05/04/2014

Amanhã, de Abel Botelho

 Abel Botelho - Amanha - Iba Mendes
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O operariado e o anarquismo em Amanhã, de Abel Botelho

Pela enumeração exaustiva de eventos ocorridos em Lisboa em meados da década de 90, Amanhã possui indubitavelmente um imenso e diversificado valor documental: a progressiva implantação do movimento anarquista no seio da classe operária, através da publicação de periódicos ou da organização em rede de movimentos associativos e centros de propaganda; a presença de dois delegados da Internacional; o elevado número de greves associadas à indústria têxtil (cf. Fonseca 1976: 150-157); a realização do Congresso Católico Internacional, em Maio de 1895; o cortejo religioso do centenário de Santo António, a 29 de Junho, em cujo percurso são lançados panfletos subversivos a criticar o regime (cf. Valente 1976: 48); e a preparação de um atentado bombista, que levará Hintze Ribeiro a promulgar a “lei celerada” de 13 de Fevereiro de 1896.
[...]
Numa representação nua e crua, Abel Botelho aborda em Amanhã um dos momentos de maior conflito entre o operariado e o patronato em Portugal, e faz deste romance um retrato fidedigno da sórdida condição social dessas “vítimas da fome”, que, à semelhança do restante movimento internacional e tendo como lema a unidade do Trabalho contra o Capital, lutam pela sua emancipação, sem perder a esperança em conquistar melhores condições no dia de amanhã, uma palavra iniciada com a primeira letra do alfabeto e curiosamente contida no conhecido símbolo anarquista: “[...] haviam de partir agora, formidavelmente aprestados para a luta, os míseros e mesquinhos servos de ontem, transformados nos homens imperantes de amanhã!” (Botelho 1982: 500).

Para complicar este antagonismo político-social entre classes, germina uma relação amorosa entre Mateus e Adriana, filha do dono da fábrica onde trabalha como contramestre. No fim do enredo, Adriana vai a casa de Mateus para tentar dissuadi-lo dos seus propósitos; contudo, o protagonista, dividido entre o amor e os ideais utópicos, não encontra outra alternativa senão cometer - aparentemente - o suicídio, fazendo rebentar a bomba preparada para o cortejo religioso.

É, na verdade, um final pouco edificante para um herói revolucionário que desejava destruir todos os alicerces sociais, mas sem nunca apresentar uma solução viável. Por sua vez, Mateus era filho de um grande proprietário duriense, arruinado após a abolição dos morgadios e as confiscações miguelistas; a sua revolta não deriva, portanto, de razões altruístas, sendo apenas por motivos pessoais que vai ganhando um desprezo por toda a espécie de autoridade.

Neste sentido, e ao contrário de Próspero Fortuna, onde é feita a apologia do regime republicano, Amanhã não se apresenta como um romance de tese libertária: Abel Botelho foi sempre um patriota, uma peculiaridade desenquadrada da índole anarquista ou internacionalista, motivo que nos faz regressar à nossa epígrafe inicial, extraída de um artigo escrito em 1895 por Raul Brandão, onde este autor reflete sobre a ineficácia desta ideologia: “Porque o anarchismo pode mudar as coisas, mas não pode raspar a lepra da alma humana.”

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Fonte:
António Martins Gomes: “O operariado e o anarquismo em Amanhã, de Abel Botelho”. Revista UBILETRAS nº 4. Disponível em: http://ubiletras.ubi.pt/

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