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As cantigas líricas de amor e de amigo e o rei D.Dinis
As cantigas de amor têm origem no
requinte aristocrático das cortes francesas e, portanto, estão bem vinculadas
às convenções de linguagem e sentimentos. Neste caso, o amor cortês parte do
pressuposto que o amante ideal é aquele que vive em permanente sofrimento
amoroso (a “coita”), porque não é correspondido; entretanto, precisa demonstrar
paciência, submissão e fidelidade à mulher amada, como se fosse um vassalo, e
ela, o seu suserano. Trata-se, pois, de um jogo amoroso, próprio do refinamento
cultural da cavalaria francesa, que reflete, na literatura, as relações da
sociedade feudal. (Fernandes, 2004)
Já as cantigas de amigo, um
gênero um pouco mais complexo, “apresentam normalmente ambientação bucólica,
linguagem e estrutura simples; seu tema mais freqüente é o lamento amoroso da
moça, cujo namorado partiu para o confronto com os mouros.” O trovador assume o
eu-lírico feminino nesses cantares e há uma pequena variedade de situações que
caracterizam subgêneros desses cantares. Cleonice Berardinelli (1953: 6-7)
esclarece sobre essa variedade:
“Mais antigas, mais populares,
mais variadas, as cantigas de amigo constituem a parte mais original do lirismo
trovadoresco galego-português. Embora feitas por homens, é a mulher que fala
nelas, dirigindo-se ao seu amigo, ou falando dele, confessando o seu amor,
chorando de saudade, quando ele parte, zangando-se, quando ele não cumpre o
prometido, queixando-se da mãe que lhe não permite vê-lo, ou agradecendo-lhe a
compreensão e o auxílio, numa série de atitudes e situações que nos fazem, à
distância de seis séculos, privar da intimidade da vida medieval.”
Sobre essa variedade nas cantigas
de amigo, Paulo Roberto Sodré (2005: 97-128) identifica quatro vozes distintas
que revelam quatro emissores com razon (argumentação) diferenciada. Segundo o
autor, a namorada, a mãe, a confidente e o narrador, cada um deles apresenta
uma mudança ou variação de discurso, ainda que estejam interligados pelo
principal tema: a relação amorosa. O gênero cantiga de amigo, então, seria
formado pelo complexo de gêneros formado pelos diferentes emissores. Sodré
identifica quatro (4) variáveis:
1) A “cantiga de namorada” expõe
o discurso da moça solteira preocupada com as idas e vindas do amado e as
conseqüências disso;
2) A “cantiga de madre”, o discurso
da mãe preocupada com a situação da filha, sobretudo sua castidade;
3) A “cantiga de confidente”, o
discurso da moça solteira preocupada com o namoro da amiga;
4) A “cantiga de narrador”, o
discurso de alguém que observa, sem interferência, a moça solteira às voltas
com sua paixão.
Podem-se sintetizar esses
discursos nas seguintes perguntas: namorada: o que fazer com meu amigo?; madre:
como orientar minha filha?; confidente: como ajudar minha amiga?; narrador: o
que se passa com essa moça? Cada resposta desencadeia uma razon específica;
cada razon propicia gêneros literários distintos. Neste trabalho vamos abordar
o macro-gênero cantiga de amigo, porém, considerando essas subdivisões
implicitamente.
Sobre a escolha de D.Dinis como o
autor das cantigas do nosso corpus, os critérios utilizados foram basicamente
dois: a vasta produção lírica do rei-trovador e o brilhantismo de suas
cantigas. Aliás, são muitos os medievalistas que atestam a unicidade e talento
do rei-lavrador, dentre os quais, citamos a grande filóloga Dona Carolina
Michaelis Vasconcelos, que em seu “Cancioneiro da Ajuda” (1904) coloca D.Dinis
entre os melhores trovadores (v.II; p.45) e diz dele ser:
“o melhor e mais fecundo dos
poetas ahi representados, e ainda então, na mente de muitos, o primeiro que em
Hespanha metrificara em rima, à imitação dos Avernos e Lemosinos” (v.II; p.16).
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Fonte:
Ulisses Tadeu Vaz de Oliveira: “O fenhedor e o precador nas cantigas líricas galego-portuguesas de D.Dinis: uma perspectiva sistêmico-funcional”. (Dissertação apresentada em atendimento à exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem à Banca Julgadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Profª. Drª. Sumiko Nishitani Ikeda). São Paulo, 2007. Disponível em: http://www4.pucsp.br/
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