cecília de Lara: Comentários e notas à edição fac-similar de 1982 de Laranja
da China de António de Alcântara Machado. São Paulo: IMESP - Imprensa
Oficial do Estado de São Paulo e DAESP - Divisão de Arquivo do Estado de São
Paulo, 1982.
Os títulos do livro e dos
contos nos fornecem importantes pistas para o entendimento das suas intenções
com a publicação da obra. Laranja da China é uma alusão à uma paródia,
em voga na época, dos acordes iniciais do hino nacional. Mário de Andrade registrou
esse efeito onomatopéico nos primeiros versos da última estrofe do seu poema O
domador, publicado em Paulicea desvairada. A transcrição do trecho é
literal e obedece a grafia da época:
“Laranja da China, laranja
da China, laranja da China! / Abacate, cambucá e tangerina! / Guardate ! Aos
aplausos do esfusiante clown, / heroico sucessor da raça heril dos
bandeirantes, / passa galhardo um filho de imigrante, / loiramente domando um automóvel!”
(Andrade, 1922, p. 79).
No título da obra,
revelam-se através da paródia as idéias de pátria-patriotismo e de nação-nacionalismo,
que nas histórias adquiriram um tom de crítica bem-humorada ao xenofobismo. Já
os títulos dos contos são compostos de nomes extravagantes e estranhos, dessa
maneira elaborados: um prenome, antecedido de um adjetivo que resume o traço principal
da personalidade do ou da protagonista, a característica central que é
explicitada nas situações e episódios da narrativa. Há ainda, entre parênteses,
um pronome de tratamento que informa sobre a condição social ou a idade do
personagem e, por fim, o seu nome completo, uma colagem de nomes próprios e
sobrenomes de famílias mais ou menos comuns, alguns insinuando que certos heróis
ou heroínas pertencem a uma linhagem familiar mais nobre, outros, não. Além
disso, fica evidente a referência a alguns personagens históricos, míticos e
literários. O efeito da graça se dá nesse amálgama de nomes históricos,
tradicionais e comuns carregados de sentidos.
Tristão de Athayde,
pseudônimo de Alceu Amoroso Lima, escreveu uma crítica sobre Laranja da
China destacando a sua maestria na criação de personagens pitorescos, comparando-o
a Arthur Azevedo. Reproduzida por Cecília de Lara em Comentários e notas à
edição fac-similar de 1982 de Laranja da China de António de Alcântara Machado:
“Como todos sabem, o sr.
Alcântara Machado, que é um dos mais moços e mais originais dos nossos
contistas modernos, tem um sabor todo próprio no que escreve. E um senso da
realidade extremamente vivo.
Pois bem, lendo este último
livro seu, onde há mais pitoresco e mais sátira ligeira do que no ‘Brás, Bexiga
e Barra Funda’, onde a ‘Morte do Caetaninho (sic)’ era pungente a ponto de nos
fazer mal, - lendo o ‘O Revoltado Robespierre’, por exemplo, que é umapágina
magistral de espírito, de verdade flagrante, de caráter nosso, a gente se
lembra sem querer de Arthur Azevedo. Nunca, evidentemente, a sua prosa teve a
graça lépida e sugestiva, o pitoresco espontâneo e nunca aguado da prosa do sr.
Alcântara Machado. Mas ambos plantam diante da gente, em meia dúzia de traços,
um tipo da vida quotidiana, como poucos são capazes de o fazer. Há neste,
aliás, muito mais ‘intenções’ do que havia, na prosa ‘amena’, como ele gostava
de dizer, do autor dos ‘contos fora da moda’. No livro do sr. Alcântara Machado
não há apenas aquele realismo fácil do outro, embora perca um pouco por ficar
também pela superfície. Mas tem muitas páginas, extremamente curiosas, como as
do ‘aventureiro Ulisses’, por
exemplo. Pois sendo um criador de pitoresco, de tipos fora do comum, um pouco
estranhos, um pouco aluados, é sempre de uma naturalidade flagrante e
extremamente viva.” (Lara, 1982, p. 69-70).
Em Laranja da China,
o seu olhar se desloca da colônia italiana, retratada em Brás, Bexiga e
Barra Funda, dos arrabaldes pobres, para os bairros da pequena burguesia e
da elite paulistana. O centro da cidade é o cenário e o personagem principal de
alguns dos contos desse livro que satiriza o nacionalismo ufanista de parte da
população paulistana. A sua obra é produto e produtora desse tempo e espaço.
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Fonte:
Eduardo Benzatti do Carmo: “A obra ficcional e jornalística do escritor António de Alcântara Machado: letras e imagens”. (Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Ciências Sociais (Antropologia), sob a orientação do Prof., Doutor Edgard de Assis Carvalho). São Paulo – 2004. Disponível em: http://www.sapientia.pucsp.br/
Fonte:
Eduardo Benzatti do Carmo: “A obra ficcional e jornalística do escritor António de Alcântara Machado: letras e imagens”. (Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Ciências Sociais (Antropologia), sob a orientação do Prof., Doutor Edgard de Assis Carvalho). São Paulo – 2004. Disponível em: http://www.sapientia.pucsp.br/
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