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Luzia-Homem: “uma faca
só lâmina”
Ao
escreveres um poema
Não dês
demasiada importância às palavras.
No
poema, as palavras
Não
existem verdadeiramente,
Não têm
existência de fato.
No
poema, as palavras
Não têm
consistência, nem são sensíveis ao
tacto.
Jorge Viegas
Luzia-Homem é um romance da segunda metade do século XIX ainda pouco estudado, comparando com outros da mesma época.
Dele também existem poucas versões criadas para o cinema. Uma delas é a de
1984, classificada pelas locadoras como pertencente ao gênero drama. O filme
tem o mesmo título do romance, com Claudia Ohana, como Luzia, a protagonista.
A sinopse
do filme pode ser apresentada como uma história de uma mulher que está dividida
entre o amor e a vingança. Ela presencia o assassinato dos pais quando criança
e a partir daí é criada por um senhor, com o qual adota os costumes masculinos
de vaqueiros no sertão. Depois, com mais
idade, sai à procura de vingar seus pais.
Luzia-Homem, como romance, é uma narrativa ficcional e segundo Saer (1991,
p.02), se escrevem ficções “para pôr em evidência o caráter complexo da situação,
caráter complexo de que o tratamento limitado ao verificável implica uma
redução abusiva e um empobrecimento”. Na literatura a ficção é uma das características
da obra literária e demonstra uma interpretação subjetiva da realidade na visão
do autor. Toda essa narrativa é construída a partir de elementos da realidade
empírica, que é onde está inserido o escritor, junto a elementos de sua
fantasia.
No romance, a protagonista
Luzia enfrenta a seca e trabalha muito para poder sustentar sua mãe doente. Elas
contam com a amizade de Alexandre, que no decorrer da história declara seu amor
a Luzia. Devido a evitar esse possível relacionamento, Crapiúna, soldado sem
escrúpulos, não mede esforços em suas artimanhas. Seus planos são descobertos por
Teresinha, que demonstra grande amizade a Luzia, e ele é entregue para os
policiais. Não se dando por vencido, Crapiúna foge da cadeia e vai se vingar de
todos, mas o final é trágico para ele também, que após matar Luzia, cai no
penhasco devido a dor e a falta da visão, pois ela ao lutar, arranca seu olho.
Esse é o romance que nos
propomos a ler sob as lentes das teorias de Rancière, visto que toda reflexão desta
dissertação está ligada ao que a Partilha do Sensível, de Rancière
(2005) nos proporciona. Nessa obra, a partilha do sensível é apresentada como a
maneira que a filosofia ou a literatura, a estética ou a história constituem
seus discursos. Essa ótica do autor consegue mais respaldo após termos visto os
seus argumentos contra a visão do naturalismo como seguidor das regras da
mimese e os argumentos de vários autores que o consideram seguidor.
O foco narrativo do romance
Luzia-Homem está na terceira pessoa, contando com a objetividade de Olímpio, que é um
narrador onisciente, pois cria toda a história narrada, inclusive os pensamentos
e sentimentos dos personagens. Escrever sobre o autor Domingos Olímpio é algo perigoso, porque quem conhece a obra Luzia-Homem
tem o desejo de por muitos dados
sobre o autor, porém cai no fator da “ausência de fontes de pesquisa”. Nas pesquisas
sobre o naturalismo muito se fala da biografia dos autores que marcaram a
história na segunda metade do século XIX, mas
pouco está relacionado a Domingos Olímpio.
O autor cearense,
DOMINGOS OLÍMPIO Braga Cavalcanti (1850-1906)”, segundo
Massaud (2001, p.74):
Nasceu em Sobral
(Ceará) a 18 de setembro de 1850. Formou-se em direito pela Faculdade de Recife
(1873). Depois de algum tempo no Ceará, transferiu-se para Belém (Pará), em 1879,
onde se dedicou ao jornalismo, à advocacia e à política. Republicano e abolicionista
convicto, nessa altura redigiu uma série de contos que esperava reunir em volume. Mudando-se para
o Rio de Janeiro em 1891, continuou na atividade jornalística, e no ano seguinte integrou uma comissão
diplomática em Washington. Em
1903, publicou Luzia- Homem, e entre 1904 e 1906 estampou na revista Anais, que acabara de fundar, o romance O
Almirante e vários capítulos de outra narrativa, O Uirapuru. Faleceu na então capital
Federal, deixando inéditos contos e peças teatrais, a 06 de outubro de 1906.
Esses são
dados rápidos da vida e obras de Olímpio. O fato de ele ter nascido em Sobral e
escrito o livro sobre a mesma cidade natal, será analisado no decorrer deste
texto. Neste momento, vamos conhecer brevemente sua vida política e profissional.
Nas informações dadas por Merquior (1979,
p.117), Domingos Olímpio:
Ligou-se ao
grupo positivista de Capistrano de Abreu e Araripe Junior. Promotor público em sua cidade nativa, Sobral, lançou-se
na imprensa política, chocando-se com os “donos” do Ceará da época. Transferindo-se
para Belém, lá fez campanha pelo
abolicionismo e pela República. Com o novo regime, passou para o Rio, trabalhando
como advogado e jornalista, e integrou a delegação que, sob a chefia do Rio Branco, defendeu o Brasil na questão
das Missões.
Uma pessoa que participou ativamente
de todos esses fatos citados por Merquior, não foi alguém que apenas passou pela vida, mas que sem
dúvida ajudou a construir uma história brasileira melhor. Mesmo participando de
tantos cargos e atividades revolucionárias, Olímpio conseguiu tempo para a literatura.
No total das obras temos: Romances: Luzia-Homem
(1903), O Negro, O Uirapuru, Almirante. Peças de teatro: A Perdição (1874), Rochedos que Choram,
Túnica Nessus, Tântalo, Um Par de Galhetas, Os Maçons
e o Bispo, Domitila. Outros: História
da Missão Especial de Washington, relato; A Questão do Acre, história; A Loucura
na Política, biografia. Algumas de suas obras não haviam sido publicadas
quando faleceu.
Quanto à carreira
profissional, Coutinho (2001) cita que Olímpio:
Exerceu a
atividade jornalística no Rio de Janeiro, em periódicos como O Comércio,
Jornal do Comércio, Correio do Povo, Cidade do Rio, Gazeta
de Notícias e O País. Dirigiu o periódico Os Anais, semanário que contou com a colaboração de
muitos escritores brasileiros e portugueses. (...) Apresentou candidatura para a
Academia Brasileira de Letras,
mas foi derrotado pelo poeta Mário de Alencar, filho do romancista cearense José de Alencar, tendo contado
apenas com o apoio de Olavo Bilac,
que faria um elogioso necrológio de Domingos Olímpio, ou Pojucã, um de seus
pseudônimos.
Para Oliveira Junior (2007, p.21), Domingos
Olímpio “sofre de um injurioso infortúnio crítico, fato que o tem condenado à
situação de indigência intelectual”. Muitas de suas produções ainda não foram encadernadas
e continuam desconhecidas pelos leitores. A popularidade
de seu melhor romance, Luzia-Homem é o que “o salva do ostracismo – e paradoxalmente amplifica o silêncio em torno
de seu nome”. Infelizmente, mesmo com a popularidade do romance, o autor não
conseguiu fazer parte da Academia Brasileira de Letras, como já afirmou
Coutinho (2001), mas quanto a Academia Cearense de Letras, foi de muito merecimento Domingos Olímpio, o autor de Luzia-Homem,
ser “Patrono da Cadeira no. oito”. Há no romance Luzia-Homem, que
Domingos Olímpio publicou em 1903, uma demonstração de admiração por parte do narrador
à paisagem de Sobral. Isso é muito bem expressado nas primeiras frases do
texto: “O Morro do Curral do Açougue emergia em suave declive da campinha
ondulada.” (OLÍMPIO, 1993, p.17). O autor demonstra carinho quando escreve essa frase para iniciar sua
história e também demonstra sua inclinação aos preceitos românticos.
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Fonte:
Marta Bergamin: “Luzia-Homem só lâmina: uma leitura do romance de Domingos Olímpio (1903)”. (Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Ciências da Linguagem da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências da Linguagem. Orientador: Prof. Dr. Antônio Carlos Gonçalves dos Santos). Palhoça, 2010.
Fonte:
Marta Bergamin: “Luzia-Homem só lâmina: uma leitura do romance de Domingos Olímpio (1903)”. (Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Ciências da Linguagem da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências da Linguagem. Orientador: Prof. Dr. Antônio Carlos Gonçalves dos Santos). Palhoça, 2010.
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