15/03/2014

Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga

 Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga
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Morte como gênese do mito Marília de Dirceu

Após inúmeras leituras das fontes utilizadas para o presente trabalho – bibliografia, viajantes, jornais e imagens – nos perguntávamos onde estaria a gênese do mito de Marília?

Que documentos ou acontecimentos poderiam ter determinado o processo de formação ou de consolidação do mito que investigamos?

O livro de poemas Marília de Dirceu escrito por Tomás Antônio Gonzaga é, sem dúvida, a pedra fundamental da existência da imagem de Marília. Por narrar o amor de Dirceu por sua musa Marília, o livro é a ponta inicial desse processo que nos leva ao mito como conhecemos hoje. Mas trata-se de obra literária que, segundo pesquisadores, tanto da história quanto da literatura, mescla fatos reais e ficção. Quanto de cada parte e quais deles seriam fatos ou ficção é impossível determinar e não é esse o objetivo. Um mito é constituído de matéria volátil. Qualquer um, desde os mitos da antiguidade até os contemporâneos. Quanto menos se pode determinar sobre ele e quanto mais especulações sem possibilidade de comprovação existem em torno de um mito, mais sua chama parece crescer e se espalhar.

A imagem de Marília encontrada em livros, jornais e mesmo em ilustrações criadas para Marília e Dirceu é a do casal apaixonado e que depois de separado viveu de lembranças de um amor frustrado, uma perda ocorrida por circunstâncias maiores, a Inconfidência Mineira, inerente ao desejo cantado em versos de permanecerem juntos. Um desejo sinalizado pela tópica do amor impossível, trágico como em diversos outros casais da história e da literatura universal. Como Penélope e Ulisses durante a Guerra de Tróia narrada na Odisséia de Homero, os casais de histórias ou lendas medievais, como Tristão e Isolda e Abelardo e Heloísa ou ainda Pedro e Inês de Castro em Portugal no século XIV, aquela que depois de morta foi rainha, tão conhecida das histórias míticas portuguesas que fez parte de temas e versos inclusive de Camões e de Fernando Pessoa. Da mesma forma, inúmeros autores brasileiros já se detiveram ao tema e à memória do casal Marília e Dirceu como a versão brasileira para um modelo romântico universal, a tópica do amor que espera ou do amor impossível.

Mas, a morte parece reacender a notoriedade de um mito. É como o fechamento definitivo de uma trajetória pessoal a partir da qual se pode, enfim, recolher e juntar as pontas que estavam soltas e recontar a versão mítica ou popularizada de uma história. No caso, as circunstâncias da morte de Marília a elevam e a cristalizam como a musa que se preservou e se dedicou ao seu amor até a morte em idade avançada na mesma cidade que foi palco da Inconfidência Mineira.


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Fonte:
Ana Cristina Magalhães Jardim: “De “Marília de Dirceu” ao “Romanceiro da Inconfidência” a construção de um mito na sociedade brasileira a partir do século XVIII”. Fundação Biblioteca Nacional - Ministério da Cultura - Programa Nacional de Apoio à Pesquisa, 2009, disponível em: http://www.bn.br/

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