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Fonte:
Rita de Cássia Azevedo Ferreira de Vasconcelos: “República sim, escravidão não: O Republicanismo de José do Patrocínio e sua vivência na República”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense. Mestrado em História Contemporânea I na Universidade Federal Fluminense. Orientador: Prof. Dr. Humberto Fernandes Machado). Niterói, 2011.
José do Patrocínio: “... o último negro vendido do Brasil ...”
No ano de 1881, durante a
apresentação de Quintino Bocaiúva a candidato a deputado da Corte, na Assembléia
Geral do Partido Republicano, ocorreu uma interessante discussão entre
Patrocínio e Bocaiúva. O candidato Bocaiúva se apresentou “como reformador e
propagandista” que “está e pretende ficar no terreno da evolução social
repudiando absolutamente todo e qualquer apelo à revolução material.” José do Patrocínio
provocou Bocaiúva pedindo que explicasse melhor “as idéias do partido” pois
muita “coisa poderia passar por idéia do partido, não o sendo”. O candidato republicano
retrucou ao afirmar que nenhum partido escolheria um candidato que não soubesse
das suas idéias, e no fim respondeu que o Manifesto publicado em dezembro de
1870 era a base do partido.
Encerrado este ponto da
discussão, Bocaiúva fez questão de trazer à tona a problemática da abolição da
escravidão por “saber ser o pensamento dominante do amigo que o interrompe”.
Afirmou que esta reforma social é uma causa nobre e que “não admitia a idéia da
república ligada à idéia da escravidão.” Mas, pediu cautela aos abolicionistas
pois a forma como estava sendo desencadeada a campanha abolicionista poderia
trazer sérios riscos à nação.
“Como republicano é e não pode
deixar de ser abolicionista”, afirmou Bocaiúva na ocasião, acusando, por sua
vez, Patrocínio de ser antes abolicionista que republicano, e é neste ponto que
estava instalada a divergência – o que deveria vir primeiro, a abolição ou a
república?-. Segundo Quintino Bocaiúva a abolição era uma preocupação dos
republicanos. A polêmica com os abolicionistas era “somente quanto à ocasião e modo
de efetuar-se essa importante e necessária reforma.” No momento caloroso da discussão
Patrocínio afirmou: “ Se o partido republicano quer fazer aliança com os Senhores
de escravos, nós outros havemos de fazê-la até com o imperador.”
Patrocínio acusava Bocaiúva de
querer contemporizar com a escravidão, de vê-la como necessária para o país,
contrariando a tradição republicana que sempre combatera a escravidão.
Bocaiúva, por sua vez, alegava que a emoção, tão presente nos discursos abolicionista
de Patrocínio, não era o caminho para resolver o problema da escravidão.
No fim da discussão Patrocínio conclui.
“Voto no Sr. Quintino Bocaiúva, como republicano; mas desde já reservo-me o
direito de combate-lo na tribuna do parlamento se repetir estas palavras que
aqui proferiu.”
A querela entre abolicionistas e
republicanos esteve presente na década de 1870 e percorreu os anos finais de
1880 e é neste cenário de disputa de projetos sociais e políticos que devemos
compreender as ações de Patrocínio qualificadas, por muitos da sua época, como
contraditórias e imprevisíveis. Um momento claro de distanciamento entre
republicanos e abolicionistas ocorreu durante as comemorações da abolição na província
do Amazonas, no ano de 1884, quando o Clube Republicano Tiradentes pediu
afastamento da Confederação
Abolicionista.
O Clube Republicano Tiradentes
alegou, no seu afastamento, divergência diante da “attitude que os
republicanos, que fazem parte da Confederação tomaram diante dos últimos
acontecimentos políticos. Attitude que o Clube considera desproveitosa para causa
republicana.”.
Que atitude é esta? Possivelmente
o apoio da Confederação Abolicionista ao Gabinete liberal de Sousa Dantas. O
jornal Gazeta da Tarde, de José do Patrocínio, respondeu da seguinte forma a questão:
Se a República, que se quer
fundar no Brasil, pretende se limitar a escrever um programa e a deixar perdurar
todos os erros sociais, contra os quais ela se insurge, melhor é deixar-nos ficar
como estamos, porque ao menos a monarquia vai procurando mascarar diante da
América e do mundo a nossa vergonha. O manifesto é uma offensa a sinceridade de
alguns dos co-religionarios do Clube Tiradentes, é um erro politico, filho não sabemos
da que causas secretas [...]
Em 1887, quando Quintino Bocaiúva
se candidatou a deputado da Corte, este buscou apoio político junto à
Confederação Abolicionista. A Confederação, por sua vez e por ironia do destino
era quem agora desejava afastamento do Partido Republicano ao conjeturar momento
propício à realização da abolição, decidindo, então, apoiar a candidatura do
conservador Ferreira Viana. Para a Confederação a causa abolicionista estava
fora de qualquer interesse partidário, principalmente depois que “nenhum dos partidos
quis encarregar-se della”. Atemorizados pela complexidade que era a questão servil,
“cada um desertou dos seus compromissos históricos para com os escravos”.
Assim, “reconhecido que um
ministro vem servir com sinceridade à abolição” é o dever de todos “aqueles que
querem a abolição immediata sem indemnização é votar no ministro”. A idéia passada
pela Confederação Abolicionista era que todos os abolicionistas deveriam votar em
Ferreira Viana como uma forma de mostrar ao governo a urgência da abolição e o
quanto ela era desejada pela nação.
Nenhum abolicionista sincero pode
deixar de votar no ministro candidato. Não devendo os abolicionistas republicanos,
ainda [..], trhair os alliados monarchistas da véspera, na hora da vitória da
causa, obtida por esforços communs [...]. Primeiro honra-lhes pela a selecção do
problema servil do da fórma de governo. Segundo: a previsão política lhes
aconselha não offerecer pretexto, e o mais justificado, por que a prudência governamental
demore a extincção definitiva do captiveiro.”
A Confederação aproveitou para
fazer uma campanha contra a candidatura de Quintino Bocaiúva relacionando-o a
um eleitorado escravista.
Sob o ponto de vista histórico e social
que há de responder o republicanismo quando apresenta candidato para receber
suffragio do escravismo em favor da republica, ao passo que a monarchia se sujeita-se
à ameaça da condemnação perpetua em nome e em serviço da liberdade?
O jornalista José do Patrocínio além
de publicar em primeira página este manifesto também assinou como membro orador
da Confederação, ratificando o posicionamento da instituição abolicionista.
Se para Patrocínio a prioridade
era a abolição para Quintino era a república. A disputa intelectual tornou-se mais
evidente na discussão escravidão e abolição. Em artigo publicado no dia 19 de
março de 1888 o abolicionista Patrocínio dirigiu sua crítica aos partidos
acusando-os de nunca terem feito da “... abolição o seu programa de
ação...”, mas de a utilizarem
como arma de oposição ao partido que então dominava o Gabinete do Conselho de Ministro.
Segundo Patrocínio “republicanos, liberais, conservadores são igualmente réus do
crime do roubo de almas, como o Canning chamou à escravidão.”
A sua estratégia era apresentar o
maquineísmo dos partidos, diante do abolicionismo, para justificar a ação do Poder
Moderador, exercida pela Regente Isabel, que acabava por estabelecer um novo
Gabinete chefiado por João Alfredo. Patrocínio demonstrou seu apoio à nova
situação política totalmente favorável a uma revolução, pois segundo a sua
visão se concretizava, com João Alfredo e a Princesa Isabel, uma aiança entre o
soberano e o povo. E por fim, concluíu: “A idéia da libertação da escravatura é
grande demais para se enquadrar nos estritos moldes dos partidos atuais do Brasil
[...] A extinção da escravidão é uma idéia nacional, pertence ao povo brasileiro.”
Com a assinatura da Lei Áurea, Patrocínio
deixou explícito em seu jornal, Cidade do Rio, e em diversas festas, das quais
participou em comemoração à assinatura da “Lei Emancipadora”, o seu
agradecimento ao Gabinete João Alfredo e à Princesa, chamando-a de Redentora. A
sua gratidão à Princesa Isabel foi para os republicanos um ato imperdoável,
acusando-o de defensor da monarquia, ou seja, um traidor.
No dia 14 de setembro de 1888, Patrocínio
escreveu um artigo, intitulado Respondo..., onde justificava a sua posição de
elogios e aproximação à Princesa nos momentos finais da abolição. O jornalista
culpou os próprios representantes do partido republicano de São Paulo e do Rio de
Janeiro por esta aproximação, já que estes contaram com adesões de fazendeiros
defensores da escravidão que pleiteavam uma indenização do governo devido à
abolição. Afirmou ser seu principal objetivo acabar com a escravidão, e mesmo sendo
“republicano revolucionário” apoiava a Princesa 136 Cidade do Rio, 19 de março
de 1888.
Isabel e o Gabinete 10 de Março
por terem decretado a abolição. Uma vez que, “Partido Republicano negou-se a
deixar aferir a sua bandeira pelos sentimentos abolicionistas.”
Qual é mais digno, beijar a mão
da senhora que levantou uma raça ao ponto de o sr. Silva Jardim já a considerar
capaz de poder presidir a República,[...]; ou apoiar-se na fortuna e no ódio
dos escravistas para subir às altas posições do Estado? Há no meu procedimento uma
contradição e eu não contesto. Quem é responsável, porém, eu ou o Partido Republicano?
[...] Os republicanos não assumiam a responsabilidade da propaganda abolicionista;
a princesa não se arreceava de tomar patentes, públicos os seus desejos de ver
extinta a escravidão.
Patrocínio viu no Partido
Republicano do Rio de Janeiro e de São Paulo partidos de escravocratas
interessados na indenização. E afirmou em artigo publicado no dia 18 de junho
de 1888.
Este pedido de indemnisação, de auxílios
a lavoura, de bancos de emissão, essa lenga-lenga do venha nós dos cofres públicos,
demonstra o que sempre dizemos: que a escravidão havia convertido o governo
brasile no socialismo o mais torpe, porque se resumia no roubo do paiz inteiro
em beneficio de uma classe: a lavoura. [...] Os clubs neo-republicanos são os mesmos
clubs de lavoura da escravidão. O tom, a ameaça são os mesmos. ( destaque dado
pelo autor)
O Terceiro Reinado representava
para José do Patrocínio o governo do povo, uma vez que a abolição do trabalho
escravo evidenciava a relação harmoniosa entre o governo e a vontade do povo.
“Sua alteza sentindo que o povo desejava a abolição e que tinha no governo
homens que a queriam também, embarcou-se resolutamente na galera que devia
aventurar-se aos mares desconhecidos do futuro.” Sim, Patrocínio defendeu o Terceiro
Reinado, porque este governo seria da Princesa Isabel o que para ele representava
a continuidade das reformas sociais. A forma de governo, Monarquia vinha atrelada
à pessoa, e não o inverso, que é um entendimento completamente diferente.
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Fonte:
Rita de Cássia Azevedo Ferreira de Vasconcelos: “República sim, escravidão não: O Republicanismo de José do Patrocínio e sua vivência na República”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense. Mestrado em História Contemporânea I na Universidade Federal Fluminense. Orientador: Prof. Dr. Humberto Fernandes Machado). Niterói, 2011.
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